Dmitri Peskov disse ser de "uma grande irresponsabilidade" Lloyd Austin ter colocado como facto a inevitabilidade da guerra entre a Federação Russa e a Aliança Atlântica no caso de os russos saírem vitoriosos no conflito com os ucranianos.
"Estamos a ouvir declarações extremamente irresponsáveis vindas de várias capitais europeias, e agora do outro lado do mar", disse Dmitri Peskov, que explicou, citado pela Lusa, que as palavras de Lloyd Austin "conduzem a um novo aumento da tensão".
Peskov acrescentou que as declarações do secretário de Estado dos EUA "demonstram de facto a visão da NATO" no contexto da guerra na Ucrânia, alegando que a Aliança Atlântica "olha para a Ucrânia como parte do seu território".
O porta-voz do Kremlin sublinhou que as declarações do chefe do Pentágono "demonstram mais uma vez que o que a Rússia está a fazer é totalmente correto", referindo-se à invasão da Ucrânia.
Esta reacção de Moscovo surge algumas horas depois das palavras "insensatas" de Austin, o que evidencia que o Kremlin esteve a analisar com tempo a forma mais adequada para o efeito, porque é já de saber comum que um confronto entre NATO e Rússia é sinónimo de cataclismo nuclear.
Tanto o Presidente russo, Vladimir Putin, como o norte-americano, Joe Biden, pouco depois do início da invasão russo, em Fevereiro de 2022, admitiram que se ocorrer um confronto entre a NATO e a Federação Russa, isso levará inevitavelmente ao recurso aos arsenais nucleares.
Lloyd Austin enquadrou a sua convicção de que NATO e russos podem entrar em guerra com a ideia de que o Presidente Putin não vai parar de avançar para o ocidente europeu se ganhar a guerra com a Ucrânia.
No seu discurso à Nação proferido na quinta-feira, no Parlamento russo, Putin considerou como "sem sentido e patéticas" as afirmações de líderes ocidentais de que a Rússia pretende invadir quaisquer países europeus.
Putin já disse por diversas vezes ao longo dos dois anos de guerra que a Rússia tem território suficiente, atravessa 11 fusos horários, e não precisa de aumentar a sua geografia, apesar de ter anexado entre 2014 e 2022 cinco regiões ucranianas, embora tenha justificado com o "húmus" russófono e russófilo dessas mesmas regiões do leste ucraniano integradas na Federação.
Vários analistas militares consideram que mesmo que Putin tivesse essa vontade, não possui poder militar mínimo para tentar entrar, por exemplo, na Polónia ou na Roménia, os países da NATO mais próximos da Ucrânia, ou mesmo os três Estados bálticos.
Todavia, esta possibilidade ganhou tracção já esta semana depois de o Presidente francês, Emmanuel Macron, ter dito em Paris, no âmbito de uma reunião com aliados europeus de Kiev, que o envio de militares dos países da NATO para a Ucrânia está em cima da mesa.
Esta declaração de Macron foi rechaçada de imediato por todos os países da NATO, incluindo os mais agressivos em relação a Moscovo, como a Polónia, o Reino Unido ou os EUA, precisamente porque se sabe que isso levará a um Armagedão nuclear.