A justificação para a censura aos media russos é comum a europeus, norte-americanos e à META, de Zuckerberg: o Kremlin usa os seus media para interferir nas decisões nacionais dos países europeus e dos EUA, usando tácticas de manipulação sofisticadas em ligação com a intelligentsia russa.

Tal como a presidente da União Europeia, Ursula von der Leyen, quando, em 2022, fechou a porta aos media russos, especialmente à RT, a televisão russa virada para o exterior, em diversas línguas, incluindo inglês, francês e árabe, também o chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, não confia na capacidade dos cidadãos norte-americanos para se defenderem das manobras manipulatórias destas "ferramentas" do Kremlin.

Em Washington, o secretário de Estado Blinken, na semana passada, anunciou as sanções aos medias russos, nomeando especialmente a RT como "um braço armado da intelligentsia russa" que é usada pelo Kremlin para "minar a democracia norte-americana".

Esse trabalho "sujo" é, segundo Binken, realizado por "uma unidade embebida na RT com capacidades operacionais sofisticadas e com ligações claras às secretas russas", indo mesmo ao ponto de acusar a RT de estar por detrás de "operações de contra-informação, de influência manipulatória e de intelligentsia militar em África, Europa, e América do Norte e do Sul".

A tentativa de manipular as eleições Presidenciais de 05 de Novembro próximo é a grande preocupação da Casa Branca para avançar com esta medida.

Na resposta, a RT classificou as palavras de Antony Blinken como "elementos de teorias de conspiração sem qualquer fundamento", tendo a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zhakarova, ironizado ao afirmar que "há agora uma nova profissão nos EUA, que é a de especialista em sanções à Rússia".

E a chefe de redacção da RT, Margarita Simonyan, citada pela britânica BBC, recorrendo igualmente à ironia, avançou que os elementos da equipa da televisão russa que trabalha nos EUA tiveram excelentes professores" porque, explicou, ainda citada pela BBC, "quase todos eles estudaram nos Estados Unidos e com bolsas financeiras fornecidas pelos EUA".

Escassos quatro dias passados deste anúncio de Blinken, também a META, de Mark Zuckerberg, anunciou, esta terça-feira, 17, que vai banir os media russos estatais das suas plataformas usando precisamente as mesmas justificações de Blinken para o efeito, acrescentando que esses mesmos media usam técnicas para se evadirem à detecção nas redes sociais.

"Depois de cuidada consideração, expandimos o nossos esforço contra a presença dos media russos estatais das nossas plataformas para combater a sua actividade nefatsa de interferência global", explicou a META, citada pela russa RT.

A RT diz que este passo da META ocorre depois de anos em que a empresa de Mark Zuckerberg, a maior companhia de medias sociais no mundo, ter dado sucessivos passos para reduzir a sua exposição nas suas apps, limitando ou mesmo bloqueand-a de aparecer, levando os seus "posts" a um confinamento quase total.

Entretanto, na linha da frente...

... as forças russas ganham cada vez mais espaço em território ucraniano, com o quase colapso da resistência de Kiev no leste, enquanto na região de Kursk, onde os ucranianos ocuparam nas últimas semanas cerca de 1000 kms2, está em curso uma forte contra-ofensiva das forças do Kremlin.

Ironicamente, à medida que a Rússia perde "território" no ciberespaço ocidental, ganha, soma, em sentido oposto, geografia ucraniana na frente de batalha de mais de 1200 kms que já existe há quase três anos, depois da invasão russa em Fevereiro de 2022.

O risco da escalada fica fora das redes e dos media ocidentais, mas está bem visível na guerra da Ucrânia.

Isto, porque nas últimas duas semanas, no palco da guerra na Ucrânia, foram férteis em noticiário sobre a autorização por parte de norte-americanos e britânicos do uso dos seus misseis de longo alcance para Kiev atacar em profundidade o território russo.

Algumas das possíveis consequências desse, até gora, hipotético passo de Londres e Washington, que porá uma grande parte da Rússia ocidental, incluindo as regiões de Moscovo e São Petersburgo, ao alcance dos misseis ATACMMS e Storm Shadow, já eram bem conhecidas.

O próprio Presidente russo, Vladimir Putin, se tem referido a elas com alguma periodicidade, como sejam (ver links em baixo nesta página) o fornecimento de misseis russos semelhantes, como os balísticos Iskander M ou os anti-navio supersónicos Onix, aos "inimigos" do Ocidente.

Nem sequer era desconhecia a ameaça de a Rússia poder responder a esses ataques com contra-ataques directos, e não por terceiros, a interesses britânicos e norte-americanos espalhados pelo mundo, como as suas centenas de bases militares, por exemplo.

Mas agora, o Presidente da Federação Russa veio explicar, numa entrevista a uma televisão do país, e rapidamente traduzida pelos media russos em língua inglesa, o porquê de o perigo actual de um confronto Rússia/EUA-NATO não ter sequer paralelo em nenhum momento da história.

Vladimir Putin lembrou que os ucranianos não possuem competências técnicas para o lançamento dos misseis balísticos supersónicos ATACCMS, fornecidos pelos EUA, ou os misseis de cruzeiro britânicos Storm Shadow, com alcances entre os 300 kms e os 550 kms.

Esses misseis só poderão ser lançados sobre alvos no interior em profundidade da Federação Russa, como as suas bases aéreas ou infra-estruturas energéticas, com dados de orientação fornecidos pelos satélites dos países da NATO e, ainda mais relevante, o seu disparo é unicamente operado por equipas militares dos EUA e do Reino Unido.

O que são "medidas adequadas"?

O que o líder russo veio agora deixar claro é que o Kremlin "tomará as medidas adequadas para responder a esses ataques" com a noção clara de que se trata de "um ataque dos Estados Unidos/ NATO à Rússia" e não ucraniano, porque este país, com quem os russos estão em guerra, tecnicamente apenas fornece o solo para o lançamento destas armas sobre território russo.

Citado pela RT, Putin deixa claro, a partir de São Petersburgo, à margem de um fórum internacional de cultura, que a partir deste momento "se deixa de falar de permitir ou proibir a Ucrânia de atacar território russo", porque isso "Kiev já o faz há muito tempo" com os seus drones de longo alcance.

O uso destes sistemas ocidentais de longo alcance só acontecerá com a introdução de dados de inteligência ocidental, ou seja, os satélites da NATO, e que só podem ser operados, devido à sua complexidade tecnológica, por pessoal qualificado dos EUA e do Reino Unido.

O uso destes misseis sofisticados já acontece há largos meses na geografia do conflito, incluindo na Crimeia, mas agora podem ser usados para além dessa "fronteira" psicológica, porque os russos não se cansam de dizer que a Crimeia é geografia russa de pleno direito depois da anexação em 2014.

E se tal suceder, o que pode ficar já claro nas próximas horas, numa visita repleta de secretismo e desinformação, que o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, estrá prestes a fazer a Washington, após um encontro com o Presidente Joe Biden, avisa Putin, "isso quer dizer nada menos nem nada mais que a participação directa da NATO no conflito na Ucrânia".

E esse passo trará, enfatizou o chefe do Kremlin, "grandes mudanças na essência deste conflito" o que levará, "inequivocamente", a Rússia a "tomar as medidas apropriadas com base nas novas ameaças em consideração".

No entanto, sublinhe-se, perto das 11:30 desta sexta-feira, 13, ainda não tinha sido oficialmente anunciado esse passo, apesar de alguns media ocidentais como The Guardian, que foi o primeiro a dar essa autorização como certa no âmbito das visitas recentes dos chefes da diplomacia de Londres, David Lammy, e Washington Antony Blinken, a Kiev, ou The New York Times e a CNN darem isso como certo.

O que pode estar relacionado com as igualmente recentes notícias nos media ocidentais sobre o lançamento, que Moscovo nem confirma nem desmente, dos chamados satélites-assassinos, com ogivas nucleares, com capacidade para destruir a rede global de satélites ocidentais e gerar graves danos nas comunicações planetárias através de impulsos magnéticos resultantes do uso dessas mesmas armas nucleares no espaço.

E a resposta à questão sobre qual o momento da história em que a Humanidade esteve mais perto de uma catástrofe nuclear é, sem dúvida, este, o momento actual, este mês de Setembro de 2024.

Ainda pode ser evitada a catástrofe global?

Talvez por isso (revisitar as notícias com links em baixo nesta página pode ser um bom enquadramento para o momento que se vive) é que, mesmo com a insistência dos belicistas media ocidentais, que pugnam, irresponsavelmente, por uma escalada do conflito com a Rússia, na Casa Branca se esteja a protelar o anúncio dessa decisão ou mesmo a ponderá-la...

Há ainda outros sinais de que em algumas chancelarias europeias se teme uma escalada, porque o contexto já passou claramente a barreira até onde os bluffs eram tolerados neste jogo letal de póquer.

Na Alemanha, o chanceler Olaf Scholz veio há dias dizer que é preciso parar urgentemente esta guerra antes que seja tarde demais e na Finlândia, um dos países, com a Suécia, que entrou para a NATO, abandonando uma longa história de neutralidade, neste período de encarniçamento desmiolado, o Governo veio também dizer que, afinal, a Rússia não constitui uma ameaça militar para o país.

Entretanto, nos EUA, alguns analistas começam a defender que, face à gravidade do momento, o actual Governo de Joe Biden, a tão poucas semanas das eleições, que serão a 05 de Novembro, deixou de ter legitimidade para tomar uma decisão que contém, potencialmente, a chave do fim-do-mundo.

Isto, para mais quando se sabe que um dos candidatos, o ex-Presidente Donald Trump, republicano, tem dito exaustivamente, que vai por um fim à guerra na Ucrânia assim que assumir o poder, dê por onde der.

O que, em termos meramente académicos, permite ter nas eleições uma espécie de referendo também a essa decisão de fazer o mundo avançar para a vertigem nuclear por causa de um conflito na Ucrânia do qual quase todo o mundo está cansado e quer ver terminado.

Zelensky não quer conforto na vida dos russos

Entretanto, no seguimento destas medias em Washington e na sede da META, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, veio defender publicamente que uma das formas de fragilizar a Rússia e reduzir o conforto da população russa.

Minar a prosperidade do cidadão normal na Rússia, destruindo a qua "qualidade de vida" é, segundo Zelensky, a melhor forma de fragilizar o poder do Kremlin na Federação Russa, e levar Putin a querer negociar um acordo de paz com Kiev.

Numa entrevista à CNN ao conhecido entertainer/jornalista e ferrenho anti-russo Fareed Zakaria, Zelensky reafirmou que Putin não quer negociar a paz com a Ucrânia e que isso só acontecerá se o chefe do Kremlin for pressionado nessa direcção pela população russa.

"Sei que ele(Putin) apenas tem medo de uma coisa, e não de lideres estrangeiros, países... ele apenas teme o povo russo, a sociedade russa", apontou Zelensky, defendendo assim que a destruição do conforto (nas redes sociais?!) dos russos os pode levar a obrigar Putin a mudar de atitude.

Mas o que o chefe do regime em Kiev queria mesmo dizer era que os aliados ocidentais têm de lhe permitir usar os seus misseis de longo alcance para destruir as infra-estruturas energéticas da Rússia, deixando os seus cidadãos sem electricidade, porque só assim "entenderão o preço da guerra", como acontece com os cidadãos ucranianos.