Basta olhar para o alinhamento dos media russos oficiais, como a TASS, a agência de notícias estatal, para ser evidente a supremacia de conteúdos apontando para a existência de uma raiz ucraniana na morte de mais de 130 pessoas pelos quatro assassinos contratados.
A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa, Maria Zakharova, recorreu mesmo à ironia para questionar a forma acelerada como em Washington, poucas horas após o ataque, já terem concluído que os ucranianos nada tiveram a ver com o atentado.
"Eles (os Estados Unidos) precisaram apenas de um par de horas para pegarem num microfone, ligarem as luzes, chamarem a imprensa e atirar-lhes para cima a sua certeza de quem acusar pelo sangrento ataque terrorista", apontou com ironia.
Como sucede com o conflito na Ucrânia, os aliados ocidentais da Ucrânia, e o próprio regime ucraniano, e a Rússia não seguem o mesmo diapasão e, neste caso, o mesmo está a suceder, embora não parece haver sinais de que em Moscovo se vá mudar o "chip" da culpa de Kiev.
Isso mesmo fica evidente quando se olha para o fio noticioso da TASS, mas também dos grandes jornais russos ou os seus canais internacionais, como o Grupo Sputnik ou a Russia Today (RT), onde sobressai o dedo apontado à Ucrânia.
Os dados apresentados para justificar a culpabilidade ucraniana são, essencialmente, dois:
- a fuga dos terroristas em direcção à fronteira ucraniana na zona de Briansk, tese cada vez mais frágil, porque o Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, segundo The Guardian, veio agora dizer quês estes procuravam entra no seu país e não na Ucrânia.
- o `estado islâmico" não tem ao seu serviço indivíduos como os detidos, que agem por dinheiro e se rendem sem luta, nem glória nem honra, com os próprios a confirmarem que foram contratados por desconhecidos nas redes sociais para causar este terror.
Logo na primeira abordagem em público que o Presidente Putin fez sobre as investigações em curso, onde admitiu que a autoria material fora de terroristas islâmicos, deixou bem patente a sua convicção da existência de uma ligação ao regime ucraniano.
A empenhada aparição da porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova, sublinhando ainda que os EUA se "refugiaram num canto" apontando o dedo ao `estado islâmico" quando deviam "pensar melhor" no que querem mesmo dizer, demonstra que o Kremlin não vai deixar cair esta tese sem dar luta.
Mas os analistas mais sóbrios neste contexto, mesmo os mais inclinados para as posições de Moscovo, começam a admitir que se houvesse uma clara identificação de uma linha ucraniana na origem deste atentado, não só já tinha sido dada à estampa como teria havido consequências no campo de batalha ucraniano.
Esta questão poderá, no entanto, chegar ao fim rapidamente porque o mais leal e próximo aliado de Moscovo, o Presidente bielorusso, Alexander Lukashenko, em declarações à agência de notícias do país, a Belta, defendeu que os quatro terroristas tajiques se dirigiam para a Bielorrússia e não para a Ucrânia.
De facto, esta possibilidade já tinha sido levantada logo após a sua detenção na região de Briansk, que fica, efectivamente, próxima da Ucrânia, mas também a caminho da Bielorrússia.
Mas ainda pior para a tese do Kremlin, é que Lukashenko diz, ainda à Belta, que os quatro indivíduos perceberam que a fronteira da Bielorrússia estava demasiado bem vigiada para entrarem e procuram em alternativa a fronteira da Rússia com a Ucrânia.
Além disso, o `estado islâmico", através dos seus sites e da agência oficial, a Amaq, já, reiteradamente, reivindicou o atentado e publicou mesmo vídeos feitos pelos autores do ataque quando disparavam indiscriminadamente sobre centenas de pessoas no "Crocus".
Nesse ataque morreram, segundo a TASS, 137 pessoas, e mais de 130 ficaram feridas, na sua maioria devido a ferimentos de bala e em consequência do fogo que alastrou no edifício atacado devido às explosões causadas pelos atiradores.
Terminam buscas no local do atentado e começou a remoção de escombros
O Ministério de Situações de Emergência russo anunciou esta terça-feira o fim das buscas no local do atentado de sexta-feira, que fez pelo menos 139 mortos e 180 feridos na sala de concertos Crocus City Hall, na periferia de Moscovo.
"As equipas de resgate do Ministério de Situações de Emergência da Rússia concluíram as operações de busca no Crocus [City Hall]", lê-se no comunicado oficial citado pela Lusa.
Os especialistas intervieram para colmatar as consequências do incêndio ateado pelos atacantes e terminaram a retirada manual dos escombros.
"Os trabalhos posteriores serão realizados mecanicamente, utilizando equipamentos de engenharia", acrescentou o ministério russo.
No total, estiveram envolvidos nas operações de busca e resgate mais de 1.000 especialistas e 300 equipas.