Foi um ano em que aprendemos que uma ponte não é só de cimento. É também de intenção. Inaugurámos pontes físicas, pontes diplomáticas, pontes metafóricas entre o prometido e o concretizado. E quando faltava a ponte real, lá vinha uma tolerância de ponto a fazer de bote salva-vidas numa Sexta-feira à tarde. Ou no início da semana para facilitar o trânsito e esconder a nossa beleza africana, ocultar o burburinho diário da sobrevivência humana e a pujança da informalidade.

Inauguramos o futuro, mas o presente foi esquecido. Promessas trazidas num sem número de conferências regionais e internacionais, muitos corredores e muitos ajustes para o futuro. Recebemos chefes de Estado e de Governo. Cada um trouxe um discurso, uma bandeira, um aperto de mão fotogénico. Uns elogiaram a nossa estabilidade, outros o nosso potencial. Outros reclamaram da qualidade do pão. E nós, resilientes como sempre, acenamos, sorrimos e continuamos com a nossa vida.

Entretanto, subiu o preço do combustível, subiu o tom acusatório gerando protestos e actos de vandalismo, subiu a inflação, subiu a população, subiram o número de províncias. Os salários subiram um coxito, como que sobe um degrau e escorrega dois. As pensões acompanharam, em modo de lentidão cerimonial. Subiram as tarifas da electricidade, as propinas e a indignação. No geral, o custo de vida também subiu.

No desporto, brilhou-se por contraste. No andebol feminino, as nossas guerreiras ultrapassaram selecções europeias no Mundial na Alemanha. No futebol, celebramos a qualificação para a CAN em Marrocos com a fé de quem sabe que o milagre é sempre adiado, mas nunca cancelado. No basquetebol, fomos campeões africanos em casa, perante um país que, por 40 minutos, acreditou que Luanda era a capital mundial da modalidade. E, claro, houve o jogo com a Argentina.

Com tanto acontecimento, tanta pompa, tanta medalha pendurada no peito da nação, só resta uma pergunta: porque não pedir bis? Que 2026 seja uma reedição fiel: as mesmas tolerâncias, as mesmas medalhas, as mesmas conferências onde se discute o amanhã com o fervor de quem adiou o hoje. Afinal, 2025 provou que, em Angola, a pátria também sabe fazer teatro. E no teatro, como na vida, o que importa não é a peça ser real. É a plateia continuar a bater palmas, mesmo quando já sabe o final de cor.