Os principais motivos são o deslocamento de pessoas, a destruição da infraestrutura e a interrupção das actividades agrícolas. A combinação desses factores está a levar "à escassez generalizada de alimentos" e ao aumento da vulnerabilidade à fome.

A RDC acolhe uma das maiores populações deslocadas do mundo e foi classificada como uma das crises de deslocação mais negligenciadas do mundo nos últimos sete anos, de acordo com o relatório anual do Norwegian Refugee Council (NRC).

Cerca de 6,3 milhões de pessoas estão deslocadas internamente no país. Desse total, aproximadamente 6 milhões vivem nas três províncias orientais.

O secretário-geral do NRC, Jan Egeland, depois de visitar a província de Ituri esta semana, afirmou que "os últimos meses trouxeram uma deterioração dramática da situação no leste do país, onde inúmeros civis são atacados impunemente".

"Níveis extremos de violência, fome e deslocamento recebem escasso financiamento, apatia e negligência da comunicação social. O mundo está a negligenciar uma crise humanitária de proporções imensas numa região onde as necessidades humanitárias têm sido enormes há décadas", afirmou Jan Egeland, declarando que "a falta de atenção ao sofrimento sem precedentes no leste do Congo é imperdoável".

"As recentes campanhas militares e massacres causaram uma emergência aguda num cenário de décadas de profunda crise e negligência. A comunidade internacional deve apoiar uma resposta que corresponda mais amplamente à gravidade da situação na província de Ituri e no leste da RDC", defende, juntando o seu apelo ao do director nacional do Programa Mundial de Alimentos (PMA), Peter Musoko, que pediu a "atenção imediata" de governos, doadores e parceiros humanitários".

"O povo do leste da RDC precisa desesperadamente que a comunidade internacional intensifique a ajuda financeira, política e diplomaticamente para colmatar a lacuna", defende.

Outra das vozes que se levanta para chamar a atenção para a catástrofe vivida no país vizinho de Angola é a de Pauline Ballaman, directora nacional do Norwegian Refugee Council na RDC

A violência desenfreada de grupos armados na província de Ituri deslocou mais de 550 mil pessoas nos últimos meses, contribuindo para um total de 1,7 milhões que tiveram de fugir das suas casas. Em Junho, um ataque ao local de deslocamento de Lala resultou na morte de 46 pessoas, a maioria das quais crianças e idosos, incapazes de correr. Mais de 7.800 outras pessoas foram forçadas a fugir do local.

"A situação em Ituri é uma emergência negligenciada dentro de uma crise já negligenciada. A escala da violência contra civis levou a um crescimento exponencial no número de pessoas forçadas a fugir", declara Pauline Ballaman.

As agências internacionais chamam ainda atenção sobre o sector da educação, que foi particularmente afectado pela crise, com mais de 1 em cada 3 crianças fora da escola no início de 2022 e mais de 230 escolas fechadas em Ituri durante o ano, de acordo com a UNICEF.

Uma em cada sete mulheres em todo o país sofreu violência sexual antes dos 18 anos, e o problema é ainda mais grave nas comunidades afectadas por conflitos.