E já são 39 mil os mortos confirmados em Gaza no contexto da operação militar israelita desencadeada após o 07 de Outubro de 2023, quando o Hamas invadiu o sul de Israel, deixando um rasto de 1200 mortos, sendo que já é hoje claro que muitos foram vítimas de fogo amigo da tropa israelita.
Com mais ou menos dificuldade, Benjamin Netanyhau, o primeiro-ministro israelita, foi sendo capaz, ao longo destes quase 10 meses de guerra, de manipular a relação de grande proximidade estratégica com Washington a seu favor.
Isso foi possível porque Joe Biden, bem como os seus mais próximos na Administração, desde Antony Blinken, o seu secretário de Estado, a Jack Sullivan, conselheiro de segurança, apesar de uma retórica difusa sobre a necessidade de reduzir o número de mortos, nunca deixaram de apoiar de forma inequívoca Telavive.
Só que isso pode mudar com a saída de cena de Joe Biden, e a quase garantida entronização de Kamala Harris, a sua vice-Presidente, à condição de candidata democrata, se for esse o veredicto dos delegados à Convenção de 19 a 21 de Agosto.
Isto, porque Harris, como atestam vários analistas, que foi mantida à distância do assunto guerra em Gaza, foi dando sinais de descontentamento com a inércia de Biden no controlo dos falcões judeus e a tragédia em Gaza, que, recorde-se, pode ser muito mais larga que os números actuais oficiais de 39 mil mortos se os 186 apurados num estudo da revista científica média The Lancet, estiverem correctos.
E o receio não é para menos, como Benjamin Netanyhau o confirmou esta segunda-feira, antes de voar para Washington, acompanhado de familiares de reféns do Hamas mantidos em Gaza desde 07 de Outubro.
Nesse momento, Netanyhau disse que Israel acredita com clareza inequívoca que é um "parceiro estratégico incontornável" para os EUA no Médio Oriente e que, seja com uma liderança democrata - Kamala Harris - ou republicana - Donald Trump -, essa condição não sofrerá reveses.
Isto, porque, se for, como adiantam as sondagens, Donald Trump a vencer, o apoio a Israel em Washington pode mesmo ser superior ao que tem hoje sob a Administração Biden.
Esta ida aos EUA de Ntenyhau é, claramente, uma viagem mais de "negócios" do que de política e diplomacia, porque Israel não se pode dar ao luxo de, em caso de vitória democrata a 05 de Novembro, perder, ou ver reduzidos, os apoios de Washington.
E levar consigo os familiares dos reféns é o seu truque na manga, porque pode, assim, deixando-os a descrever o seu sofrimento perante os media norte-americanos, influenciar pelo "coração" a vontade política na Casa Branca...
Enquanto isso, a vida em Gaza é já claramente um inferno sem limites, com mais de 80% das edificações deste território com 365 kms2, 2,3 milhões de habitantes, destruídos, sem hospitais funcionais, sem água, medicamentos, alimentos...
E nem os tribunais internacionais terem condenado Israel por genocídio, sentenciando o país a travar a mortandade, embora sem capacidade para impor as suas sentenças, parece ser suficiente para acabar com a maior tragédia que se abateu sobre o povo da Palestina em largas décadas (ver links em baixo nesta página).
Entretanto, e apesar de tudo, para os media ocidentais, de países aliados sem limites de Israel, como o Reino Unido ou os EUA, parecem mais empenhados em destacar a coragem de Netanyhau e do seu Governo para estarem a convocar para as fileiras do Exército os judeus ultra-ortodoxos que defendem a morte dos palestinianos e a continuação da guerra até ao último muçulmano, mas que se protegem na sua raiz religiosa radical para se isentarem de irem para a guerra.
Isso só foi possível porque o Tribunal Supremo de Israel deu por finda uma isenção de décadas que protegia os judeus ultra-ortodoxos de serem arregimentados para as Forças de Defesa de Israel, apesar de serem os mais fervorosos defensores da continuação desta guerra até à expulsão total dos palestinianos da... Palestina.