Senhor presidente, qual é a realidade interna do PRS?

Desde a altura em que assumi a presidência do partido, considero que o PRS tem sido muito estável. É verdade que podemos encontrar algumas crispações de pessoas que têm essa natureza e, eventualmente, por tudo e por nada, quererem, se calhar, causar alguns problemas no partido, mesmo sem razão política, mesmo sem objectivos definidos. Mas, nós, quando concorremos, o nosso lema foi coeso para fortalecermos o partido, e o que nós pedimos aos militantes foi a coesão em torno da formação, portanto, unidos em torno dos objectivos que o partido preconiza, no sentido de termos um partido forte, um partido que não venha a comprometer, um partido onde todos possam rever-se, para concretizar os seus objectivos, deixando para trás as realizações pessoais ou questões fúteis.

As clivagens que o senhor encontrou ou as existentes são de contestação à liderança ou ao modelo de gestão do partido?

Há crispações que eu encontrei, mas também estive sempre no partido. O presidente honorário (Eduardo Kwangana) foi o presidente que começou e que projectou a maioria dos quadros que estão no partido, mas esses quadros, até um certo tempo, começaram a entender. Acho que é por causa do tempo que o presidente havia feito na direcção do partido e, se calhar, acharam como se fosse uma questão de saturação. E foi no momento que o presidente estava doente e em tratamento fora do País que tivemos mais clivagens. Alguns quadros queriam assaltar a presidência do partido sem que pudessem passar por formalidades próprias, mas pudemos controlar a situação e fizemos um congresso dentro dos parâmetros institucionais e constitucionais.

O Dr. Sapalo António fez parte desse grupo de alguns quadros que tentaram assaltar a direcção do partido?

Sim, o Sapalo António foi sempre quadro do PRS. Ele é membro do Conselho Político e é, portanto, membro do Comité Nacional. Como eu posso considerar... ele é um dos contestatários também. Eles queriam que nós usássemos métodos não-institucionais, aqueles que não estavam recomendados nem pelo estatuto da organização, nem pelo Tribunal Constitucional. Eles (contestatários) pediram um congresso. Portanto, o único na altura que podia convocar um congresso era o presidente do partido, e não estando no País, não tinha como se realizar, porque ninguém estava mandatado a convoca-lo, e, se assim o fizéssemos, realizaríamos um congresso que seria inválido.

Há militantes que acusam o presidente Benedito Daniel de ter promovido uma violação aos estatutos, face ao alargamento para seis anos dos prazos para a realização dos congressos.

Esta é uma pura mentira. Quando se diz que o estatuto do PRS consagrava que os congressos deviam ser realizados de 4 em 4 anos é uma situação infundada e que se existiu no PRS, provavelmente tivesse sido em 1992. Mas, de há um tempo a esta parte, os congressos do PRS eram feitos de 5 em 5 anos, portanto, é o que consagram os estatutos do PRS e, entretanto, Sapalo António é um membro que pode ter a sua opinião contestatária, mas essa opinião não é do congresso, não é dos membros. É uma opinião dele, é uma opinião singular como membro do PRS. As pessoas no PRS são livres, podem contestar, podem emitir opiniões, mas o PRS guia-se pela decisão da maioria, não pode guiar-se pela decisão de um único membro ou singularmente do presidente ou qualquer outro membro independentemente da importância que este tenha. Os congressos do PRS eram realizados de 5 em 5 anos, e acontece que, de dois mandatos para cá, os congressos do PRS eram desastrosos. Tanto a meu ver como ao ver de qualquer militante do partido, os congressos do PRS eram desastrosos porque são (eram) realizados dois meses antes das eleições gerais. Significa que os congressos são realizados no mês de Maio enquanto as eleições decorrem em Agosto. A título de exemplo, eu pessoalmente fui eleito a 31 de Maio de 2017, e as eleições ocorreram em Agosto de 2017. O constrangimento é maior. Tanto para poder inscrever o próprio partido no Tribunal Constitucional tanto para concorrer às eleições e preparar-me para uma campanha eleitoral, tive de mobilizar a máquina partidária para realizarmos todas estas tarefas em simultâneo, o que não foi fácil, porque tínhamos que preparar as tarefas da inscrição do partido, tínhamos de preparar tarefas do congresso e tínhamos de preparar tarefas da campanha em simultâneo.

Pode não ser fácil a qualquer um que seja eleito para em dois meses poder fazer tarefas desta natureza. Eu, eventualmente, tive um pouco de sorte. Portanto, foi por essa razão que o congresso realizado em Maio, quando olhava para os prazos que normalmente estavam estabelecidos, achou que havia um erro e que tinha de se dilatar este prazo do mandato dos órgãos do PRS para seis anos, ao invés de cinco, isso para permitir que as eleições ocorram de uma forma tranquila para o PRS e depois das eleições poder realizar o seu congresso.

Tendo em conta os resultados eleitorais das últimas eleições, há a percepção de que o PRS estará a perder as suas zonas de influência, como a Luanda-Norte e outras circunscrições do Leste, a favor do MPLA e da UNITA. Não tem a mesma observação?

Não é só a situação da Lunda, isso está a ocorrer em todas as províncias. Nós, realmente, dominamos o Leste como a nossa base eleitoral. Podemos dizer que é no Leste onde temos a maior comodidade, mas há interesse por parte de outros partidos, como o MPLA em poder combater-nos essencialmente naquela zona, e isso pode acontecer também com a UNITA. É normal que eles possam tirar este ou aquele militante. Mas, na verdade, o Leste não deixa de ser a nossa zona de influências. O PRS não deixa de ter hegemonia nesta zona. É o que também fizemos, nós também temos uma boa representação no Huambo, temos na Huíla, temos no Uíje, portanto é normal.

Fizemos a nossa abertura do ano político em Fevereiro de 2021 no Huambo, e as pessoas ficaram surpreendidas com a moldura humana e com a aceitação que temos no Huambo, temos também na Huíla, temos noutras regiões do Sul, quer dizer, é muito normal. Os partidos são partidos de expressão nacional e é normal que, de uma ou outra forma, possam ter essas penetrações, mas não podemos dizer que tiram a hegemonia daqueles que são hegemónicos daquela zona, e até porque em África isso é um bocadinho difícil. Mesmo na Europa e na América, o partido Republicano tem hegemonia e o partido Democrata nos Estados Unidos também a tem. Embora haja uma ou outra penetração nas zonas do partido Democrata, não significa tirar a hegemonia.

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