Este pacote de sanções, de longe o de maior impacto, porque incide directamente na principal fonte de receitas do Governo russo, que é a sua exportação de hidrocarbonetos, com as quais, só dos europeus, encaixa, diariamente, mais de 800 milhões USD, embora estas medidas, as mais duras desde o início do conflito, a 24 de Fevereiro, deixem de fora cerca de 25% das exportações para a Europa ocidental e a totalidade do gás, que é a principal fonte de receitas do sector energético do Kremlin.

Os europeus têm em cima da mesa, em permanência, com o empenho nesse sentido incansável da presidente da Comissão Europeia, Ursula Leyen, do chefe da diplomacia dos 27, Josep Borrell, e do presidente do Conselho, Charles Michel, alargar as sanções a todo o sector energético, embora com o gás seja mais complexo, porque atinge directamente o coração da economia europeia, que é a Alemanha, e, embora menos intensamente, outros países importantes, como a Itália, a Áustria, a França...

Entre as sanções, contribuindo para que este seja o mais severo pacote de sanções atirado contra o Kremlin, está ainda a expulsão do Sberbank, o maior banco russo, do sistema SWIFT, que permite uma agilidade inigualável nos pagamentos internacionais, e restrições pesadas a várias figuras do regime russo, incluindo o chefe da igreja ortodoxa e leal apoiante de Putin, Cirilo I, além da eliminação de mais media russos do universo mediático da UE.

A resposta do Kremlin

Estas novas sanções não apanharam o Kremlin de surpresa, que já tem vindo a procurar diluir o impacto de medidas coo esta agora anunciada tendo-se virado há largos meses para oriente, fornecendo milhões de barris de crude com fortes descontos, à China e a à Índia, havendo ainda um fluxo intensificado para outras potências asiáticas, que, em grande medida, amortece esta interrupção das exportações para a Europa Ocidental.

Apesar de esta medida do bloco dos 27 só estar previsto a ter efeito no final de 2022, os efeitos nos mercados foram imediatos e, segundo alguns analistas, enquanto a compra não é interrompida, o barril vai ser vendido muito acima do seu valor de antes do anúncio deste 6º pacote de sanções, beneficiando claramente os países exportadores - a Rússia é o 2º maior exportador do mundo -, o que pode permitir a Moscovo acomodar financeiramente as perdas esperadas para o pós embargo.

Sendo que os Estados-membros da UE têm agora pouco mais de meio ano para a difícil tarefa de encontrar fornecimento alternativo à matéria-prima russa, porque o mundo vive um período de afunilamento da produção devido aos fortes desinvestimentos na pesquisa e produção desde 2014, altura de forte perda de valor do barril de petróleo.

Com este cenário em pano de fundo, no qual sobressai o facto de a Rússia estar a receber entre 700 e 800 milhões USD por dia em receitas da venda de crude e de gás, o que poderá sofrer um rombo nos próximos meses com a aplicação deste embargo europeu, o Kremlin respondeu, segundo a agência de notícias oficial, a TASS, à UE através do seu representante para as organizações internacionais em Viena de Áustria, Mikhail Ulyanov, afirmando que esta decisão "mostra fragilidades no seio da União Europeia porque é uma contradição, e uma alteração súbita, com o que a presidente da Comissão Europeia vinha dizendo".

Numa nota publicada nas redes sociais, Ulyanov, ainda segundo a TASS, avisa os europeus do bloco dos 27 que a Rússia vai "encontrar novos importadores" para o seu crude, embora a maior parte dos analistas afirme que, esse redireccionamento das exportações possa reduzir o impacto esperado por Bruxelas, dificilmente fará esquecer os cerca de 750 milhões USD que são entregues, até aqui, diariamente pelos 27 a Moscovo.

Kiev quer mais

Apesar de se tratar do mais pesado pacote de sanções da UE à Rússia, o Governo de Kiev não está satisfeito e quer mais.

Segundo noticiam as agências internacionais, um dos conselheiros mais próximos do Presidente ucraniano, Ihor Zhovkva, "além de ficar aquém do necessário, as sanções europeias são demasiado lentas, o que é um sublinhado ao que Volodymyr Zelensky tinha dito na segunda-feira, entendendo este ser incompreensível como os europeus tardam tanto a chegar a um entendimento para a óbvia necessidade de apertar ainda mais com Moscovo.

Além disso, o Presidente ucraniano já veio dizer estar muito insatisfeito igualmente com os EUA porque Washington mantém um finca-pé sobre a entrega dos denominados lançadores múltiplos de roquetes, uma arma pesada que Kiev diz ser fundamental para travar os avanços russos na frente de batalha.

O Presidente dos EUA, Joe Biden, justificou esta embora ainda indefinida recusa com a possibilidade destas armas, devido ao seu longo alcance e poder de destruição, poderem ser usadas pelas forças ucranianas para atacar alvos no interior do território da Federação Russa, o que poderia levar a um alargamento perigoso do xadrez desde conflito.

Entretanto, na frente de batalha, as forças russas...

... estão praticamente a dominar por completo a cidade estratégica de Severodonetsk, o último reduto da resistência ucraniana na República Popular de Lugansk, cuja independência é apenas reconhecida por Moscovo, tal como a de Donetsk, no Donbass, leste ucraniano, com fronteira com a Rússia.

Estes avanços territoriais russos são já reconhecidos pelo Presidente ucraniano, que garante não ser ainda a derrota da resistência no Donbass mas admite que se trata de uma situação extremamente difícil.

E isso parece ser á evidente com a tomada desta cidade de Severrodonetsk que é o que sustem ainda menos de 5% do território de Lugansk por tomar pelas unidades de combate russas e das mílicias independentistas, o que, segundo a BBC, resultou do sucesso russo na penetração das linhas de defesa urbanas montadas pelas forças ucranianas.

O reforço da capacidade de combate de Moscovo

Sem que as autoridades militares russas o tenham desmentido, para a frente de combate, o Kremlin está a enviar largas dezenas de milhares de homens das unidades militares do centro e do oriente da Rússia, de forma a reforçar o poderio militar russo no Donbass, onde decorre aquela que os dois lados já admitiram que é a batalha decisiva, ou batalhas, desta guerra e que os especialistas miliares definem como sendo a expulsão das forças ucranianas das repúblicas independentistas de Donetsk e Lugansk, e a ligação terrestre entre o Donbass e a Península da Crimeia, o que daria a Moscovo o controlo sobre todo o Mar de Azov e uma boa parte do Mar Negro.

Segundo as informações disponíveis, e dependendo das fontes, do lado russo podem estar entre 120 e 160 mil militares em avanços lentos nas frentes de combate, com reforços permanentes vindo da Rússia, procurando, tanto de sul, como de Norte, avançar e cercar as entre 80 e 100 mil tropas ucranianas, que se concentram na frente do Donbass.

O foco das forças russas é não só expulsar os ucranianos das "suas" repúblicas do Donbass (Donetsk e Lugansk) como garantir que cortam a capacidade de os aliados de Kiev conseguirem fazer chegar o material militar, desde os mísseis anti-aéreos e anti-carro, Javelin e Stinger, às viaturas blindadas enviadas pelos EUA e aliados ocidentais, para o que estão a empregar centenas de mísseis de longo, médio e curto alcance, mas com forte precisão, como os M-54 Kalibr, que estão a ser disparados dos navios estacionados no Mar Negro e da Crimeia, e os 9K-720 Iskander, de menor alcance mas mais manobráveis porque podem ser deslocados em viaturas de rodas nas imediações do campo de batalha.

Com este armamento sofisticado, os russos estão a visar vias férreas, pontes e aeródromos ou mesmo aeroportos, como sucedeu na passada semana, em Odessa, onde o aeroporto desta que é uma das maiores cidades do país, foi parcialmente destruído porque ali estava armazenada grande quantidade de equipamento militar enviado do exterior pelos países da NATO.

Já os ucranianos, sem capacidade de acção aérea, procuram, através dos meios sofisticados que estão a receber dos seus aliados, com realce para os mísseis antiaéreo e anticarro Stinger e Javelin, cuja eficácia tem forçado as colunas russas a refrear os avanços, e que podem ser o factor de equilíbrio neste conflito, não só atrasar o avanço russo para os seus objectivos como ganhar tempo de forma a desgastar as forças russas a ponto de conseguir que o Kremlin aceite negociar de forma mais vantajosa para Kiev.

Os ucranianos estão, porém, a ser fornecidos diariamente também por artilharia pesada e carros de combate que permitem às suas unidades maior resistência ao avanço russo e, por vezes, recuperar território que estava já nas mãos das forças de Moscovo.

Nos últimos dias, as unidades de combate ucranianas retomaram a cidade de Kahrkiv, a apenas 50 kms da Rússia, no norte da Ucrânia, chegando mesmo à fronteira do país vizinho. No entanto, esta reconquista ucraniana pode não ter grande valor militar porque as forças russas, segundo alguns analistas, só permaneciam na cidade como forma de fixar forças ucranianas mantendo-as afastadas do foco principal da guerra, que é a região do Donbass.

Contexto da guerra na Ucrânia

A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.

Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.

Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.

Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO.

A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar paara a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da

Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.

Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.

Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.

Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas der fora o sector energético, gás natural e petróleo...

Milhares de mortos e feridos e mais de 4,5 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.

O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.