As autoridades congolesas têm anunciado, nos últimos dias, a descoberta sucessiva de corpos de aldeões mutilados, numa evidência da acção de guerrilheiros, num total de 19, atribuindo as mortes às ADF, uma das mais violentas guerrilhas com acção no leste da RDC, especialmente no Kivu Norte e Sul e em Ituri, desde a década de 1990, especialmente depois do genocídio de 800 mil tutsis às mãos da maioria Hutu, no vizinho Ruanda, em 1994, que levou a que o leste congolês fosse escolhido como refúgio e "casa" de milhares de ruandeses, incluindo milícias armadas e guerrilhas, tendo igualmente desestabilizado os países vizinhos.
De acordo com informações avançadas pelas agências de notícias, estes 19 corpos, as últimas vítimas da acção criminosa das ADF no Kivu Norte, foram encontrados em locais e dias distintos, nesta que é uma província que alberga milhares de deslocados internos e antigos refugiados dos vizinhos Uganda e Ruanda, entre outros.
No entanto, estes ataques, que se repetem há décadas, seja pelas ADF, seja pelas igualmente violentas FDLR (guerrilha proveniente do Ruanda), levaram o Governo de Kinshasa, especialmente depois da chegada ao poder do Presidente Félix Tshisekedi, e da morte do embaixador italiano na região, quando seguia numa caravana da ONU, a procurar encontrar soluções para garantir a paz e a estabilidade no leste do Congo, o que só será possível com a expulsão ou aniquilação das múltiplas guerrilhas e milícias que ali operam com relativa impunidade.
Um dos motivos mais recentes para que a comunidade internacional esteja a olhar para esta região dos Grandes Lagos de forma diferente é o perigo real, como já o fizeram saber os bispos católicos da RDC (CENCO), da tomada da região por grupos de islâmicos radicais - as ADF têm uma forte componente islâmica -, como sucedeu no norte de Moçambique, com o al-shabbab.
E, também por isso, seguramente, os Estados Unidos da América têm, há cerca de três semanas, um grupo militar de especialistas no combate a este tipo de guerrilha e ao terrorismo, de forma, segundo a rádio nas Nações Unidas, Okapi, avaliar com as FARDC uma estratégia de acção para esse fim.
O que passa, ainda segundo a Radio Okapi, por planificar e montar estratégias para combater o terrorismo na região de Beni, uma das mais fustigadas cidades desta área do Congo, tendo estes chegado ao terreno acompanhados do embaixador americano no país e um grupo de senadores, que se encontraram com o governador local, o general Constant Ndima, que ocupa o cargo desde que ali foi decretado o estado de sítio, há cerca de três meses.
É ainda pouco ou nada segredo que a RDC, particularmente no leste do país, é um dos grandes depósitos mundiais de minerais estratégicos, como o coltão, cobalto, entre outros, que interessam sobremaneira à indústria chinesa e norte-americana, pela importância que têm para o fabrico e produção de componentes para materíal informático e ligas resistentes utilizadas na indústria da aviação ou na produção de energia verde.
Para Angola esta violência é igualmente forte razão de preocupação, até porque tem com a RDC uma fronteira superior a 2.500 quilómetros, como ficou claro nas acções conduzidas há mais de uma década, seja pelo ex-Presidente José Eduardo dos Santos, seja pelo actual, João Lourenço, que ocupa a chefia da CIRGL desde Novembro de 2020, a partir de onde desenvolve uma intensa actividade diplomática no sentido de encontrar respostas que garantam a estabilidade da região dos Grandes Lagos.