Desde que Chiang Kay-Sheck, em 1949, se refugiou na Ilha em 1949, deixando para trás a triunfante revolução comunista de Mao Tse Tung, auto-proclamando a independência da República da China que a generalidade da comunidade internacional não reconheceu, que esta ilha é uma espinha cravada na garganta da China continental.

Mas também dos EUA, que, embora sem nunca ter reconhecido a sua independência, prontamente surgiram como seu protector contra as nunca escondidas intenções de Pequim de recuperar o território para a sua soberania plena, sendo hoje uma das mais incandescentes linhas de risco de confronto entre as duas potências (ver links em baixo nesta página).

O Presidente chinês, Xi Jinping definiu 2049 como prazo limite para que Taiwan seja integrado de forma plena na soberania de Pequim, sublinhando que isso deverá ocorrer preferencialmente pela via negocial, mas sem deixar em cima da mesa a possibilidade de tal ser conseguida pela via da força militar.

Actualmente, apesar de as relações comerciais entre Taipé, a capital taiwanesa, e Pequim serem vastas e com forte interligação e interdependência, politicamente o imbróglio está sempre presente e o risco de confronto militar é permanente, como as dezenas de situações de alertas na ilha depois de aviões de guerra e da marinha chines "invadirem" o seu espaço aéreo e marítimo que ocorrem anualmente.

E esse risco pode crescer de forma abrupta já neste sábado se, como o indicam as eleições, William Lai Ching-te, que foi até agora vice-Presidente, pelo Partido Democrata Progressista (DPP), vier a ganhar as eleições Presidenciais, porque se trata de um dos mais aguerridos defensores da destruição de todos os laços com a China continental e perfilha a ideia de declarar a sua independência total e absoluta de Pequim.

É face a este cenário que a República Popular da China veio já advertir os mais de 23 milhões de taiwaneses que no Sábado têm de fazer a escolha acertada porque Ching-te constituirá um risco muito sério para a paz entre as duas partes, o que surge no mesmo momento em que os EUA, que garantem um apoio total, incluindo armamento, a Taiwan - o Presidente Joe Biden já admitiu publicamente a possibilidade de um confronto directo com a China por causa deste assunto - já anunciou ter uma delegação na ilha para acompanhar as eleições.

Os analistas não mostram quaisquer dúvidas sobre o que fará Lai Ching-te se, como se espera, vier a ganhar as eleições, face ao candidato nacionalista do Kuomintang, Hou Yu-ih, substancialmente menos anti-RPC, que deixou mesmo um recado frisante sobre o actual momento: desta escolha - entre ele e William Lai Ching-te - depende ter paz ou guerra em Taiwan.

O mesmo parece entender Pequim cujo porta-voz do Governo, Chen Binhua, veio dizer sobre Ching-te, que se ganhar terá o respaldo reforçado de um terceiro mandato consecutivo nas 8ªs Presidenciais na ilha, não deixará de investir em perigosas actividades separatistas, um caminho claro para o confronto.

Na verdade, para quem não segue de perto esta relevante questão para a paz mundial, devido ao seu papel numa eventual guerra entre EUA e China, a situação de Taiwan é "bizarra" porque Pequim mantém a ilha no seu mapa nacional, mas esta tem um Governo que exerce funções sem pedir contas à RPC, elegendo democraticamente os seus governantes, quando a China continental é um ditadura comunista.

Isto, ao mesmo tempo que Taipé mantém uma relação quase umbilical com os Estados Unidos, que, sem reconhecerem a sua independência, e manterem como posição oficial que esta pertence à China continental, no âmbito da política definida na década de 1990, de "uma só China", é o protector principal para uma eventual invasão, fornecendo armas de forma ilimitada, a Taiwan.

Nos últimos anos, especialmente com a chegada ao poder de Tsai Ing-wen, do DPP, em 2016, mudando o "chip" para uma progressiva linha dura e independentista, contra a paz relativa alcançada em 1992, com base na política de uma China única com dois Governos autónomos.

Depois disso, as investidas militares sobre o espaço soberano de Taiwan por parte da RPC têm aumentado e isso foi ainda mais revigorado quando a anterior líder da Câmara dos Representantes no Congresso dos EUA, Nancy Pelosi, em 2022, visitou a ilha numa evidente provocação a Pequim (ver links em baixo nesta página).

O apelo lancinante da RPC

Com este cenário periclitante em pano de fundo, Pequim pediu esta quinta-feira aos Estados Unidos para não se meterem nos assuntos eleitorais de Taiwan.

Os EUA "não devem interferir nas eleições na região de Taiwan, sob qualquer forma, de forma a evitar danos graves nas relações sino-norte-americanas", disse Mao Ning, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, em conferência de imprensa, citado pela Lusa.

"A China opõe-se firmemente a qualquer forma de intercâmbio oficial entre os Estados Unidos e Taiwan", sublinhou. "Existe apenas uma China no mundo e Taiwan é parte inalienável da China", frisou. Ainda segundo a Lusa.

Os Estados Unidos, cujas relações com a China continuam muito tensas, vão enviar "uma delegação informal" a Taiwan depois das eleições presidenciais marcadas para sábado, anunciou esta quarta-feira um alto funcionário norte-americano.

Pedindo para não ser identificado, a mesma fonte alertou Pequim contra qualquer acto "provocador" após estas eleições cruciais.

Os comentários foram condenados na quinta-feira por Pequim.

"A China expressa a sua profunda insatisfação e firme oposição aos comentários imprudentes dos Estados Unidos sobre as eleições na região de Taiwan", disse Mao Ning.

"A questão de Taiwan está no centro dos interesses da China e constitui a primeira linha vermelha intransponível nas relações sino-americanas", frisou.

A China é contra o aumento dos contactos entre líderes políticos norte-americanos e taiwaneses, que considera ser uma violação do compromisso dos Estados Unidos de não manter relações oficiais com a ilha.