O INEFOP tem feito um grande esforço no sentido de formar jovens para contrariar o elevado índice de desemprego no País. Quantos centros de formação profissional temos em Angola?

Em relação ao número de centros, actualmente o País conta com 161 Centros de Formação ProfissionaL. Desses, temos perto de 61 pavilhões de Artes e Ofícios, espalhados em todo o País, e três SINFOTECS que, na verdade, são a tipologia de topo da rede dos Centros de Formação Profissional. Temos também 38 centros de âmbito municipal e provincial, oito Escolas Rurais de Capacitação e Ofício e várias unidades móveis. Na verdade, essa é a nossa estrutura que dá suporte, hoje, aos desafios que temos de formação profissional, dando-nos, aqui, a capacidade formativa anual de mais de 100 mil jovens, todos os anos, a nível da nossa rede de formação. A nossa intervenção não se limita apenas às estruturas físicas que temos. Adoptámos uma filosofia de actuação com alguns cursos ambulatórios, através do programa "Avanço e Capacita", no qual, ali onde existir público-alvo, onde existirem condições para ministrarmos a formação, mobilizamos os nossos formadores, os nossos meios e damos formação, de tal sorte que temos atendido, através desse programa, a mais de 45 mil jovens, em todo o País, para aumentarmos a capacidade de resposta da nossa oferta formativa. Para ter uma ideia, de 2021 para cá, tivemos um número de inscritos a nível da formação profissional, pelo menos 790 mil pessoas, à procura de uma oportunidade de formação, mas desse, apenas conseguimos capacitar 490 mil, ou seja, há aqui um desfasamento entre a procura, uma oferta na ordem dos 61 por cento, dito de outro modo, em cada 10 jovens que procuram por um centro de formação profissional, pelo menos quatro não conseguem uma vaga. Então, para irmos mitigando esses efeitos, temos trabalhado também com programas ambulatórios.

Como se sabe, o Governo, com o apoio dos EUA e da União Europeia, está a fazer um grande investimento ao longo do Corredor do Lobito. O que é que, a nível do INEFOP, se projecta para capacitar jovens, sobretudo daquela região, para dar resposta às necessidades quando estas infra-estruturas forem criadas?

A nível do próprio projecto do Corredor do Lobito, está prevista a implantação de um Centro de Formação Profissional. Paralelamente, a nível do INEFOP, inaugurámos, a 12 de Janeiro último, o SINFOTEC - Huambo a par de Benguela, que também vem dar algumas respostas aos desafios da impregabilidade, que vai surgir com implementação deste corredor do Lobito. Por isso é que tivemos o cuidado na definição dos cursos que hoje estão no SINFOTEC-Huambo. Temos em atenção a tendência, aquilo que poderá ser a maior demanda de profissionais que surgirão com a efectivação do Corredor do Lobito nas várias componentes que eles estavam pensados. Temos trabalhado também com o Ministério do Planeamento, no quadro de um projecto de Aceleração de Emprego, que tem apoio da União Europeia, para que, efectivamente, consigamos ao longo da implementação deste projecto, criar capacidades internas, quer no domínio de gestão de pequenos negócios, quer no domínio das qualificações mais técnicas, com vista a suprir a demanda de profissionais que poderão surgir com a implentação deste corredor. É uma iniciativa de que muito gostamos, pois entendemos que a forma de alterar o cenário de empregabilidade no País deve ser por via de empreendedores. Por isso, há uma forte aposta a nível do INEFOP em programas de apoio e incentivo ao empreendedorismo, de tal modo que, a nível da província de Benguela, temos estruturado o Centro Local de Empreendedorismo e Serviços de Emprego (CLESE), que vai ajustando um pouco aquilo que é a preparaçãos dos empreendedores a nível local, para este grande projecto, assim como também temos no Huambo.

O Executivo tem vindo a apresentar números de novos empregados que assustam a população, espoletando certa contestação da sociedade. Qual é a realidade da empregabilidade no País?

Primeiro, a contestação é natural. Temos de compreender a dimensão do problema, para depois avaliar se 490 mil postos de trabalhos que foram os dados do emprego no quinquénio que terminou em 2022, de acordo com o Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social, e aí um pouco esta contestação. Mas 490 mil postos de trabalho para um nível de desemprego na ordem de 29%, que são os dados do Instituto Nacional e Estatística do último trimestre de 2023. Estamos a falar de perto de quatro milhões de pessoas em situação de desemprego, o que representa os 490 mil? Esta é a reflexão que temos de fazer, é a grandeza do problema e os números que são apresentados. Nós, com alguma assertividade, olhamos para estes números, entendemos o que está efectivamente a acontecer, porque, por de trás da metodologia que utilizamos para apurar estes dados, existe uma base sólida. Por um lado, hoje, os dados sobre o mercado de emprego têm um pouco a ver com a recolha feita pelo grupo técnico multissectorial para o tratamento dos dados numéricos no mercado de emprego, em que participam vários ministérios, quase todos, que têm alguma intervenção no sector produtivo, e depois, também, temos os dados vindos do próprio Instituto Nacional de Segurança Social. Daí que a segurança social, até hoje, tem apontado para um crescimento, ou seja, o número de segurados na Segurança Social hoje ronda dois milhões e trezentos mil de pessoas inscritas. Outra virtude destes dados tem a ver com a representação do sector produtivo, ou a economia real nesses dados em que dos 490 mil, apenas 10% correspondem aos empregos no sector público administrativo, seja na função pública, a maior parte dos empregos que nós temos é da economia.

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