Uma votação é esperada para as próximas horas e, apesar de a AG da ONU não ter capacidade de aprovar documentos vinculatórios, como tem o seu Conselho de Segurança, que na semana passada votou uma moção similar que escorregou no veto russo e nas abstenções da China e da Índia, esta deve mostrar uma Rússia mais isolada que nunca.
O embaixador da União Europeia Olof Skoog, subiu à tribuna para dizer ao mundo que esta AG extraordinária "e histórica" tem por objectivo de mostrar o repúdio global pela tragédia que decorre em solo ucraniano, pedindo "acção" agora para que gerações inteiras pague o preço da inacção do mundo face a uma tragédia que ocorre à frente dos olhos dos lideres mundiais.
Também o embaixador ucraniano, Sergiy Kyslytsya, seguiu o mesmo diapasão, apontando o dedo acusatório à Rússia e pedindo uma condenção global à invasão do seu país, conforme consta a resolução que deve ser votada nas próximas horas nesta AG, que é normalmente, apesar de rara, convocada quando o Conselho de Segurança encrava no veto de um dos cinco países com direito a ele, Rússia, EUA, China, França e Reino Unido, sendo que a norma tem sido os EUA vetarem todas as propostas defendidas pela Rússia e o inverso é igualmente aplicado por norma.
Pelo menos 100 países pediram para falar nesta AG especial e a votação final pode ser retardada por esse facto, mas o conteúdo da resolução deve passar com larga margem, onde é pedida a retirada das tropas russas, um imediato cessar-fogo...
Nesta assembleia, o representante russo, Vassily Nebenzia, insisiu igualmente no argumentário que tem servido a Moscovo para justificar o avanço, que é, no essencial, que se trata de uma operação especial e não uma invasão, que a Rússia não pretende ocupar a Ucrânia, que o objectivo é travar o genocídio das repúblicas do Donbass, Donetsk e Lugansk, pelas forças ucranianas, e, no que parece consensualmente como o mais relevante ponto, garantir a desmilitarização do país e que a Ucrânia dê garantias de que nunca entrará na NATO.
A questão da NATO é essencial para Moscovo porque, segundo Vladimir Putin, a integração dos países do leste na Aliança Atlântica é uma "ameaça directa a segurança vital da Rússia" e a Ucrânia é "uma linha vermelha inegociável".
Face a esta resposta internacional, desde as sanções ao envio de material militar para as forças armadas ucranianas pelos UA e países europeus, Putin mandou colocar o seu sistema de defesa estratégico nuclear em alerta máximo, elevando para um patamar de alerta vermelho este conflito, que, apesar de estar a ser visto como um gesto táctico por Moscovo neste xadrez, o facto é que o mundo não se deparava com uma situação como esta há muitas décadas, sendo historicamente um marco o fim da Guerra Fria, no início da década de 1990.
A China, por sua vez, que tem mostrado uma posição mais aveludada com a posição russa, levou a esta AG, pela voz do seu embaixador, Zhang Jun, uma tentativa de serenar dos ânimos, lembrando que a Guerra Ftia "acabou há muito tempo" e a sua "mentalidade de blocos em confronto deve ser esquecida" porque "ninguém ganha nada com o regresso dessa lógica e todos perdem com isso".
O diplomata chinês lembrou a posição oficial de Pequim que passa por lembrar que a soberania territorial de "todos os países" deve ser respeitada.
O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página, inclusive as suas consequências económicas, como o impacto no negócio global do petróleo.