Com a sua presença, "Ti Célito", como o Presidente português acabou por ser "baptizado" popularmente em Angola durante as suas deslocações ao País, pretende vincar os laços que ligam Luanda a Lisboa mas também, como alguns analistas têm admitido nas últimas horas, procurar, por detrás dos panos, erguer eventuais pontes entre João Lourenço e Adalberto Costa Júnior de forma a diluir a tensão pós-eleitoral inflamada pelo não-reconhecimento dos resultados de 24 de Agosto pelo líder do partido do "Galo Negro".

A influência que resulta da amizade solidamente erguida com João Lourenço nestes cinco anos - recorde-se que Rebelo de Sousa esteve mesmo em Luanda propositadamente, em visita privada, para celebrar um dos aniversários de Lourenço - e porque é conhecida a relação que existe com o líder da UNITA.

Uma nota que pode ter leitura neste contexto é a presença do líder da UNITA nas cerimónias fúnebres de JES, hoje, quando, inicialmente, o partido do "Galo Negro" tinha anunciado que não se faria presente neste funeral de Estado.

O momento, que está por clarificar depois da divulgação dos resultados "definitivos" das eleições gerais da passada quarta-feira pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), permite ao "Ti Célito" aproximar os líderes do MPLA e da UNITA, seja porque existe um relacionamento pessoal, seja porque o Presidente português é visto em Angola como um figura geradora de consensos, assente na popularidade visível na forma como arrasta pequenas multidões quando se passeia pelas ruas de Luanda nas suas visitas oficiais.

Este olhar simpático dos angolanos para com Marcelo Rebelo de Sousa não é, porém, unânime e, depois de se saber que este viria a Luanda para estar presente no funeral de Estado de JES, logo lhe chegaram recados para não se intrometer nem para caucionar decisões ainda por consolidar, o que fez, contrariamente ao que lhe é habitual, sempre muito solicito a comentar quase tudo, optando por anunciar com sonoro ênfase que não faria comentários antes da conclusão do processo eleitoral.

Esta posição ganhou renovada preponderância para uma eventual, nunca admitida, diplomacia privada do "Ti Célito" entre os dois gigantes da política nacional, quando, do lado do Índico, o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, não se conteve e deu os parabéns a João Lourenço pela "vitória" eleitoral, ignorando as posições da UNITA, que exige uma contagem através da comparação de actas síntese emitidas pelas Assembleias de Voto com algum tipo de supervisão internacional, embora essa parte não tenha ficado totalmente clara.

Como o Novo Jornal tem estado a noticiar, é hoje o funeral de Estado do ex-Presidente da República angolano, José Eduardo dos Santos (JES), 28 de Agosto, dia em que faria 80 anos, com uma cerimónia restrita de "deposição da urna no jazigo" e na presença do Presidente João Lourenço e de cerca de duas dezenas de Chefes de Estado, ex-Presidentes e ministros estrangeiros.

Para prestar homenagem ao ex-Presidente angolano, que morreu a 08 de Julho, em Espanha, na cerimónia das exéquias estão presentes, além de Marcelo Rebelo de Sousa, de Portugal, em representação de São Tomé e Príncipe, o Presidentes da República, Carlos Vila Nova e Manuel Pinto da Costa, o Presidente da República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi, e da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, tal como o Chefe de Estado da África do Sul, Cyril Ramaphosa.

Ainda de acordo com o documento da Direcção Geral do Protocolo do Estado angolano, o Presidente da República de Cabo Verde, José Maria Pereira das Neves, e o Chefe de Estado moçambicano Filipe Nyusi, estão igualmente presentes nesta cerimónia restrita.

Da Guiné Bissau chegou o Presidente Umaro Sissoco Embaló, o mesmo acontecendo com o Zimbabué e Portugal, de onde chegam Emmerson Mnangagwa e Marcelo Rebelo de Sousa, respectivamente.

Do Ruanda chega o ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Vincent Biruta, enquanto da Guiné Equatorial, vem o vice-primeiro-ministro Clemente Engonga Nguema Onguene.

A Namíbia estará representada pelo antigo Presidente, Sam Nujoma, e pelo catual ministro da Defesa, Frans Kapofi.

De acordo com um documento da Direcção Geral do Protocolo do Estado, da Tanzânia está ainda em Luanda o antigo Presidente, Jakaya Mrisho Kikwete, de Cuba o vice-primeiro ministro Ricardo Cabrisas Ruíz, e da Arábia Saudita o ministro da Administração do Território, Sidi Brahim Salem.