Em Londres, sob forte pressão da justiça e da oposição trabalhista, por causa das festas que deu em tempo de pandemia da Covid-19, o primeiro-ministro conservador, Boris Johnson, deu ordens claras a todo o seu Governo para apontar baterias à Rússia a propósito da possibilidade de uso de armas químicas, ameaçando Moscovo de uma resposta mais forte que nunca do ocidente, mesmo que o próprio Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tenha dito que não podia confirmar o uso de armas químicas no seu país.
Para diluir a pressão interna a que está sujeito, depois de lhe ter sido aplicada uma multa, e a outros membros do seu gabinete, por participação e organização de festas na sua residência oficial em tempo de confinamento devido à Covid-19, quando estas eram estritamente proibidas, o que levou a oposição a pedir a sua imediata demissão, Boris Johnson fez o que tantos outros lideres fazem quando se encontram nestas situações: procura desviar as atenções na frente de batalha ucraniana.
Mas o 49º dia de guerra, a contar de 24 de Fevereiro, quando as forças russas avançaram sobre o território ucraniano, sob a justificação de que visavam a defesa das populações russófilas do Donbass, repúblicas independentistas de Donetsk e Lugansk, a desnazificação do país vizinho e para garantir que Kiev se mantinha fora da NATO e com estatuto de país neutral, está a ser marcado pela captura de mais de 1.200 soldados ucranianos e mercenários de países europeus, desde logo do Reino Unido, pelas forças russas, que tomaram por completo a cidade portuária do Mar de Azov de Mariupol, que estava a ser defendida pelo Batalhão Azov, de génese nazi-fascista.
E foi em Mariupol que um dos lideres do Batalhão Azov divulgou um vídeo onde acusa a Rússia de ter usado armas químicas, o que foi negado rapidamente por Moscovo, e que tanto o Governo de Kiev como o próprio Pentágono norte-americano não confirmaram, tendo, no entanto, o Presidente Joe Biden aproveitado para vir a pública "largar" mais uma declaração bombástica, acusando a Rússia de genocídio na Ucrânia, termo que usou pela primeira vez, mesmo que as organizações internacionais e países como a França ou o Reino Unido afirmem que essa acusação é excessiva, embora reconheçam crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
Face a este subir de tom no que respeita à questão das armas químicas e biológicas, tema que foi, primeiro, lançado pela Rússia, que acusou os EUA de manterem, ao longo de anos, laboratórios de armas químicas e biológicas experimentais na Ucrânia, com os países ocidentais a reverterem agora as acusações, com forte repercussão mediática nos media ocidentais, Moscovo optou por fazer um aviso sério a Washington: "Parem de espalhar falsa informação".
A partir da sua embaixada na capital norte-americana, a Rússia, depois de avisar para que fosse travado esse tipo de acusações, disse que os EUA e aliados ocidentais estão de forma propositada a espalhar "mentiras" porque estão na posse de informação de que isso não é verdade.
E advertiu para a existência de planos entre os radicais nacionalistas ucranianos para criar "provocações" através do uso de armas proibidas contra a sua própria população de forma a culpar a Rússia paa aumentar a pressão internacional.
No terreno, com a rendição do Batalhão Azov, pelo que se sabe, todos os membros que dele restavam, na cidade de Mariupol, e com deslocação das forças que estavam a cercar Kiev para a região leste, onde, acabaram por completar o cerco, segundo analistas militares, às cerca de 60 mil tropas ucranianas posicionadas entre o Rio Dniepre, que atravessa ao país, e o Donbass, a ofensiva russa parece estar agora a recuperar algum fulgor perdido, estando mesmo, segundo Zelensky, a ser preparada a mais pujante ofensiva de Moscovo nesta região.
Isso parece coincidir com as perspectivas de alguns analistas militares que apontam como objectivo imediato de Vladimir Putin conseguir uma vitória total ou parcial para poder vangloriar-se disso mesmo quando comemorar o Dia da Vitória, a 09 de Maio, em Moscovo, na tradicional gigantesca parada militar que celebra o triunfo soviético sobre a Alemanha nazi de Adolf Hitler, em 1945.
E para emoldurar esse momento, o Presidente russo disse, na terça-feira, esteve com o seu homólogo e aliado bielorusso, Alexander Lukashenko, no cosmódromo da Vostochny, onde adiantou, confrontado com as sanções a que a Rússia está a ser sujeita por parte dos países ocidentais, que Moscovo tem apenas "objectivos nobres" nesta operação militar na Ucrânia.
Sobre o conflito na Ucrânia, que começou a 24 de Fevereiro com o avanço das forças sob seu comando sobre a Ucrânia, Putin sublinhou que tal confronto era uma inevitabilidade "u uma questão de tempo", face ao crescente pendor nazi-fascista da governação ucraniana.
O senhor do Kremlin apontou, numa breve conversa com jornalistas, já no cosmódromo de Vostochny, na região de Amur, situada no extremo leste russo, e um centro estratégico da indústria aeroespacial do país, onde Moscovo pretende concentrar a sua actividade do sector e diluir a dependência de Baykonur, no Cazaquistão, que esta guerra resultou de um longo processo de transformação da Ucrânia num "centro anti-Rússia" com base em ideologias nazis e fascistas plantadas estratégica e intencionalmente.
Citado pelos media russos a partir da TASS, Vladimir Putin acrescentou, nesta curta conversa, que se sabia há muito tempo que esta guerra iria ter lugar porque essa "base nazi e anti-russa não podia deixar-se em crescimento tão próximo da Rússia", sendo, por isso, "uma clara questão de quando e não se teria lugar".
E disse ainda que todos os "nobres e facilmente compreendidos" objectivos "vão ser alcançados" no fim da denominada operação militar especial, designação oficial da invasão da Ucrânia, que passa por garantir apoio total às repúblicas independentes do Donbass, Donetsk e Lugansk, garantindo ao mesmo tempo "a segurança da própria russa".
Contexto da guerra na Ucrânia
A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.
Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.
Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.
Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo.
Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país.
Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.
Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas der fora o sector energético, gás natural e petróleo...
Milhares de mortos e feridos e mais de 4 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.
O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.