O primeiro ganho de exposição conseguido por Trump foi claramente a forma como as suas hostes republicanas, incluindo alguns dos nomes que se preparam para concorrer contra ele pela designação interna a candidato oficial dos Democratas, incluindo Ron DeSantis, governador da Florida, ou Mike Pence, seu antigo vice-Presidente e eventual concorrente.

E em segundo lugar, como não poderia ser de forma diferente, aproveitou para lançar uma campanha de angariação de fundos para financiar a sua campanha, que já disse, ao seu estilo pantagruélico, que vai ser o "maior movimento político da história".

E tudo, claro, embrulhado numa bem ensaiada deslocação desde a sua casa na Florida até Nova Iorque, compreendendo uma caravana de viaturas negras como se ainda fosse Presidente, até à entrada do seu Boeing, com as cores dos EUA e o seu nome estampada na lateral, até ao centro de Nova Iorque, onde tem algum do seu mais vasto património, incluindo a dourada Torre Trump.

Só que... tudo vai depender do que acontecer no Tribunal de Manhattan, onde vai decorrer o julgamento, que já está na calha para vir a ser, provavelmente, um dos maiores de sempre nos EUA...

Se for condenado, o seu futuro político, fica no passado, se ganhar, dificilmente o actual Presidente, o democrata Joe Biden, terá como travar a sai caminhada de volta à Casa Branca.

O próprio pediu para esta terça-feira uma manifestação gigante de apoio à sua causa em Nova Iorque. Não parece que isso vá acontecer, porque, ao que dizem os analistas, mesmo entre os seus mais fervorosos apoiantes, há quem admita que dificilmente saíra incólume a esta passagem pela justiça.

O que se sabe...

O ex-Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, comparece hoje em tribunal acusado pelo crime de pagamento pelo silêncio de uma artista de filmes pornográficos famosa, que dá pelo nome artístico de Stormy Daniels - Daniela Frenética, numa tradução livre -, de forma a evitar que se soubesse que tinha sido seu cliente.

Agora, que está confirmado que um tribunal de Nova Iorque o acusou formalmente de ter pago 130 mil dólares a Stormy Daniels, Donald Trump, que já tinha anunciado que seria formalmente acusado, só falhando na data em que tal seria conhecido, além de saber se será condenado, vai querer perceber até que ponto esta situação o vai ou não prejudicar na corrida às Presidenciais de 2024 nos EUA.

Quando chegar ao tribunal de Nova Iorque, ser-lhe-ão tiradas as impressões digitais como a um vulgar criminoso, será tirada a sua fotografia de frente e perfil, e ser-lhe-ão lidos os direitos e a acusação dos crimes que pedem sobre si.

Para já, os analistas, o que se percebe a partir da leitura dos media norte-americanos, estão essencialmente focados em perscrutar o futuro político de Donald Trump, que desde que, há dois anos, perdeu as eleições para o Democrata Joe Biden, mantém acesa a chama de uma nova candidatura em 2024, embora tenha de vencer as primárias dos Republicanos, que é uma espécie de eleição interna para se saber quem será o candidato oficial do partido.

E também já se percebeu qual será a estratégia de Trump e da sua milionária equipa de assessores para contornar esta situação: vitimizar-se até à exaustão e garantir que o processo judicial adormece a caminho das calendas gregas.

A relação extraconjugal que Donald Trump, alegadamente, manteve com Stormy Daniels, foi sucessivamente negada pelo agora acusado e o pagamento de 130 mil dólares seria para garantir que esta em nenhuma circunstância falaria sobre o assunto.

A presença do antigo Presidente à frente do Grande Júri de um tribunal de Manhattan é esperada para a próxima terça-feira e, se, como Trump tinha apelado aos seus apoiantes para fazerem, este cumprirem, Nova Iorque poderá assistir a uma multidão de fervorosos fãs do excêntrico milionário a inundar a zona do tribunal

O pagamento de 130 mil USD foi feito em 2016, quando decorria a campanha para as eleições presidenciais onde Trump derrotou a democrata Hillary Clinton, tendo como objectivo esse suborno manter a boca de Stormy Daniels fechada sobre a sua ligação íntima com aquela que seria, depois, o 45º Presidente dos Estados Unidos da América.

E se em 2016, conseguiu que este episódio não fizesse ruir a sua candidatura, mesmo que a ele se tivessem somado imagens e áudios onde este mostra de forma sonora a sua misoginia (desprezo e desrespeito pelas mulheres), na actual corrida interna pela nomeação como candidato do Partido Republicano, o desenlace poderá muito ser o oposto, até porque os seus dois principais opositores, Ron DeSantis, governador da Florida, e Nikki Halley, antiga embaixadora dos EUA nas Nações Unidas

Porém, para já, apesar de todos os escândalos, apesar de ser já tido como seguro que teve um papel relevante e decisivo no assalto ao Capitólio (Congresso dos EUA) em 2021, onde morreram várias pessoas, incluindo polícias, levando a todo o mundo imagens de pura anarquia no edifício que alberga o coração da democracia norte-americana, ou ainda das pesadas suspeitas de fuga aos impostos de grande monta, é Donald Trump que lidera as sondagens para a corrida interna e aparece bem posicionado para 2024, frente ao actual Presidente, Joe Biden, claramente desgastado devido à sua política para a guerra na Ucrânia.

Entre as hostes republicanas, as principais figuras já vieram em defesa de Trump e há mesmo alguns analistas que admitem que a sua estratégia de vitimização poderá ser o seu grande trunfo eleitoral, até porque são múltiplos os casos de antigos Presidentes, tanto Republicanos, como ele, como Democratas, como o actual inquilino da Casa Branca, que estiveram envolvidos em escândalos, suspeitas de ilegalidades, sem que isso os tenha levado à condição de acusado formal e sujeito a uma pesada pena de prisão.