Nas últimas três semanas, Sergio García e Mac Verkron moldaram em barro peças onde o imaginário cultural dos dois países se entrelaça em pontos comuns de simbologia. O open studio da próxima quinta-feira no Estúdio-V, centro dedicado à criação e pesquisa artística concebido pelo colectivo Verkron, representa um trabalho a quatro mãos de duas geografias distantes, mas surpreendentemente próximas nas histórias de violência colonial e afirmação cultural e identitária.

O que começou com uma residência artística a solo de Sergio García (a primeira de um artista estrangeiro no Estúdio-V) rapidamente evoluiu numa conexão criativa com Mac Verkron. Mais conhecido pelas suas obras em murais, pintura e ilustração, o artista angolano tem ingressado também no mundo da modelagem artística em barro, reproduzindo nesta disciplina artística vivências e memórias pessoais.

No Estúdio-V, o público poderá testemunhar o processo de produção, e terá contacto com peças escultóricas ainda em barro vivo. Uma opção de ambos os artistas que reflecte a crueza e dureza estética de fogo, ar, madeira e de outros elementos naturais, cada um com um significado espiritual.

As esculturas nascem da cosmogonia e universos inventados, misturando harmonias entre elementos míticos, sagrados ou naturais de Angola e do México, em diálogo e complemento. Foram criadas como protótipos facilmente escaláveis em tamanho e contextos.

Natural de Querétaro, México, o artista e professor de cerâmica Sergio García desenvolve há vários anos um trabalho escultórico distinguido em consecutivas edições do Prémio Nacional de Cerâmica naquele país. Sergio Garcia aplica nas suas obras várias técnicas de escultura, aliando formas antropomórficas a símbolos de civilizações pré-hispânicas (azteca, maia ou olmeca) e elementos míticos e espirituais tão íntimos como universais.

Mac Verkron é um artista multidisciplinar angolano que explora o afro-surrealismo e afro-futurismo através do desenho, neo-muralismo, fotografia, vídeo e instalações. Com formação superior em Artes Visuais e Multimédia, participou em numerosas exposições, incluindo várias edições do Fuckin"Globo. É um dos membros do colectivo Verkron, e caracteriza-se por imergir elementos naturais e sociais em universos figurativos através da imaginação radical, também marcados pela espiritualidade.