O gás deixará de fluir e o fornecimento está programado para recomeçar no início da manhã de 21 de Julho, escreve a Lusa, adiantando que os funcionários estão muito preocupados com a possibilidade de os abastecimentos não serem restabelecidos, devido à guerra na Ucrânia. Mas não são apenas os funcionários, o receio é de governos, mercados e empresas, que antecipam que o Kremlin use esta paragem para fechar a torneira de gás para a Europa.

A empresa estatal russa Gazprom já reduziu significativamente os volumes de fornecimento através do gasoduto de 1.200 quilómetros entre a Rússia e o norte da Alemanha, citando atrasos nos trabalhos de reparação. Moscovo atribuiu os atrasos às sanções ocidentais, um argumento rejeitado pelo chanceler alemão, Olaf Scholz.

O gasoduto estava a ser utilizado apenas a 40% da sua capacidade, causando novos aumentos de preços no mercado do gás, de acordo com a Agência Federal Alemã de Redes.

O operador programou dez dias para verificar e reparar ou recalibrar o fornecimento de energia, os sistemas de protecção contra incêndio e gás e certas válvulas.

O trabalho de manutenção surge numa altura em que a Alemanha procura urgentemente reduzir a sua dependência do gás russo, enquanto enche os tanques de armazenamento para o inverno.

Na semana passada, a Alemanha começou a racionar água quente, a diminuir as luzes da rua e a fechar piscinas para poupar energia. O grande objectivo da Alemanha neste momento é encher os seus reservatórios de gás para enfrentar o próximo inverno sem dificuldades, escrevem as agências de notícias.

Segundo a Bloomberg, o ministro alemão da Economia pediu ao executivo de Justin Trudeau para devolver a turbina à Alemanha para que esta fosse reencaminhada para a Rússia.

"É com pesar no coração que pedimos isto. Se é um problema legal para o Canadá, quero tornar claro que não estamos a pedir para o devolver à Rússia, mas sim à Alemanha", afirmou Robert Habeck.

"Precisamos do Nord Stream para encher o nosso armazenamento. As capacidades de armazenamento na Alemanha não são só importantes para o mercado alemão, mas também para o mercado europeu e a segurança de abastecimento na Europa", acrescentou o ministro alemão, citado pela Bloomberg .

Na sexta-feira, o Kremlin anunciou que vai restaurar os níveis de fornecimento de gás para a Europa quando receber a turbina.

No sábado, o Governo canadiano anunciou que acedeu ao pedido alemão, depois de conversações com "aliados e amigos europeus" e com a Agência Internacional de Energia (IEA).

"Sem a quantidade necessária de gás natural, a economia alemã vai sofrer muito e os alemães estarão em risco de não conseguirem aquecer as suas casas no inverno", justificou Ottawa.

Kiev já veio dizer que, se a Alemanha enviar a turbina para a Rússia, vai estar ela própria a violar as sanções ocidentais, que também aprovou.

Segundo uma fonte do ministério da Energia ucraniano, citada pela Reuters, "as sanções proíbem o transporte de qualquer equipamento relacionado com o gás".

O Governo ucraniano chamou de volta o seu embaixador em Berlim. Kiev argumentou que era uma troca rotineira, mas, além do episódio da turbina, o Governo alemão está a bloquear há mais de um mês um pacote europeu de ajuda à Ucrânia no valor de nove mil milhões. São mais duas achas para a fogueira da já frágil relação entre a Alemanha e a Ucrânia.

Com a devolução aprovada da turbina à Alemanha, falta agora saber se a Ucrânia vai começar a pressionar Berlim para não devolver a turbina à Rússia e quais os impactos que isso vai ter na relação diplomática entre Kiev e Berlim.

Contexto da guerra na Ucrânia

A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.

Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.

Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.

Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO.

A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar paara a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da

Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.

Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.

Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.

Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas der fora o sector energético, gás natural e petróleo...

Milhares de mortos e feridos e mais de 6 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.

O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.