Hoje, passados dois anos desde que chegou ao poder, se há um indicador que pouco ajuda a ocultar uma verdade indesmentível em face de tudo isso, é o de que o MPLA não se reinventou (ainda), apesar de o seu líder ter ainda à sua frente um caminho nem tão curto nem tão longo a percorrer, até atingir os níveis performativos que o levaria a estabelecer um novo paradigma, não na sociedade angolana propriamente dito, mas no próprio partido, que quase sempre emitiu sinais de alguma inconsistência e resistência à ideia de reinvenção.
Neste momento, não se sabe ao certo quem está mais à frente do tempo relativamente ao combate à corrupção em Angola, se a sociedade angolana, se o próprio Presidente João Lourenço, se parte do seu MPLA, se o todo ou se não se está perante um simulacro que poderá vir a custar caro ao próprio João Lourenço, na medida em que está dado o alerta de que os processos-crime em curso movidos pelo Ministério Público - e dado os timings da justiça no país e os mecanismos de recursos a que têm direitos os visados - não se irão traduzir rapidamente em activos políticos para João Lourenço.
O que significa que o Presidente da República e do MPLA terá de encontrar neste terceiro turno do seu mandato, considerando que tem mais três anos para completar a corrida iniciada a 26 de Setembro de 2017, uma fórmula mágica para, no capítulo do combate à corrupção, inverter a percepção que já se tem de que houve um claro fracasso na estratégia de repatriamento voluntário de capitais; primeiro, porque terá havido excesso de entusiasmo por parte de quem liderou o processo; segundo, porque houve muita ingenuidade por se ter dado início ao processo totalmente às cegas.
Em todo esse capítulo, salta à vista uma coisa: o combate à corrupção nas hostes do MPLA, que não atingiu ainda a velocidade de cruzeiro (e provavelmente nem o atingirá nos prazos que restam a João Lourenço), não haveria (como acabou por não fazê-lo mesmo) de substituir a fome, a pobreza e as dificuldades que as famílias continuam a enfrentar no seu dia-a-dia. E João Lourenço vai começar a sentir aos poucos um maior agastamento, dado que as soluções tardam a chegar, ainda que com alguma injustiça, porque as mudanças estruturais não se fazem num dia, tal como a declaração que o próprio Presidente da República fez agora nos Estados Unidos, segundo a qual aquilo que não se mudou em 44 anos não poderá ser feito em dois.
Portanto, só um milagre económico e uma mudança profunda na estratégia do seu executivo poderá começar a ajudar a inverter o quadro que continua sombrio para todos os angolanos. Continua sombrio para aqueles que poderiam estar a gerar empregos (as empresas) e não geram, porque o Estado, com o agravamento da tributação, está a penalizar o pouco emprego que já há.
Na verdade, se o anterior Executivo nunca olhou para o empresariado nacional como uma solução para os grandes problemas do país, o actual, apesar de já se ter sentado à mesma mesa com a classe de empresários angolanos, ainda não deu mostras claras de querer ver o empresariado como parte da solução, e o grande exemplo é a forma como as empresas se vêem cada vez mais num sufoco com o ritual de impostos que têm de pagar ao Estado.
Mas o mais grave, quanto a nós, é o Executivo não ter alterado o xadrez governativo e utilizar as mesmas peças que estiveram nas circunstâncias em que se criou o quadro de estrangulamento socioeconómico a que está votado o país, numa altura em que a impunidade e a arrogância política sequestraram todos valores que a história de luta e de determinação contra todo e qualquer tipo de subjugação legou a Angola. Precisa-se necessariamente de novos ares!