Volodymyr Zelensky, o Presidente ucraniano, numa entrevista a uma televisão alemã, a ZDF, disse a Olaf Scholz para apoiar sem titubear o esforço de guerra da Ucrânia contra a Federação Russa, admoestando-o com a acusação de que a Alemanha mostra demasiadas preocupação em não confrontar Moscovo sempre que fala do seu apoio a Kiev.

Mas os embates diplomáticos entre Kiev e Berlin não se ficam por aqui, porque, em Abril, Kiev humilhou o Presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, ao recusar a sua entrada no país no âmbito de uma visita em que iria acompanhado dos Presidente da Letónia, Estónia e Polónia, alegando que este é um amigo dos russos.

"Nós precisamos que o chanceler Scholz seja claro e concreto quanto ao seu apoio à Ucrânia, não pode haver qualquer espécie de trade-off entre o apoio à Urânia e as relações da Alemanha com a Rússia", disse Zelensky.

Mas o episódio mais humorado e que deveria ser dos mais graves mas que Scholz se paressou a desvalorizar, foi protagonizado pelo embaixador ucraniano em Berlim, Andriy Melnik, que chamou "salsicha de fígado" ao chanceler alemão devido à sua postura face à guerra na Ucrânia e a insistência na manutenção de linhas de contacto com Moscovo apesar do apoio inequívoco a Kiev.

Como, de resto, ficou claro quando, já hoje, Scholz anunciou o envio para breve de peças de artilharia PzH 2000, as mais sofisticadas existentes nos arsenais ocidentais, bem como modernos radares de detecção de artilharia, uma resposta positiva aos insistentes pedidos de Zelensky de mais e mais armamento.

Também a caminho de Kiev, aparentemente num esforço para abrir uma nova estratégia diplomática, estão o Presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, os lideres ocidentais que se têm revelado mais inquietos e preocupados com os efeitos desastrosos colaterais desta guerra nas economias europeias, que enfrentam uma histórica inflação, desemprego galopante, crise energética e uma situação de pré-rebuliço social em toda a Europa, cujos povos se mostram cada vez mais cansados com o ricochete do conflito nos seus bolsos e na suas despensas.

Este pacote de visitas, que pode redundar na ida dos três em comitiva de encontro a Zelensky, parece estar a ser planeado para acontecer antes da reunião do G7, marcado para o fim deste mês, e no qual se vai debater quase em exclusivo o insustentável caminho que está a levar esta guerra a atingir mais os países ocidentais emissores das sanções à Rússia que a própria Rússia.

Isto, quando os EUA, o país que mais empenho mostrou inicialmente no castigo a Moscovo, cortando oficialmente até as importações de todos os produtos energéticos, como petróleo e gás, mas que, agora, é conhecido que as importações de crude pelos EUA da Rússia, pelo contrário, estão a aumentar... e até os fertilizantes, também abrangidos pelas sanções, foram alvo de uma "libertação" pela voz do próprio Presidente Joe Biden devido ao impacto fortemente negativo na agricultura norte-americana.

Sobre a guerra...

...mantendo-se as dificuldades de distinguir informação de propaganda, os dois lados deste conflito vão anunciado os seus feitos e objectivos, tendo o porta-voz do Kremlim Dmitri Peskov, já garantido que o conflito só acaba quando a Rússia conseguir alcançar todos os seus objectivos.

As forças pró-russas da autoproclamada república popular de Donetsk na Ucrânia, reconhecida pelo Kremlin, anunciaram esta quinta-feira o início da batalha por Sloviansk, que juntamente com Kramatorsk, serão os principais objectivos russos no Donbass.

"Estamos a levar a cabo a batalha por Sloviansk", declararam as chefias militares pró-russas através do sistema de mensagens Telegram.

No passado domingo, os separatistas afirmaram que estavam a 19 quilómetros de Sloviansk, sinalizada como "cidade chave" para a tomada do bastião militar ucraniano de Kramatorsk.

O Estado Maior General da Ucrânia informou que as forças russas "concentram preparativas para continuar a ofensiva em direcção a Sloviansk e Barvinkove", na região de Kharkiv.

De acordo com as milícias pró-russas, as forças das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk apoiadas pelo Exército da Rússia "libertaram e estabeleceram o controlo total sobre 231 localidades da região", incluindo Svitohirsk e Tetyanivka.

Entretanto, a Ucrânia declarou ter praticamente perdido a cidade de Severodonetsk em "dois ou três dias" está estará totalmente sob domínio russo.

As forças russas tentam controlar totalmente aquela cidade industrial ucraniana na região do Lugansk, importante para o controlo de toda a zona mineira do Donbass.

A Ucrânia tem insistido nos pedidos, ao Ocidente, de sistemas de lançamento de foguetes de longo alcance para equilibrar aquilo que hoje Kiev admite ser uma vantagem total da parte das forças russas.

Contexto da guerra na Ucrânia

A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.

Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.

Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.

Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO.

A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar paara a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da

Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.

Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.

Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.

Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas der fora o sector energético, gás natural e petróleo...

Milhares de mortos e feridos e mais de 4,5 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.

O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.