E se os media russos destacam este ponto da entrevista, isso pode ser analisado como existindo um ambiente propício a negociações com Kiev em Moscovo face ao crescente cansaço da guerra também na Rússia.
Para justificar a acusação, Donald Trump, que era largamente favorito à vitória, segundo as sondagens, antes de Kamala Harris substituir Joe Biden no boletim de voto dos democratas, e agora aparece taco a taco, disse a Elon Musk que em Fevereiro de 2022, Putin enviou forças militares para a fronteira apenas com o objectivo de pressionar Kiev a negociar.
E foram as "ameaças estúpidas" de Joe Biden à Rússia, como garantir a entrada da Ucrânia na NATO, que levou ao deflagrar da guerra, cujo responsável é "o baixo nível de inteligência" do actual Presidente norte-americano.
Ao "jornalista" Musk, Trump, numa conversa transmitida em directo na rede social X, explicou que as palavras impensadas de Biden levaram o mundo para a beira do abismo nuclear, o que jamais aconteceria se ele se tivesse mantido na Casa Branca.
De acordo com o antigo Presidente, Biden não percebeu que Vladimir Putin, ao enviar formas militares para a fronteira com a Ucrânia, estava apenas a usa uma "táctica negocial" de forma a conseguir cedências de Kiev no capitulo da neutralidade, fora da NATO, e no capitulo da protecção das populações russófilas no leste ucraniano do Donbass...
"Como Putin é um bom negociador, pareceu-me que ele estava a colocar tropas na fronteira para negociar, mas, depois, Biden abriu a boca para dizer coisas estúpidas como, por exemplo, que a Ucrânia iria entrar na NATO, o que a Rússia jamais poderia aceitar", explicou Trump.
E, naquela que foi intitulada como a entrevista do século a Elon Musk, Donald Trump, que atravessa uma fase complexa da sua campanha, com a adversária a subir nas sondagens e a aparecer à sua frente em alguns estados cruciais, garantiu que "teria conseguido ravar a guerra".
"Um Presidente inteligente teria conseguido impedir a guerra, porque o eu Biden fez sem se dar conta, porque é estúpido, foi colocar o mundo à beira da III Guerra Mundial", disse, acrescentando que tem uma relação amistosa com Putin mas que o ameaçou pessoalmente se enviasse tropas para a Ucrânia.
"Não faças isso, Vladimir, não faças isso... porque se o fizeres, vai ser um dia muito mau. Disse-lhe o que eu faria caso não me ouvisse... e ele disse `nem pensar, e eu retorqui, pensa sim e pensa bem", contou Trump das conversas que manteve com o Presidente russo, que incluíram ainda o aviso de que "seria a última vez que falariam sobre este assunto".
Mas a televisão russa RT, no seu site, nota que o Kremlin nunca confirmou ou desmentiu a existência deste tipo de conversas entre Vladimir Putin e Donald Trump enquanto este foi Presidente dos Estados Unidos.
Recorde-se que Trump tem afirmado, desde há já alguns meses, embora sem explicar como, que vai acabar com a guerra na Ucrânia em 24 horas, assim que vencer as eleições de 05 de Novembro, não precisando mesmo de tomar posse, no início de 2025.
No entanto, segundo alguns analistas, a possibilidade de um regresso de Trump à Casa Branca tem levado o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a mudar o tom da sua retórica de guerra, acomodando mesmo a possibilidade de negociações com a Rússia.
Isto, porque uma das formas mais óbvias de Trump acabar com a guerra seria cortar radicalmente o apoio a Kiev, tanto em dinheiro como em armas, o que deixaria Zelensky sem meios para manter o esforço de guerra, visto que os seus aliados europeus, além de estarem já a ressentir-se do cansaço das consequências da guerra, estão igualmente a procurar sair de cena...
Outra, menos radical, seria, embora isso fosse prolongar a guerra além das suas "24 horas", acabar com as ofertas a Kiev e passar tudo para a condição de empréstimos de dinheiros e vendas de material militar, o que deixaria Kiev à beira do colapso financeiro.
Isto, quando as agências de rating, como a Fitch, estão já a colocar Kiev na condição de iminente incumprimento, ou "default", por incapacidade de pagar a sua estratosférica dívida externa.