Logo após o estalar da crise neste pequeno reino montanhoso, o recém-eleito Presidente João Lourenço, à frente do Órgão de Política, Defesa e Segurança (OPDS), da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral), e Jacob Zuma, então Presidente sul-africano e líder desta organização, desdobraram-se em encontros com outros "chefes" regionais, tanto em Luanda como em Pretória, para encontrar forma de não deixar esta crise resvalar para mais uma guerra civil no problemático reino que vive em tumultos desde a sua independência da Grã-Bretanha em 1966, com sucessivos golpes e contragolpes militares.
E foi esse esforço que o Governo de Museru reconheceu através do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Lesego Makgoth, que, numa declaração pública, sublinhou a intervenção empenhada das autoridades angolanas no restabelecimento da normalidade no país e agradeceu a forma decisiva como Luanda encabeçou os esforços regionais para restabelecer e garantir que a paz é durável no pequeno reino.
No seguimento desta nota pública, o ministro Lesego Makgoth realçou a forma empenhada como o Presidente angolano desenvolveu os seus esforços no sentido de relançar a missão de paz da SADC no Lesoto, desta feita com a dupla missão de extinguir a crise despoletada pelo assassinato do Comandante das Forças Armadas a 05 de Setembro, por outros oficiais rivais, e também de consolidar as instituições por forma a não deixar espaço para a ocorrência de problemas similares.
A Força Preventiva (SAPMIL), assim foi dominada a missão de paz da SADC para o Lesoto, iniciou as operações de controlo de Museru em Dezembro, quando já estavam as forças locais rivais a procurarem posições estratégicas para o controlo do poder.
A SAPMIL avançou inicialmente com perto de 300 elementos, entre militares, pessoal dos serviços de inteligência, especialistas em conflitos e de secretaria, tendo Angola contribuído com mais de 160.
Este contingente está programado para crescer até aos mil elementos e tem ainda como uma das suas missões de topo a reestruturação das Forças Armadas locais, extinguindo as múltiplas facções que ao longo dos anos foram criadas no sei interior e que são a génese dos cíclicos problemas e crises.
Face a este reconhecimento do papel de Angola, o Lesoto procura ainda, adiantou o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, criar missões diplomáticas em Luanda e de Angola em Museru, para a consolidação e fortalecimento das relações bilaterais.
A chegada da SAPMIL
Um dos sinais da importância da SAPMIL, que integra militares e especialistas civis em situações de crise de sete países, incluindo Angola, foi a formalização da acusação de um grupo de oito militares acusados do assassinato do general Khoantle Motsomotso, em Setembro último e que deu início à actual crise que o país vive e que levou à intervenção decidida pela cúpula de Chefes de Estado e de Governo da SADC.
Ainda acusados, noutro processo que também só com a presença da SAPMIL, liderada por Angola, surgiu espaço para proceder à acusação, esta um grupo de cinco militares, incluindo um brigadeiro, de tentativa de homicídio de um jornalista que seguia e reportava de forma crítica a actuação das chefias militares.
Para além desta tentativa de assassinato, o oficial foi ainda acusado de homicídio de um agente da polícia durante uma tentativa de golpe de Estado em 2014.
Este procedimento da Justiça do Lesoto é apontada como essencial para garantir que este pequeno país encravado na África do Sul e composto por território densamente montanhoso, encontra o aminho para a sua normalização constitucional, sendo actualmente o único que ainda não despegou da prática de golpes de Estado para forçar mudanças no poder que foi comum em vários países da sub-região após as independências, tendo manido esse registo periódico até agora e desde que conquistou a independência do Reino Unido em 1966.
A presença no Lesto deste contingente está previsto para durar seis meses mas pode ser prolongada e é composta por homens e mulheres de Angola, Malawi, Namíbia, África do Sul, Zâmbia, Tanzânia e Zimbabué.