Foram dias de discussões amenas e também intensas. Dias de grandes discussões e debates. Dias de boas risadas e de muita cumplicidade. Tudo registado pela máquina fotográfica do Edson Fortes. O Ismael queria a participação de todos, falou com todos e contava com todos. Era um homem preocupado com o presente e o futuro do nosso jornalismo. Ele queria um congresso em que os jornalistas mostrassem os seus projectos, as suas visões e estratégias para o País. Um congresso livre e que discutisse a liberdade.
Tivemos a honra (Novo Jornal e Expansão) de acolher estas intensas semanas de discussão em torno do jornalismo e dos jornalistas. Foram dias de muita pedagogia, de coesão e união. Devíamos honrar o nosso Ismael Mateus com a realização deste que será o Primeiro Congresso de Jornalistas Angolanos. Devíamos materializar este sonho do Ismael Mateus. Devemos isso ao Ismael Mateus e ao jornalismo. É tempo de reactivar o bunker e voltarmos a ter discussões e debates à terça-feira.
O Ismael partiu há um ano e faz muita falta ao jornalismo. A sua visão, a sua opinião e a sua intervenção. Quando um profissional sabe que tem meios, qualidade, capacidade e oportunidade para fazer jornalismo de qualidade, mas, por força de interesses "extrajornalismo", é pressionado e forçado a agir em função de agendas partidárias e corporativas, é uma ironia trágica. Já não há muitas alternativas, os profissionais ou se apegam ao que é ditado ou se "apagam", ou, mais grave ainda, são "apagados". É um sofrimento ético de jornalistas que todos os dias percebem que estão a perder capacidade crítica de pensamento e de actuação. Onde questionar passou a ser sinónimo de afrontar, provocar e legitimar todo e qualquer ataque vindo de todas direcções. É que a estratégia não precisa de ser declarada, ela declara-se. Além da luta pela liberdade de expressão, de opinião, agora também se luta pela liberdade de impressão. As instituições estão cada vez mais pressionadas e sentimos isso nas deliberações e audições que fazem sobre o NJ. Um ano após a tua partida Ismael, anda tudo cada vez mais complicado.
Há muito que o diagnóstico está feito: degradou-se o exercício do jornalismo, sobrevivemos a precariedade laboral e somos sujeitos à pressão para o imediatismo. Afirmar o bom jornalismo devia ser um imperativo. Quando se combate o bom jornalismo está a combater-se a democracia e a abrir espaço para que o nosso espaço seja ocupado por quem vive do negócio da desinformação, que alimenta plataformas no universo digital e promove o chamado "jornalixo". É importante que se diga aqui: a liberdade não se escreve sem o jornalismo.
É lamentável que, em 50 anos de independência, um pilar fundamental da democracia esteja tão ameaçado, esteja tão pressionado e seja tão combatido. Uma democracia não sobrevive sem jornalismo livre, isento e de qualidade. É importante questionar se ainda vale a pena andar por aqui. Mas vale sim! Por isso devemos fazer esforços para realizar o congresso dos jornalistas angolanos. Hoje é mais importante do que nunca. Pelo Ismael, por nós e por Angola.