Mas não foi só o MPLA a não cumprir o decreto presidencial. Também a UNITA tem juntado, à passagem de Adalberto Costa Júnior, milhares de pessoas, como o comprovam as várias fotografias e vídeos que o "Galo negro" vai divulgando nas redes sociais e vão sendo alvo de críticas por parte dos internautas.
As respostas ao Novo Jornal surgiram sobretudo com não-respostas. Este jornal tentou ouvir a Comissão Interministerial para a Prevenção e Combate à Covid-19, mas sem êxito. No entanto, passadas algumas horas, e enquanto esta notícia era escrita, a comissão fez sair um comunicado em que convoca os partidos políticos com assento parlamentar para um encontro de trabalho, esta terça-feira, às 16 horas, devido às actividades de massas que põem em causa o cumprimento das medidas de biossegurança definidas no decreto presidencial 150/21.
A Polícia Nacional também se remeteu ao silêncio quando contactada por este jornal para falar sobre o assunto.
O comissário Waldemar José, porta-voz do Ministério do Interior (MinInt), remeteu o assunto para comando geral da Polícia Nacional (PN) que no que lhe concerne, alegou não ser da sua competência falar sobre a questão, alegando ser do comando provincial da PN em Luanda.
O Novo Jornal tentou o contacto com o departamento de comunicação institucional e imprensa, da PN em Luanda, mas o seu director, o superintendente Nestor Goubel, não se mostrou disponível.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) em Angola rejeitou comentar o assunto, fundamentando que não se envolve naquilo que é responsabilidade de cada Estado, e que o papel de OMS é ajudar no combate da pandemia.
Já o médico Adriano Manuel, presidente do Sindicato dos Médicos de Angola, disse ao Novo Jornal que o País pode vir a ter um aumento exponencial de casos de pessoas infectactas com a covid-19, face o não acatamento das normas de biossegurança por parte dos partidos políticos, MPLA e UNITA.
"Tanto o MPLA como a UNITA comportam-se mal, neste aspecto. Mas acuso a maior responsabilidade ao partido que nos governa, porque quem governa é quem deve ditar as regras, se eles desobedecem, é claro que os outros irão atropelar também", disse.
"O que nos inquieta é o facto de a própria polícia não poder inviabilizar esses actos, que poderá trazer mais trabalho para a classe dos médicos nos próximos tempos", afrimou.
De acordo com Adriano Manuel, se todos cumprirmos com as normas do decreto presidencial, que proíbe os ajuntamentos, entre outras medidas, não vamos ter covid-19.
"Os nossos hospitais já estão cheios, o pessoal médico já está desgastado. Cada banco de urgência que fazemos é um sacrifício terrível. Infelizmente, temos a irresponsabilidade dos partidos políticos que não querem cumprir com as medidas de biossegurança, isso irrita-nos", desabafou.
Adrano Manuel questiona também o facto de as autoridades manterem encerrados os restaurantes e bares aos fins-de-semana, e insistirem com a cerca sanitária em Luanda se os aglomerados dos partidos políticos, nos seus actos de massas, não se igualam aos ajuntamentos praticados pela população.
"No final, quem vai pagar são os médicos e enfermeiros. Seremos nós, os profissionais de saúde. Porque se nestes aglomerados houver pessoas com a Covid-19, a factura sobrará para nós, os médicos, devido à irresponsabilidade dos partidos políticos", descreveu.
Preocupado com o desrespeito dos partidos políticos, o ex- director do Instituto Nacional de Formação de Quadros do Ministério da Educação (MED), Isaac Paxe, escreveu na sua conta do Facebook que a comissão interministerial para a Covid-19 devia condenar veementemente a atitude dos partidos em promoverem as marchas com aglomerados que violam os princípios do decreto presidencial.
"É com muito desgosto que sentimos a desvalorização de todo um "esforço" do executivo na proteção da vida dos cidadãos. Também condenamos a polícia que não exerce a sua devida autoridade neste caso. Condenamos também a atitude dos Senhores e das Senhoras deputados e deputadas que aderem às marchas. Esperamos que o Parlamento tome a devida nota desta atitude. A Covid é uma questão séria e não vamos por a vida dos angolanos em riscos desnecessários", frisou o académico.
Os partidos políticos com assento na Assembleia Nacional dizem não fazer mais qualquer sentido o Executivo continuar a manter a cerca sanitária sobre Luanda, já que a pandemia está em todo o território nacional.
A UNITA assumiu hoje culpa no "incumprimento" das medidas de biossegurança, devido à covid-19, em actividades políticas de massa, exortando outros partidos políticos a "darem a mão à palmatória" e a "obedeceram" às regras sanitárias, escreveu a Lusa, que cita Liberty Chiyaka: "os angolanos, dirigentes e deputados investidos de responsabilidades de Estado devem assumir a sua responsabilidade".
"De forma acrescida, devemos fazer tudo para que a sociedade de uma forma geral, partidos políticos sejam eles a UNITA, MPLA ou outros partidos, possam respeitar as leis, porque afinal está em causa a saúde pública e, quanto a isso, devemos dar a mão à palmatória", afirmou o responsável, em conferência de imprensa.
O presidente da CASA-CE, Manuel Fernandes, lamentou que os actores políticos estejam a agir à margem da Lei no que diz respeito às medidas de biossegurança sobre Covid-19.
"A Covid-19 é uma doença que ameaça o planeta. Nas actividades políticas devemos ter muito cuidado e respeitarmos a medidas de biossegurança", acrescentou, salientando que os políticos devem ter "muita responsabilidade" sobre o perigo que representa a epidemia.
O secretário-geral do PRS, Rui Malopa Miguel, disse ao Novo Jornal que o problema da concentração das pessoas nas actividades políticas deve ser analisado "urgentemente".
"Os militantes de qualquer formação política sabem o risco que representa a Covid-19. Para ir a uma actividade política, eles devem respeitar as medidas de biossegurança", disse.
Um membro do comité provincial do MPLA em Luanda, interrogado sobre o acto de final-de-semana que juntou milhares de militantes no acto político, respondeu que os Comités de Acção (CAP,s) que mobilizaram os militantes para a actividade política, foram orientados para cumprirem as normas de biossegurança.
"O MPLA é um partido responsável e sempre obrigou os seus militantes, e só, a respeitarem o decreto presidencial que obriga o respeito as medidas de biossegurança", defendeu.