Os mais de 7.000 roquetes que as Brigadas de Al-Qasam dizem ter lançado sobre Israel, e o avanço de comandos que entraram nos territórios israelitas nas fronteiras com Gaza, onde foram feitos um número indeterminado de reféns, atacados postos militares, com imagens chocantes de corpos de soldados judeus a serem arrastados para fora de um blindado irromperam por todas as televisões do mundo, revelam uma realidade que ninguém julgava possível.
O Estado de Israel foi totalmente apanhado de surpresa e o Governo tem muitas explicações a dar para este falhanço de segurança onde Isarel é apontado como exemplo em todo o mundo, especialmente através das suas unidades de inteligentsia.
Porque este é já o mais audaz ataque do Hamas, que conta com o apoio do Irão, com Teerão a assumir a satisfação por este momento que pode deixar o Médio Oriente a ferro e fogo por muito tempo e com consequências impossíveis de antecipar.
A resposta de Israel aos mais de 30 mortos - algumas fontes falam em mais de meia centena - e largas dezenas de feridos, muitos em estado grave, entre a populações civil e militar israelita, vai ser, seguramente, devastadora sobre a Faixa de Gaza, onde o Hamas tem a sua estrutura de comando alicerçada, o que levou milhares de pessoas a deixarem as partes mais urbanizadas deste escasso território, com mais de 2 milhões de habitantes nuns reduzidos 365 kms2, o que faz desta a geografia na costa do Mediterrâneo uma das maiores densidades populacionais do mundo.
O Hamas denominou esta operação "Dilúvio Al-Aqsa", a todos os níveis extraordinária, porque, além da surpresa inicial, a famosa "Cúpula de ferro", que é considerada a mais robusta e eficaz defesa antiaérea do mundo, simplesmente ficou muito longe do expectável, apesar da destruição de centenas dos roquetes lançados pelas Brigadas de Al-Qasam em direcçãoà cidade de Tel Aviv.
Depois de uma manhã de inesperada atrapalhação israelita, o Governo de Netanyahu começou a reagir, mandou chamar aos quarteis os reservistas, que, em Israel, são quase todos os cidadãos, homens e mulheres com serviço militar cumprido, e a temível aviação israelita começou a ser preparada para a resposta, que o chefe do Governo de Israel garantiu que será "algo que nunca foi vista na Palestina".
Esta operação encabeçada pelo Hamas tem o apoio efectivo dos outros grupos armados palestinianos, como a Jihad Islâmica, e foi desenhada em profundida no território israelita a partir de Gaza, havendo mesmo notícias de grupos que conseguiram chegar a aldeamentos israelitas a quilómetros das fronteiras do território palestino entalado entre o Sul de Israel e o Egipto, na costa mediterrânica.
Sabe-se igualmente que os grupos armados do Hamas recorreram a novas tácticas, como, por exemplo, pequenas unidades móveis, em motos, moto-quatro e até aparelhos ligeiros de voo, além da introdução no conflito israelo-palestino os drones como munição antitanque, com os quais acabaram por destruir vários dos blindados israelitas.
E segundo várias fontes, as Brigadas de Al-Qasam conseguiram ainda capturar um vasto leque de armamento israelita, incluindo os seus blindados de combate pesados, o Merkava, considerado dos mais modernos e eficazes do mundo, embora pouco adaptados à presença de drones "kamikaze".
O Exército israelita chegou ao terreno horas depois do ataque inicial e surpreendente dos palestinianos, tendo começado a procurar "libertar" os aldeamentos ocupados pelos militantes islâmicos, embora a sua acção seja limitada pelo facto de existirem largas dezenas de habitantes desses mesmos territórios feitos reféns pelas Brigadas de Al-Qasam.
Por detrás deste ataque, segundo as justificações do Hamas, estão os permanentes e intrusivos ataques de forças israelitas nos territórios palestinos, as ofensas das forças de segurança aos locais de culto islâmicos na cidade de Jerusalém, como a Mesquita de Al-Aqsa, e a ocupação imparável de teras palestinas onde os israelitas fazem nascer colonatos uns atrás dos outros sem cumprirem acordos internacionais de devolução destes territórios ao povo palestino.
A reacção da comunidade internacional chegou aos ouvidos de israelitas e palestinianos de imediato, com a Rússia e a Turquia a pedir que Netanyahu não exceda na forma de resposta que Israel vai dar a este ataque histórico, exigindo cuidados redobrados com a população civil, tendo igualmente EUA, União Europeia, Reino Unido... vindo também lamentar esta situação, ao mesmo tempo que todo o ocidente sublinha a solidariedade com Tel Aviv.
Até perto das 14:00 as agências de notícias já tinham avançado com centenas de vítimas do lado palestiniano face aos ataques da aviação israelita sobre a Faixa de Gaza.
A violência entre israelitas e palestinos remonta à criação do Estado de Israel, em 1948, com, desde e então, as suas fronteiras sido expandidas agressivamente sobre os territórios da Palestina, que perdeu mais de 80% da sua geografia para as fronteiras de Israel, não reconhecidas pela ONU.
Para este momento, uma das questões mais inquietantes é, segundo vários analistas, perceber como vai reagir o mundo árabe, em países como o Egipto, Arábia Saudita, Síria... e todo o Médio Oriente e no Norte de África, onde Israel tem conseguido estabelecer relações diplomáticas com muitos deles, quebradas há décadas, especialmente após os mais de uma dezena de históricos conflitos.
Entre estes destacam-se a Guerra Israelo-Árabe de 1948, quando o mundo árabe procurou impedir a criação do Estado de Israel, por iniciativa de EUA e Reino Unido, a Xrise do Suez, em 1967, a Guerra do Yom Kippur, em 1973 e a Guerra do Líbano, em 1982, a primeira de várias, mas a mais trágica, cujos efeitos ainda hoje são sentidos.
E já no século XXI, surgiram diversas crises militares, com destaque para as guerras no Líbano, em 2006, e em Gaza, em 2014, tendo a última crise séria ocorrido em 2021, com uma violenta incursão do Exercito judeu em Gaza.
O presente conflito tem tudo para vir no futuro a figurar entre os mais relevantes na sangrenta relação entre palestinos e israelitas, pelo número de vítimas, pela ferocidade do contra-ataque israelita e pela forma como o Hamas surpreendeu toda a estrutura de segurança e defesa israelita, cujos serviços secretos não conseguiram perceber o que estava para chegar...
Vários analistas esperam que esta crise venha a gerar milhares de vítimas entre palestinianos, com muitos civis como danos colaterais.