E não são, segundo Volodymyr Zelensky, apenas esquadrões de F-16, os caças que vários países já ofereceram a Kiev, segundo o Presidente ucraniano estão também na calha outros modelos de aviões de guerra para reforçar as capacidades aéreas ucranianas.
O anúncio foi feito em Itália, à margem da reunião do G7 em Bari, no sul deste pais europeu, onde Zelensky e o Presidente norte-americano Joe Biden assinaram um acordo bilateral de segurança de 10 anos que inclui o envio de mais "caças" para Kiev, embora sem especificar quais.
Esse acordo, que é muito semelhante aos 15 anteriores assinados com países europeus, distinguindo-se apenas na quantidade de armamento a fornecer a Kiev, configura garantias norte-americanas de contínuo apoio à Ucrânia em armas, treino e informação estratégica...
No entanto, tal como os restantes, este acordo não é à prova do tempo, porque, ao não ter passado pelo crivo do Congresso, se ocorrer uma mudança de inquilino na Casa Branca, como pode suceder já em Novembro, nas eleições Presidenciais norte-americanas, se Denald Trump, como as sondagens indicam, vencer, poderá anulá-lo.
O estranho negócio com o dinheiro russo congelado
Mas o mais relevante, no contexto da guerra na Ucrânia, que está a ser noticiado da Cimeira dos sete países do Ocidente Alargado mais ricos, o G7, em Itália, é a conclusão de um longo processo para definir a forma como os mais de 200 mil milhões USD russos que foram congelados em bancos e instituições financeiras europeias serão usados a favor de KIev.
E a solução final, depois de ter sido ponderado pura e simplesmente entregar esse dinheiro aos ucranianos, foi usar os juros com origem nesses milhões para pagar um empréstimo de 50 mil milhões USD feito pelo G7 para entregar à Ucrânia.
Ou seja, os bancos não mexem no dinheiro mas usam os juros que este rende para entregar aos Governos europeus que os vão usar para pagar um empréstimo colectivo de 50 mil milhões USD destinado aos cofres ucranianos para alimentar o seu esforço de guerra.
Este passo arriscado já mereceu uma reacção severa de Moscovo, com Maria Zhakarova, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, a dizer que a Rússia vai ripostar com severidade, embora sem dar pormenores sobre esse contra-ataque, nem sequer se será meramente financeiro.
No entanto, como lembrou o analista em relações internacionais e política global, Tiago André Lopes, na CNN Portugal, este "negócio" pode ser um problema a prazo, porque quando forem encetadas negociações para acabar com o conflito, o dinheiro russo será descongelado e deixará de estar disponível para esse propósito, o que obrigará os países europeus a pagar os encargos com o empréstimo.
Além disso, como tem sido igualmente sublinhado por diversos analistas, este passo é ainda muito arriscado porque todos os países fora do contexto europeu, nomeadamente africanos, asiáticos, sul-americanos..., que tenham dinheiro aplicado nos bancos e instituições financeiras ocidentais sabem a partir de agora que esses valores não estão seguros e podem pensar em deslocá-los para portos mais seguros.
As más notícias para Kiev
Apesar deste intenso colorido das promessas ocidentais de apoio a Kiev, a verdade é que, pelo menos para os media ocidentais pró-ucranianos, que são praticamente todos, os EUA e os europeus, além da NATO, acabam por ceder na mais relevante exigência russa.
A não entrada da Ucrânia na NATO é a mais densa e rubra linha vermelha desenhada no chão ucranianos com sangue e o Presidente Joe Biden já disse que essa porta vai estar fechada no horizonte visível, o chanceler alemão, Olaf Scholz, falou num mínimo de 30 anos, e o secretário-geral da NATO; Jens Stoltemberg, sublinhou que Kiev só entrará depois de derrotar a Rússia, que é algo que todos os analistas admitem ser cenário totalmente improvável.
"Temos de garantir que a Ucrânia consegue derrotar a Rússia, porque sem isso ser conseguido, a entrada na NATO é um assunto fora da agenda e sem discussão possível", disse Stoltenberg.
Ora, com este afastamento definitivo de entrada da Ucrãnia na NATO, e com a evidente superioridade russa no campo de batalha, pelo menos no cenário actual, a saída dos territórios anexados é igualmente carta fora do baralho das exigências de Kiev e dos seus aliados ocidentais.
O que deixa como derradeira exigência de Moscovo ainda por cumprir, além de concluir a ocupação dos territórios das regiões anexadas em 2022, Kherson, Lugansk e Zaporizhia, a desnazificação do regime ucraniano, que é uma exigência com contornos difíceis de definir, e facilmente acomodável num eventual início de processo negocial para a paz.
Ainda por cima, como sublinhou ainda Tiago André Lopes nos últimos dias, os acordos assinados por Kiev com os seus aliados ocidentais, o último com os EUA, permite que, mesmo fora da NATO, esses países possam dar garantias de segurança posterior a um acordo de paz com Moscovo.
Maria Zhakarova, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, referiu-se, já nesta sexta-feira, 14, ao acordo com os EUA um "pedaço de papel sem valor", disse mesmo que, tal como os outros assinados com países europeus, "não é nada, não tem qualquer importância".
A porta-voz do centro de comando político da diplomacia russa disse ainda que se trata de uma encenação para fazer parecer aos ucranianos que continuam a ir para as trincheiras para morrer que as grandes potências ocidentais continuam a apoiá-los.
Mas deixou um recado para o interior da Ucrânia: "Estes acordos são, na verdade, os países ocidentais a "desistirem de qualquer responsabilidade quanto ao futuro da Ucrânia".
Cimeira da paz ucraniana na suíça em sérias dificuldades
Depois de se saber que as grandes potências do Sul Global, como a China, a Índia, o Brasil, a Arábia Saudita, África do Sul, ou, entre outros, a Indonésia, recusaram ir à Cimeira da Paz organizada pela Ucrânia e pela Suíça, na Suíça, para este fim-de-semana, os objectivos inicialmente propostos começaram e estão a ser mudados de forma acelerada para dar alguma credibilidade ao momento.
Nem sequer o Presidente dos Estados Unidos estará presente, apesar de estar por estes dias na Europa, em Itália, na reunião do G7, enviando a sua apagada politicamente vice-Presidente, Kamala Harris.
Depois de terem entusiasticamente recusado a presença russa, como era pretensão da Suíça, o regime ucraniano começa agora a dar o braço a torcer e aceitou, pelo menos é o que avança o site swiss.info, tirar do draft" da declaração final desta Cimeira de Lucerna a questão mais sonora do Plano de Paz de Zelensky, que é a exigência da saída sem condições das forças russas dos territórios ocupados.
Com apenas 78 confirmações, e na sua maioria com representações e delegações de segunda linha, esta Cimeira deixou de ser de Paz para ser apenas a Cimeira de legitimação de Volodymyr Zelensky, cujo mandato terminou a 20 de Maio, mantendo-se sem realizar eleições no cargo por conta da Lei Marcial em vigor, havendo, no entanto, dúvidas sobre sua a constitucionalidade.
Alias, o fracasso é já de tal monta que os co-organizadores suíços já tornaram público que este encontro passou a ter como única função efectiva a preparação de uma efectiva Cimeira de Paz que poderá ocorrer ainda este ano e já com uma delegação russa presente.
Mas, para isso, Zelensky terá de anular o seu decreto Presidencial onde se proíbe a si mesmo de quaisquer negociações com Vladimir Putin, directa ou indirectamente.
Há, porém, vários analistas que começam a adivinhar um cenário onde estão a decorrer negociações secretas envolvendo os EUA e a Rússia, como o permite perscrutar o facto de Biden, Scholz e Stoltenberg terem vindo afastar em definitivo a entrada da Ucrânia na NATO e a questão territorial ter saído, aparentemente com acordo de Kiev, do documento final em preparação no âmbito da Cimeira suíça.