O jovem deu mesmo um show de encantar a todos, driblando, saltando, ressaltando, assistindo e marcando pontos e mais pontos para a nossa Angola.

Para falar do Childe Dundão, não posso deixar de relatar um episódio muito marcante para mim. Durante a preparação que decorria em Espanha para o Campeonato Africano de Juniores de 2016, em Kigali, Ruanda, o coordenador da Selecção Nacional, o nosso querido e de muito feliz memória Domingos Jasse "Tio Jasse", um homem que transpirava basquetebol, acabou por adoecer e partir para a outra dimensão da vida alguns dias mais tarde, abalando profundamente todo o grupo de trabalho da Selecção Nacional.

Chegado ao Campeonato Africano, os nossos miúdos fizeram um caminho imaculado até à final, derrotando, sem apelo, nem agravo, todo e qualquer adversário que se cruzou pelo nosso caminho.

A final foi um jogo dificílimo diante dos egípcios, que aí chegaram já bastante feridos após a cabazada que Angola os aplicou na primeira fase.

Então, foi um jogo taco a taco desde o primeiro segundo. E, na última posse de bola do desafio, estando o jogo empatado, o pavilhão de Kigali em êxtase, o base egípcio controlou a posse de bola até aos instantes finais e quando já só faltavam uns dois ou três segundos, sem qualquer hipóteses de esboçarmos uma reacção caso a bola entrasse, arremessou a bola à nossa cesta e esta rolou, rolou e rolou, acabando por cair definitivamente para fora, após uma eternidade. Jogo terminado. Prolongamento!

E foi naquele turbilhão de emoções que uma voz de comando do Childe ecoou no nosso banco antes até que o treinador Manuel Silva "Gi" dissesse uma única palavra. "Colegas, vocês viram bem aquela última bola? Foi o "Tio Jasse" que está no céu que a tirou do aro. Vamos com tudo lá para dentro".

E rapidamente se esgotaram os cinco minutos de prolongamento com os nossos miúdos simplesmente implacáveis diante dos incrédulos egípcios. Mais uma vez e, depois de largos anos, Angola se sagrou campeã africana de júniores com uma portentosa exibição do nosso capitão, o pequeno grande Childe Dundão.

Miguel Lutonda, na altura treinador adjunto da Selecção Nacional, carregou ao colo o seu pupilo. Estava feita a passagem de testemunho, pensei com os meus botões.

O Dundão é um espírito ancestral, como disse o poeta Manuel Rui Monteiro numa crónica que publicou.

Eu concordo plenamente, este jovem, cambuta, cheio de coragem e uma ginga muito nossa, bem angolana, é mesmo especial, um super-herói improvável num jogo de gigantes.

Parabéns, Childe Dundão, és um angolano de valor, um David que espanta e derrota as nossas malambas, os nossos Golias e, já agora, tal como pediu o Kota Manuel Rui Monteiro, eu também quero e gostaria muito de almoçar contigo. n

*Jurista e presidente do Clube Escola Desportiva Formigas do Cazenga