A guerra na Ucrânia entra esta madrugada no 7º dia e se as negociações que decorrem na Bielorrússia entre delegações enviadas por Moscovo e Kiev, com a segunda ronda a ter lugar esta noite de 02 de Março, não resultarem rapidamente num cessar-fogo que abra caminho à paz, adivinha-se uma escalada na violência com as forças russas a entrarem nas principais cidades ucranianas, desde logo a sua capital, que está cercada por largos milhares de tropas e viaturas de combate.
Um dos momentos mais fortes da vasta reacção internacional contra a Rússia, que já conta com o mais pesado pacote de sanções económicas algumas vez aplicado a um país, foi o discurso do Presidente dos EUA, Joe Biden, na noite de terça-feira, onde este não deixou os seus créditos por mãos alheias, ao centrar um intenso fogo de artilharia verbal no Kremlin, acusando Vladimir Putin de estar a tentar fazer colapsar a ordem mundial baseado na liberdade através da guerra, garantindo que apenas conseguiu "um isolamento internacional absoluto e do qual não estava à espera".
"O Presidente russo está a tentar abanar as fundações do mundo livre com uma premeditada e sem fundamento invasão de um país vizinho e democrático", disse Joe Biden aos congressistas num discurso televisionado para o mundo, que foi, segundo estão a avançar analistas citados pelos media norte-americanos, preparado para dar um novo fôlego ao inquilino da Casa Branca que se aproxima de um ponto periclitante da sua Administração com as eleições de meio de mandato, e quando as sondagens o dão em perda contra os republicanos.
E Biden não deixou desfalecer o ímpeto no contra-ataque a Putin, sublinhando que este "pensou que podia lançar as suas forças sobre o vizinho porque o mundo iria ficar apenas a ver" mas, assegurou, "enganou-se" porque "o mundo estava preparado e ele (Putin) está mais isolado que nunca".
E lançou contra a Rússia um "projéctil" que, apesar de esperado, porque já tinha sido usado na Europa, obteve o efeito esperado, que foi uma ovação em pé dos congressistas, anunciado que todos os aviões russos ficam proibidos de sobrevoar os céus dos Estados Unidos, porque, justificou, "quando os ditadores não pagam um preço pelas suas acções contra a liberdade, continuam a avançar sem receio".
Mas Biden já tinha a informação bem digerida de que o Presidente russo, Vladimir Putin, já tem, há uma semana, os seu sistema de defesa nuclear em alerta máximo, justificado com a ideia de que a NATO está a alargar em excesso o seu apoio a Kiev em sucessivas acções perigosamente premeditadas como o envio de material militar letal em grandes quantidades.
E isso mesmo foi hoje relembrado por Sergey Lavorv, que, reafirmando que uma Ucrânia membro da NATO seria uma ameaça insuportável para a Rússia.
Numa entrevista à al Jazeera, o canal de TV do Qatar, Lavrov sublinhou que se as tensões actuais resvalarem para uma Guerra Mundial, esta será "nuclear e devastadora", tendo ainda lembrado que o próprio Presidente dos Estados Unidos, "um homem experiente", sublinhou que a alternativa às sanções duras seria uma Guerra Mundial.
Sobre as sanções, Lavrov disse que Moscovo estava à espera delas "mas não que estas afectassem como estão a afectar desde atletas a jornalistas, intelectuais ou actores...".
E repetiu a ideia de que a "operação especial" lançada na Ucrânia visa desmilitarizar este país, porque a Rússia "não vai permitir que Kiev obtenha armas nucleares", embora não tenha dado explicações como isso poderia ocorrer, adiantando apenas que o país ainda mantém tecnologia soviética nuclear.
Sobre as negociações, ficou claro nestas declarações dos últimos dias, que a Rússia está disponível para negociar, repetindo que não pretendem ocupar a Ucrânia, mas que territórios como a Península da Crimeia, anexada em 2014, não inegociáveis, bem como a exigência de uma Ucrânia desmilitarizada e fora da NATO...
O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página, inclusive as suas consequências económicas, como o impacto no negócio global do petróleo.