Organizada pelo Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), Comissão da Carteira e Ética (CCE) e MISA-Angola, com o apoio da União Europeia, esta conferência visou assinalar o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, mas também foi um dos primeiros ensaios para o primeiro Congresso Nacional de Jornalistas Angolanos. Este congresso será a grande reunião para analisar o estado da nossa profissão. SJA, CCE E MISA-Angola vão recolher propostas que ajudem na afirmação do jornalismo como um pilar da nossa jovem democracia. O objectivo será criar condições para afirmar o jornalismo, marcar a sua independência e reforçar a sua credibilidade. Isenção, pluralidade, responsabilidade, rigor, objectividade, liberdade e integridade são palavras que não deverão marcar só o evento, mas também fazer parte do nosso quotidiano. Estes eventos servem, também, para fazer valer a nossa posição, fazer perceber que o jornalismo deve ser entendido, respeitado e valorizado como uma tarefa nobre e relevante pela sociedade a que serve. A conferência nacional realizada esta semana foi já para quebrar tabus, derrubar barreiras, criando-se pontes e estabelecendo-se sólidas parcerias. Esta conferência foi uma espécie de apresentação de diagnósticos e o congresso será o momento para se avançar com terapias.
O jornalismo concorre actualmente com outras formas de comunicação que também veiculam informação. Este é hoje um grande desafio para o jornalismo, junto da perda do seu papel e influência junto dos cidadãos e da sociedade. O jornalismo que começa a perder a sua lógica de mediação vai deixando de ser o ofício da claridade e do esclarecimento. Nestas formas e plataformas de comunicação, vão surgindo muitos sujeitos que, fruto de uma tal libertinagem muitas vezes camuflada em liberdade, se vão assumindo ou sendo confundidos como jornalistas. Como disse uma vez o jornalista e amigo Emídio Rangel: "São jornalistas aqueles que têm a capacidade de assumir que esta profissão é feita na base de um código ético e deontológico. Há gente que não conhece e nem está predisposta a respeitar os códigos desta profissão". Jornalismo tem mesmo em si a ideia de ofício, de missão e de vocação. É uma missão que nos entra pela vida e condiciona toda a nossa vida. É uma missão, porque envolve dedicação, responsabilidade, visão, cidadania e sentido de Estado também. Um jornalismo de qualidade faz toda a diferença. Daí a defesa da qualidade na afirmação do bom jornalismo. Hoje, a manipulação da informação é cada vez mais sofisticada e encontra nas redes sociais o palco perfeito para o discurso do ódio, da radicalização, da intolerância e do assassínio de carácter, fazendo que o jornalismo tenha cada vez mais necessidade de se afirmar. O bom jornalismo é um perfeito antídoto no combate à desinformação.
A verdade deve ser a nossa responsabilidade. Lutar pela verdade é uma questão de ética, carácter, atitude e cidadania. Mais do que o compromisso com a entidade patronal, com as chefias, mais do que os leitores, assinantes e anunciantes, o primeiro e principal compromisso do jornalismo é com a verdade. É esse compromisso com a verdade que nos traz respeito e credibilidade. O jornalismo não pode ser uma capa para atacar, difamar, caluniar e extorquir pessoas, enquanto o jornalista fica impune, ou seja, sem ser responsabilizado. A tal liberdade que temos ou aquela que queremos não pode fazer do jornalismo a profissão do "vale-tudo". O jornalismo é feito no interesse público, para servir os cidadãos e não para os aniquilar, exigindo-se hoje cada vez mais cautela e prudência em matérias que envolvam a honra e a dignidade das pessoas. Infelizmente, vimos surgir como cogumelos novas formas e agentes de comunicação nas redes sociais que se assumem como jornalistas e que também lançam esta confusão e, assim, colocam-nos a todos no mesmo "saco", com agendas muito distantes do interesse público e da nobre missão de informar. As relações com as fontes e os poderes também devem ter uma base ética e deontológica, evitando que o que deve ser uma relação profícua se venha a tornar numa relação promíscua. A questão dos distanciamentos e limites na relação do jornalismo com o poder, fazendo que essa tal liberdade não se torne numa descarada libertinagem e, como escreveu o jornalista Nuno Andrade Ferreira, "uma das coisas que o jornalismo oferece aos seus praticantes é a ideia de proximidade com quem manda. O acesso facilitado aos protagonistas das notícias, o "tu cá, tu lá " com gente que decide sobre as nossas vidas, o sentar-se à mesa com o poder. É fácil compreender o fascínio que isto suscita ao jornalista, seja ele imberbe ou veterano. Contudo, tal acarreta riscos significativos. Quem não percebe que ser "vizinho de" não equivale a "morar com" coloca em causa a suaintegridade e a reputação da profissão que exerce".