Quando faltam cerca de 20 meses para as Presidenciais de Novembro do próximo ano, Donald Trump foi esta terça-feira a Nova Iorque encher-se de ânimo extra e "atestar" o depósito do seu avião privado, um Boeing 757, para as centenas de deslocações que vai fazer por todos os estados dos EUA durante as exaustivas e exigentes campanhas eleitorais que tem pela frente antes de, como diz querer, poder fazer a sua América grande outra vez - " Make America Great Again", primeiro nas primárias do Partido Republicano, e depois, se vencer, como as sondagens assim o indicam, a disputa, de novo, com Joe Biden, o actual inquilino da Casa Branca e o mais provável candidato Democrata, embora ainda não o tenha anunciado formalmente.
Com o seu "show" mediático bem montado, que obrigou o Presidente Joe Biden mandar a sua porta-voz, Karine Jean-Pierre, dizer publicamente que ele não estava a acompanhar as horas infinitas de directos nas tvs com a ida de Trump a Nova Iorque, o ex-Presidente, que fez história ao ser o primeiro antigo Presidente a ser formalmente acusado de crimes, aproveitou cada frame televisivo para das gás à sua corrida à Casa Branca.
Primeiro, com uma comitiva de vários carros pretos a circular nas estradas da Florida, primeiro, antes de entrar no seu Boeing 757, depois, à saída, já na "Grande maçã", dirigindo-se para Manhattan, de novo em comitiva que fez lembrar os tempos em que era efectivamente Presidente, e, depois, de novo, tudo igual, de regresso a Mar-a-Lago, a sua luxuosa residência, onde fez a aguardada declaração pública sobre o processo em que está envolvido.
Com as televisões, tanto norte-americanas como internacionais, a transmitir sem cessar este Trump-Show, quando subiu ao púlpito na sua residência da Florida não deixou créditos por mãos alheias e atirou com o arsenal todo contra os Democratas e o actual Presidente, dizendo-se não só inocente dos 34 crimes de que foi acusado pelo procurador de Manhattan, como vítima de uma "perseguição política sem precedentes" planeada pelos seus adversários para o impedir de voltar à Presidência.
Ou seja, como era de esperar, encarnou o papel da vítima, apontou o dedo ao procurador de Manhattan que o acusou, Alvin Bragg, de ser a ferramenta da conspiração alargada que o quer afastar da corrida eleitoral, disse que não conseguou acreditar quando soube que iria ser acusado formalmente, sublinhou que a "nação americana" está a desmoronar-se às mãos dos "radicais de esquerda" liderados por Joe Biden e que é por isso que, apesar dos seus 76 anos, pretende voltar ao poder para arrumar a casa e "Make America Great Again", ou MAGA, que é o seu novo lema de campanha...
Neste dia frenético para TRump, há um dado que lhe é muito simpático: tinha pedido que os seus apoiantes fossem a Nova Iorque protestar pela sua detenção, mas conseguiu pouco ou nenhum sucesso nesse intento.
Mas o que efectivamente interessa neste momento é o que vai ser o epílogo deste processo, porque se vier a ser condenado em tempo útil, ou seja antes das eleições de 2024, a sua carreira política estoura-lhe nas mãos, mas se suceder o contrário, a estratégia de Joe Biden de deixar andar o processo, não o perdoando, como poderia, e já outros Presidentes fizeram antes, como foi o caso de Gerald Ford a Richard Nixon, poderá a batata rebentar nas mãos do actual Presidente dos EUA se vier, como se espera, a anunciar a recandidatura, apesar dos seus 80 anos.
Apesar deste show bem planeado, com um discurso, no entanto, incoerente, andando para trás e para a frente, acabou por definir a alegação de inocência como parte central do discurso, repetindo, com mais pormenores, o que já tinha sido a sua alegação de inocência feita durante a sessão no tribunal nova-iorquino.
Recorde-se que as acusações estão ligadas ao caso de um alegado pagamento de suborno a uma ex-atriz pornográfica, Stormy Daniels, que terá servido para comprar o seu silêncio sobre um caso extraconjugal, antes da campanha eleitoral das presidenciais de 2016.
Com isto, Trump, que colheu a solidariedade das mais destacadas figuras do Partido Republicano, acabou por ganhar uma forte vantagem sobre os seus putativos concorrentes nas eleições primárias republicanas, o governador da Florida, Ron DeSantis, e a antiga embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Halley.
Só não se sabe se terá a mesma companhia solidária quando, se chegar a esse momento, o que os analistas admitem que pode depender do desfecho deste processo "Stormy Daniels", for acusado no âmbito do assalto ao Congresso, em 06 de Janeiro de 2021, ou dos diversos alegados crimes de fuga aos impostos...
Entre os apoios manifestados nestas horas, um dos mais destacados, embora reste saber se lhe será benéfico ou prejudicial, veio da porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, que disse ser este processo a prova evidente de que a ideologia liberal nos EUA está a sofrer uma forte crise.
"É a chamada crise do liberalismo. É um sistema que se declara completamente livre, onde nada obstaculiza a liberdade de expressão mas que depois se devora por dentro ou nega totalmente esses princípios", disse a responsável de topo pela comunicação do ministério de Sergei Lavrov.
Estas palavras podem ser um momento importante porque Donald Trump foi, e ainda é, acusado de ter cedido aos interesses da Rússia, especialmente no jogo do xadrez mundial, tendo-se recolhido aos assuntos internos, desligando-se do mundo durante o seu mandato, como é disso bom exemplo o continente africano, tendo mesmo sido divulgadas várias notícias, nunca confirmadas, de que o Kremlin tinha conseguido formas de mantê-lo sob chantagem, sem que tam nunca tenha sido demonstrado.
O que é certo e sabido é que Trump e o Presidente russo, Vladimir Putin, fizeram diversas declarações de apreciação mútua, tendo o norte-americano dito que o chefe do Kremlin era um homem que lhe merecia respeito e admiração por ser "um líder forte" e já veio garantir que assim que voltar a mandar na Casa Branca, a guerra da Ucrânia acaba nesse dia... Só não disse como, mas adivinha-se que isso seriam más notícias para Kiev...