Nos mais de sete meses de mortandade israelita sobre a população civil de Gaza, que já vai em quase 35 mil mortos e mais de 90 mil feridos, aquilo que está à beira de acontecer, o assalto das Forças de Defesa de Israel (IDF) à cidade de Rafah, pode ofuscar tudo o sucedeu até agora.

Isto, porque em Rafah, cidade na fronteira com o Egipto, a sul de Gaza, que antes da guerra tinha pouco mais de 200 mil habitantes, estão agora mais de 1,5 milhões, numa densidade populacional que qualquer disparo de artilharia fará dezenas de mortos por defeito.

E esse ataque está iminente, apesar dos alertas insistentes das organizações humanitárias para o risco de uma mortandade sem paralelo, e dos pedidos dos aliados ocidentais de Israel, norte-americanos e europeus, para que não aconteça.

É que Benjamin Netanyhau já deu a ordem para as IDF avançarem, tendo sido ordenada a evacuação da parte sul da cidade, porque "vai ser usada força extrema" contra os bastiões dos combatentes do Hamas que supõe estarem escondidos nesta parte de Rafah.

Com o iminente avanço das IDF sobre Gaza, naquilo que parece já uma máquina de guerra a avançar, os analistas começam a questionar com maior assertividade as razões pelas quais Netanyhau, apesar da pressão dos EUA, de quem recebe as armas e o dinheiro com que alimenta este conflito, avança com determinação.

Mesmo sob a ameaça de cortar o financiamento e o fornecimento de armas, o Governo israelita, que é o mais radical de sempre na história deste país criado em 1948 nos territórios palestinianos pelo ocidente, não parece estar disponível para parar a sua máquina de guerra.

Ao fim de sete meses de guerra, iniciada com o assalto do Hamas ao sul de Israel, a 07 de Outubro de 2023, onde foram mortos mais de mil israelitas, na sua maioria militares apanhados de surpresa nos quarteis, nenhum dos três objectivos definidos por Netanyhau foi conseguido.

O primeiro-ministro israelita queria aniquilar o Hamas, libertar todos os reféns levados pelo Hamas para Gaza naquele dia e fazer deste território uma zona segura para Israel... nenhum destes objectivos foi alcançado, apesar da gigantesca superioridade militar das IDF.

Porque insiste Netanyhau?

Alguns analistas, como o major-general Agostinho Costa, que comenta na RTP3 e na CNN Portugal, Benjamin Netanyhau está preso nas suas circunstâncias.

Por um lado, está ameaçado pelos partidos radicais que integram a sua aliança de Governo, que dizem deitar abaixo o Executivo se a guerra acabar sem os objectivos todos alcançados, por outro, Netanyhau sabe que assim que o conflito terminar, voltará a ter de enfrentar a justiça, onde estava a ser julgado por sérias suspeitas de corrupção e peculato e branqueamento de capitais.

E ainda porque,assim que terminar a invasão israelita de Gaza, o seu Governo vai ter de explicar como é que as mais famosas, e efectivamente das mais poderosas do mundo, unidades de intelligentsia, a Mossad, (externa), o Shin Bet (interno) e a AMAN (militar), além da parafernália tecnológica que vigia a fronteira, não deram conta de que um grupo de mais de mil combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica estavam a preparar o assalto a Israel de 07 de Outubro.

Al Jazeera invadida e fechada em Israel

Entretanto, o mais activo canal de televisão internacional a cobrir esta guerra, a Al Jazeera, do Catar, que tem sido responsável pela divulgação das mais brutais imagens da mortandade em Gaza provocada pela invasão israelita, acaba de ser fechada neste país.

Não é propriamente uma surpresa, porque, como o Novo Jornal já tinha noticiado, o Parlamento já tinha aprovado legislação para inibir a difusão deste canal em Israel, estando apenas em falta a concretização.

Todavia, agora fica mais claro que o Governo israelita aposta na censura como medida de redução de danos da sua guerra em Gaza, porque as excruciantes imagens da Al Jazeera têm feito mais danos à imagem de Israel que os roquetes do Hamas à sua infra-estrutura militar.

A direcção do canal do Catar já condenou a decisão de Israel, considerando que se trata de um "acto criminoso" e que se trata de um atentado à liberdade de imprensa que consubstancia um crime à luza da lei internacional.

O que Israel pretende é "esconder dos olhos do mundo" as suas operações de terror em Gaza, acusa ainda a estação.