A CNN emitiu uma reportagem nesta quarta-feira, 27, que pode ficar para a história desta guerra, da autoria de Nick Paton Walsh, a partir do leste ucraniano, onde um militar, especialista no uso de drones, manifestava a sua estupefacção pela falta de... companhia.

Este militar confrontou o jornalista da CNN com as dificuldades para lidar com a incapacidade do seu país em recrutar pessoal para as forças armadas, mesmo para posições afastadas da linha da frente, como é o seu caso, como operadores de drones...

E deixou pendurado no último frame desta reportagem um dilema com que se debate dia após dia, que é o que pensar de acabar com a guerra cedendo territórios à Rússia: "Devemos ceder a Putin os territórios pelos quais morreram tantos ucranianos a combater ou vamos continuar a resistir e ver muitos mais ucranianos morrerem a defender esses territórios?"

O autor da reportagem, britânico, um dos mais empenhados jornalistas pró-Ucrânia em todo o universo mediático ocidental, não respondeu ao desesperado operador de drones das forças de Kiev, mas admitiu que o drama da falta de pessoal para as trincheiras do lado ucraniano é excruciante.

A este relato dramático na CNN, juntam-se duas notícias igualmente "novas" no panorama mediático ocidental, que mostram as crescentes dificuldades na frente de guerra, da BBC e da Reuters, onde não se esconde já a desoladora situação para o lado ucraniano cujas linhas de defesa estão agora em derrocada e a Rússia avança no terreno quase sem oposição em vários pontos dos mais de 1.200 kms de trincheiras.

Porém, a este retrato cru da situação feito por media insuspeitos de terem qualquer simpatia pelo Kremlin, no patamar da diplomacia, a retórica pouco ou nada mudou, apesar de o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter, de novo, vindo a público admitir que a guerra deve acabar nos próximos meses, ao longo de 2025.

Após a escalada insensata provocada pela autorização pelo Presidente Joe Biden, na semana passada, para que os ucranianos usem os misseis norte-americanos ATACMS para atacar alvos no interior russo fora da geografia em disputa pelo cano das armas...

... e a resposta não menos abrasiva da Rússia, que lançou no campo de batalha um novo míssil, aparentemente surpreendendo todo o ocidente, o Oreshnik (ver links em baixo), com alguns analistas a admitirem que este era o momento ideal para baixar a temperatura...

... eis que a Ucrânia voltou a usar ATACMS dos EUA e storm shadow britânicos para flagelar posições na profundidade russa e longe da linha de combate, voltando a colocar o mundo em suspenso para ver qual será, agora - a qualquer momento - a resposta do Kremlin.

Putin já avisou que o Oreshnik veio para ficar e que aos ataques ucranianos com armas ocidentais e manuseadas por norte-americanos e britânicos no terreno, o que faz com que estes países estejam, na persectiva de Moscovo, em conflito directo com Moscovo, haverá uma resposta inequívoca.

E, entretanto, a pedido de Zelensky, a NATO reuniu de emergência, na terça-feira, 26, ontem, em Bruxelas, na sua sede, no patamar dos representantes permanentes, para analisar a actual situação e o resultado divulgado parece saído de um vácuo em que a evolução da guerra no terreno não faz parte dos elementos em análise.

A NATO reafirmou o apoio total a Kiev e o objectivo permanece o mesmo desde o início da invasão russa há quase três anos: derrotar os russos no campo de batalha, independentemente de o risco de escalada nuclear ser agora mais evidente que nunca.

No comunicado final deste encontro NATO-Ucrânia fica claro que Kiev e os seus aliados não se deixarão intimidar pelos avisos russos ou pelas suas novas armas, que apenas objectivam aterrorizar as populações civis.

"A utilização desta arma não vai alterar o curso da guerra nem dissuadirá os países da NATO de apoiar a Ucrânia", avançou o porta-voz da NATO, Farah Dakhlallah.

Quase ao mesmo tempo, em Washington, os media norte-americanos noticiavam que Joe Biden está a preparar um novo pacote de 24 mil milhões USD para enviar para Kiev antes de sair de cena a 20 de Janeiro, quando Donald Trump assumirá o cargo.

E em Moscovo, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, dava uma entrevista a um jornal russo para avisar que a resposta russa aos ataques com armas ocidentais em território russo não disputado terão uma resposta punitiva clara.

"Esses ataques são uma escalada perigosa", avsiou Lavrov na entrevista ao Rossiyskaya Gazeta, acrescentando que "todos os avisos feitos pela Rússia sobre o risco de manter esses ataques foram inequivocamente ignorados e isso terá uma resposta apropriada".

A par desta garantia de que a Rússia vai agir em conformidade com os ataques com apoio de norte-americanos e britânicos, Lavrov admitiu que este conflito ainda está longe do fim e que ainda "existe um longo caminho a percorrer antes de se chegar à via diplomática".

"Olhando para o que se passa na frente, ainda estamos muito longe de uma solução diplomática para este conflito, porque Washington e os seus satélites europeus continuam obcecados com a ideia de infligir uma derrota estratégica à Rússia", disse.

E lavrov mostrou não ter ilusões sobre a convicção de que a NATO e os países que a integram "vão continuar por este caminho em busca desse objectivo ilusório", garantindo que seja o que for que os EUA façam, a Rússia vai prosseguir até conseguir todos os seus objectivos.

Que são conhecidos: garantir que a Ucrânia não adere à NATO, que as cinco regiões anexadas (Crimeia, Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhia) são reconhecidas como parte integral da Federação Russa e que Kiev vai respeitar a língua, a cultura e a religião russas após o conflito terminar.

Enquanto isso, do lado ucraniano, o objectivo é igualmente o mesmo: expulsar todas as forças russas da Ucrânia, garantir que Moscovo paga a reconstrução, que os lideres russos são julgados e punidos em tribunais internacionais e que nada interferirá na adesão do país à NATO e à União Europeia.