Face a este cenário que permite adivinhar que este conflito entre um dos melhor equipados exércitos do mundo, que integra mais de 500 mil solados e com acesso quase ilimitado ao arsenal dos EUA, a maior potência militar planetária, e um grupo de milícias com pouco mais de 50 mil combatentes, empunhando armas ligeiras e misseis caseiros, mas que a 07 de Outubro deixou um rasto de terror no sul de Israel, com mais de 1200 mortos e dois mil feridos, a comunidade internacional, incluindo os principais aliados de Telavive, engrossa as exigências de um cessar-fogo imediato.

Perante o insucesso das Forças de Defesa de Israel (IDF) na incursão em Gaza, que já leva mais de dois meses, a maior parte destes com ininterruptos bombardeamentos, e as últimas três semanas de uma operação terrestre na qual já morreram, segundo diferentes fontes, entre 150 e mil soldados israelitas, com episódios de erros inexplicáveis face aos créditos históricos do seu Exército, como a morte de reféns israelitas empunhando bandeiras brancas, o Presidente israelita, Isaac Herzog, voltou agora a apontar para a possibilidade de uma nova ronda de troca de prisioneiros dos dois lados e tréguas humanitárias.

Com os Estados Unidos a fortalecer os pedidos de contenção a Israel para poupar civis em Gaza, como o voltou a fazer o secretário da Defesa, Lloyd Austin, numa nova visita à região na última semana, e com a economia mundial ameaçada pelos rebeldes Houthis, do Iémen, com vários ataques a navios comerciais e petroleiros no Estreito de Bab el-Mandeb, que dá acesso do Mar Arábico (Oceano Índico) ao Mar Vermelho e ao Canal do Suez, por vingança contra a mortandade em Gaza, a pressão sobre Israel começa a ser insuportável.

E não é para menos, porque pelo Canal do Suez, onde só se chega atravessando o Estreito de Dab el-Mandeb, que fica na região do Iémen controlada pelos Houthis, passa 12 por cento do comércio marítimo mundial de mercadorias e quase 3 milhões de barris de petróleo por dia, o que já está a ter um impacto substancial no preço do barril, o que é um golpe na economia norte-americana, ainda ameaçada pela inflação que nasceu com a alta nos preços da energia.

Mas se Herzog, claramente um moderado comparado com o Governo de Benjamin Netanyhau, o mais extremista, tanto política como religiosamente, de sempre nas mais de sete décadas de existência do Estado de Israel, avançou com a possibilidade de nova pausa nos combates, o Hamas não parece estar para seguir esse caminho, pelo menos, como disseram logo a seguir as suas chefias, não haverá qualquer nova troca de prisioneiros - cerca de 140 israelitas estão detidos pelo Hamas em Gaza desde 07 de Outubro enquanto nas prisões de Israel estão milhares de palestinianos, muitos deles crianças e mulheres sem qualquer acusação formada - sem que termine a mortandade em Gaza, embora as negociações, que envolvem o Qatar e os EUA continuem e qualquer resultado mantém-se como possibilidade.

Mortandade essa que atinge maioritariamente crianças e mulheres, que são 70% dos mortos, contabilizando-se já mais de 10 mil crianças mortas pelas IDF, mas que está igualmente a atingir como nunca aconteceu noutro conflito os funcionários da ONU, com mais de 180 vítimas e nos jornalistas, com mais de 100 mortos em dois meses, uma parte substantiva destes alvejados deliberadamente pelas forças israelitas.

A morte de pessoas em Gaza num número desta magnitude era expectável face ao gigantismo da operação militar israelita num território com apenas 365 kms2, habitado por 2,3 milhões de habitantes, numa faixa de 40 kms por nove de largura, onde vivem entalados 6.500 pessoas por km2, o que dá numa das maiores densidades populacionais em todo o mundo.

A situação em Gaza é trágica para os 2,3 milhões de habitantes (ver links em baixo nesta página), com escassez de alimentos, medicamentos, com os hospitais quase todos inoperacionais devido aos ataques israelitas, e as poucas centenas de camiões que entram no território todas as semanas são, como lembrava há poucas semanas o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, uma gota de ajuda num oceano de necessidades.