Numa recente declaração, produzida na Carolina do Sul, no âmbito da pré-campanha para as eleições Presidenciais de 05 de Novembro, Donald Trump deixou os membros da NATO, a aliança militar criada em 1949 para travar o avanço da então URSS para oeste, na Europa, e que tem sido o veículo de todo o apoio ocidental à Ucrânia na guerra com a Rússia, de boca aberta.
Isto, porque, como também já dizia quando ocupou a Casa Branca, entre 2016 e 2020, Donald Trump entende que os países europeus estão a explorar os EUA recusando pagar os custos da sua própria defesa no âmbito da NATO, dizendo que se trata de uma organização inútil e que os EUA devem ignorá-la se os seus parceiros europeus não chegarem rapidamente aos 2% do seu Produto Interno Bruto com gastos na aquisição de armas, aos EUA, inevitavelmente.
E se tal não suceder, se voltar ao poder em Novembro, Trump, usando como referência a guerra na Ucrânia e a vaga de lideres europeus a dizerem que em cinco anos haverá uma guerra da Europa ocidental com a Rússia - o que o Presidente russo, Vladimir Putin, numa recente entrevista, considerou uma ideia insensata e sem fundamento algum -, disse que se esse cenário viesse a ocorrer só não levaria os EUA a ajudar os seus aliados como incentivaria Moscovo a invadi-los.
Como é já natural em Donald Trump, esta sua bizarra afirmação levou a uma reacção em cadeia entre os países europeus da NATO, com a incredulidade de tais palavras, sendo o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, que veio à boca do palco sintetizar a posição dos Estados-membros da Aliança Atlântica.
Stoltenberg disse que "qualquer sugestão de que os aliados não se defendem mutuamente em caso de ameaça, mina toda a estrutura de segurança no seio da NATO, incluindo a dos EUA, colocando em perigo os militares que estão ao serviço da NATO".
Porém, estas palavras, sendo mais ruidosas e bizarras, porque o antigo Presidente norte-americano disse, pela primeira vez, sem mostrar que estava a ser irónico, que vai incentivar Moscovo a invadir os países da Europa ocidental que não pagarem as contas da sua defesa, o que, na verdade, deve ter enfurecido tanto os países europeus da NATO como o Kremlin de Vladimir Putin, não são, de todo, novas na boca de Donald Trump.
"Se não pagarem, são delinquentes", acusou Trump, referindo-se aos aliados europeus dos EUA, frisando que não os vai proteger em caso de ataque, caso não atinjam rapidamente os 2% dos seus PIB"s com gastos na Defesa, o que são valores gigantescos na perspectiva das sociedades ocidentais, que, de todo, não podem acompanhar os níveis de gastos dos Estado Unidos com as guerras que alimentam a sua gigantesca indústria de armamento, que seia, em última análise, o beneficiário directo do aumento dos gastos europeus nesta área.
Por exemplo, Portugal, um dos países com o PIB mais reduzido da NATO, em 2024 deverá gastar até 2.85 mil milhões de euros na Defesa, cerca de 1,3% do PIB do país, sendo uma exigência quase impossível de assimilar que estes gastos atinjam os 2%, quando, como sucede no resto da Europa, sectores como a Saúde, a Habitação, a Educação ou a transição energética estão à beira da ruptura devido à exiguidade orçamental para estas áreas.
Porém, se estas palavras de Trump são um incómodo para os aliados europeus dos EUA, na perspectiva política, porque na área militar, são palavras úteis, visto que ajuda no argumento dos que defendem mais dinheiro para a Defesa, como o demonstram as recentes declarações sobre uma hipotética urgente preparação para a guerra com a Rússia, onde verdadeiramente Trump deve ter acusado amargos de boca, foi em Moscovo.
Isto, porque, sendo conhecida a relação de proximidade entre Trump e Putin, este discurso impensado do ex-Presidente norte-americano, que tem vindo a dizer que acaba com a guerra na Ucrânia em 24 horas assim que voltar à Casa Branca, ajuda à retórica ocidental de um alegado plano global de conquistas russas na Europa para refazer o antigo império Soviético.
Tal ideia foi sempre contrariada por Moscovo, tendo mesmo o Kremlin dito que se há país que não precisa de mais territórios é a Rússia, o mais vasto do mundo, com 11 fusos horários, que vão do extremo Oriente, no Pacífico, às portas da Europa, no Báltico, o que deixa em suspenso o que vai dizer Putin ao seu "amigo" americano.
Mas Trump não se ficou por aqui e espalhou também o pânico por Kiev, ao defender que, com ele na Casa Branca, qualquer financiamento à Ucrânia, mesmo que defenda que estes devem terminar, deve ser feito na forma de empréstimo e não uma oferta
Numa recente publicação nas redes sociais, Trump escreveu que os EUA têm de deixar de dar dinheiro sem uma clara garantia de que vai ser devolvido.
"Nós não podemos dar mais dinheiro sem garantias de que vai ser pago, ou sem garantir o seu controlo no pacote. Os EUA não vão voltar a ser estúpidos", escreveu o antigo inquilino da Casa Branca, numa altura em que o Congresso se bate pela aprovação de um pacote de mais de 118 mil milhões USD para a Ucrânia e para Israel e para as fronteiras, sendo que os republicanos de Trump estão a bloquear a sua aprovação para impedir o envio de mais dinheiro para Kiev.
Apesar desta retórica, alimentada pelos media norte-americanos, destacando que os EUA são o maior financiador da Ucrânia nesta guerra com a Rússia, a verdade é relativamente distinta, porque, por exemplo, no que diz respeito ao seu PIB, a Polónia deu mais dinheiro a Kiev que Washington, chegando aos 3,9%, mais 0,4% que os americanos.
O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, depois das palavras de Trump, veio mesmo a público pedir explicações e a pergunar directamente a Donald Trump: Se a Polónia for atacada, os Estados Unidos vão ficar parados e quietos?.
"Vai ou não demonstrar uma total solidariedade com os países da NATO no caso de uma confrontação que se ergue como de longa duração com a Rússia?", apontou Donald Tusk.
Sobre este contexto de onde sobressai o uso da ameaça russa sobre a Europa ocidental, o Presidente russo, Vladimir Putin, disse na entrevista ao polémico jornalista norte-americano, Tucker Carlson, que os governos ocidentais "estão a intimidar as suas próprias populações com uma imaginária ameaça da Rússia".