O sinal de alarme foi dado na segunda-feira, quando se soube, através da análise às centenas de documentos secretos tirados do Pentágono e expostos nas redes sociais que os EUA mantinham um esquema de espionagem aos movimentos do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, mas a corda rebentou mesmo depois de o Governo sul-coreano, um dos mais importantes, senão o mais relevante aliados de Washington na Ásia, veio a público exigir um pedido de desculpas formal ao Governo de Joe Biden e deixar um aviso veemente para que não volte a acontecer.
Face a este contexto de grande melindre para os Estados Unidos, onde o Presidente Biden já lida com extremas dificuldades económicas, especialmente uma inflação historicamente alta, o que pode comprometer as suas aspirações a um segundo mandato na Casa Branca nas eleições presidenciais de Novembro de 2024, com este episódio dos documentos "top secret" esse imbróglio ganhou novas proporções e uma dinâmica que alguns analistas admitem que está ainda a começar a ser conhecida.
Como sucede sempre que graves crises ocorrem, a Casa Branca manda reunir os mais próximos do Presidente para uma sala de crise de forma a preparar uma reacção que minimize o impacto dessa mesma crise, e isso é o que está agora a acontecer, segundo o Poiitico, um dos mais importantes media na cobertura da política norte-americana, porque não estão a conseguir estancar as críticas e as questões feitas diariamente por aliados dos EUA.
Como vai Joe Biden acalmar os governos aliados depois de terem sido expostos os documentos que comprovam que as secretas vigiam de perto alguns dos principais "amigos" dos Estados Unidos, é a questão que o Politico reporta esta terça-feira, sendo uma das respostas já definida é pressionar as administrações das empresas que detém as redes sociais em questão a retirar os documentos de circulação e pressionar os media amigos para evitarem o assunto...
O efeito tem sido o contrário ao pretendido, porque as primeiras versões impingidas nos comentadores pró-americanos ocidentais, nomeadamente que tinha sido a Rússia a roubar os documentos e que estes tinham sido adulterados para expor fragilidades ocidentais e especialmente do lado ucraniano, saíram pela culatra quando se soube que, afinal, estes documentos só chegaram ao Twitter e ao Telegram onde The New York Times os foi buscar para as suas páginas, depois de um mês expostos à vista de toda a gente na rede de chat Discord, com menos visibilidade que as outras redes sociais.
Depois de um primeiro impulso para negar a veracidade dos documentos, o Pentágono optou por ir retardando o assunto ao dizer que estes estavam a ser investigados para aferir da sua veracidade, o que os analistas depressa desmontaram porque basta ir aos arquivos ver se os dados encaixam, considerando que se trata de fotografias e não dos documentos efectivos o que chegou às redes sociais e ao NYT.
Uma das informações mais melindrosas expostas nestes documentos é, a par da vigilância a que os EUA sujeitam os seus aliados, mesmo os mais próximos, os números das baixas ucranianas e russas na guerra do leste europeu.
Isto, porque as secretas ocidentais, lideradas pelas norte-americanas, têm dito em uníssono que os russos estão a perder muitos mais soldados na guerra que os ucranianos, na ordem dos 200 mil, quando agora se ficou a saber que os russos perderam até agora menos de 17 mil enquanto os ucranianos mortos em combate superam os 70 mil, tendo Washington procurado sublinhar a ideia de que estes foram adulterados para fazer crer que as perdas russas são muito menores que a realidade.
No entanto, vários media norte-americanos, incluindo The New York Times e Politico, citam fontes do Pentágono e da Casa Branca anónimas para reforçarem a ideia de que os docs são reais e expõem as fragilidades da segurança nas secretas da maior potência militar do mundo.
Do lado russo, o porta-voz do Kremlin, Dmitro Peskov, já veio dizer que a culpabilização dos russos tem sido um habito antigo ocidental, e reiterou que Moscovo não tem nada a ver com esta fuga dos arquivos secretos norte-americanos.
Estes documentos trouxeram à luz do dia ainda ouras revelações melindrosas para países terceiros, como o Egipto que, segundo o Pentágono, planeou a entrega de milhares de roquetes e munições para diversos tipos de artilharia à Rússia.
Esta informação foi recolhida depois de espiada uma conversa entre o Presidente do Egipto, Abdel Fatah al-Sisi e um dos seus comandantes militares, onde este é instruído para manter a produção e o envio para a Rússia secreto de forma a evitar problemas com os países ocidentais, o que, oficialmente, já foi negado pelo Cairo.