Milhões e milhões de gafanhotos-do-deserto avançam imparáveis por sobre as culturas agrícolas dos países do Leste africano, sem que, até agora, tenha sido possível, apesar dos esforços em curso, travar esta praga "bíblica".
Com as culturas de milho, sorgo, feijão e outras a desaparecerem por debaixo da voracidade dos insectos que se deslocam em nuvens que tapam o sol, comunidades inteiras vão viver dramáticos períodos de fome, numa área geográfica já atormentada por este problema há muito tempo.
Este é a prior praga de gafanhotos no Quénia em 70 anos e na Somália e da Etiópia, onde os enxames se formaram, há pelo menos 30/40 anos que a situação não atingia esta gravidade, exponenciada agora com a prolongada seca gerada pelas alterações climáticas.
Perante este problema que se agiganta, as Nações Unidas estão a procurar meios de combate a este tipo de praga para ajudar os países afectados, nomeadamente aviões para dispersar por via aérea os pesticidas comummente utilizados nestes casos, com o máximo de urgência.
Isto, porque com o aproximar de Março, altura do ano em que começa a chover nesta região, com o surgimento de nova vegetação, o número de gafanhotos pode crescer 500 vezes, adverte a Organização da ONU para a Agricultura (FAO).
Para evitar que esse cenário, o pior de todos, se transforme em realidade, são necessários cerca de 70 milhões de dólares para a utilização de pesticidas a partir do ar, sendo que a experiência das organizações internacionais indica que o recurso a meios aéreos é a única forma eficaz de combater este tipo de praga, que, por dia, pode consumir o suficiente para alimentar uma comunidade de 50 mil pessoas.
Apenas um enxame pode contar 150 milhões de gafanhotos e por esta vasta região de três países há registo de dezenas de enxames e debaixo das suas asas desaparece a alimentação das pessoas e dos animais, multiplicando a gravidade da situação.
Um dos problemas existentes é, no entanto, chegar a todos os pontos-berço dos gafanhotos, como na Somália, onde vastas áreas do seu território estão sob domínio de grupos de jihadistas ligados ao al-shabab, com ligações à al-qaeda do Magrebe.