Depois de a OPEP+, a organização que agrega sauditas e russos num cartel estratégico desde 2017, ter retirado o pé do acelerador e anunciado, no passado fim-de-semana, que, depois de mais 555 mil bpd este mês, em Novembro o aumento será de "apenas" 137 mil bpd, permaneceram algumas dúvidas sobre o equilíbrio entre oferta e procura.
Entre segunda-feira, 06, e esta quarta-feira, 08, os analistas dos mercados mantiveram um optimismo retraído, mas hoje tudo mudou e as sombras que pairavam no horizonte foram varridas pelos ventos de mudança... de perspectivas.
É que ainda há 48 horas o negócio do crude estava em alvoroço com os traders e analistas sem saber muito bem se a ameaça do excesso de oferta provocaria uma erosão acentuada dos preços ou o anúncio da OPEP+, em contra-mão com as expectativas, faria o efeito de lubrificante nos gráficos.
Ao anunciar os 137 mil barris por dia em Novembro e não os mais de 600 mil esperados, a OPEP+ impulsionou os preços e aliviou as dúvidas, mas não totalmente, porque, agora, com o anúncio de um acordo de paz em Gaza, o xadrez voltou a mexer no Médio Oriente, a fonte de quase 35% dp crude consumido em todo o mundo.
E a razão é simples: depois das notícias da deslocação de meios pesados abundantes dos EUA para a sua base militar no Catar, a hipótese de uma nova guerra com o Irão de um lado e os EUA e Israel do outro, voltou a incendiar as mentes dos analistas... e não é nada que Benjamin Netanyhau e Donald Trump não tenham admitido como forte probabilidade antes....
Mas, para já, a redução das possibilidades de um excesso de oferta, ou um excesso menor que o esperado, até porque os dados mais recentes sobre as economias norte-americana e chinesa, os maiores consumidores do mundo, estão longe do optimismo, está a "lubrificar" os mercados.
E é assim que esta quinta-feira, 10, o barril de Brent, perto das 10:30, hora de Luanda, estava a valer 66,45 USD, uma ligeira subida, embora a volatilidade fosse a marca de água do negócio, como, de resto, acontece quase sempre nestes momentos de dúvida.
Para os próximos dias, os preços deverão ser, notam os analistas, determinados por maior ou menor certeza sobre a evolução da oferta e da procura, e dos stocks das grandes economias, como os EUA, sendo que o efeito sazonal do fim do Verão no Hemisfério Norte terá sempre consequências... negativas.
Só que, como é costumeiro, há "cisnes negros" que aparecem mesmo, como as notícias desta manhã sobre os receios do Fundo Monetário Internacional (FMI) para com a dívida global que, se mantiver o rumo, ultrapassará o potencial absoluto da economia mundial.
Ou seja, em escassos cinco anos, em 2029, se nada for feito, o PIB global será menor que a soma das dívidas dos países, das famílias e das empresas de todo o mundo, alertou Kristalina Georgieva, a directora-geral do FMI.
E as consequências desse cenário são péssimas notícias para quem depende das exportações de crude, como Angola, porque será um campo fértil para a inflação ainda mais galopante das taxas de juro, pressiona negativamente o investimento e, entre outras consequências nefastas, reduz significativamente a capacidade dos Governos para suportar crises inesperadas, alerta ainda Georgieva.
E as coisas quando podem piorar o normal mesmo piorarem, a chefe do FMI nota que este momento está a chegar quando as grandes economias somam problemas, dos EUA à China, passando pela Europa Ocidental, o que pode constituir uma tempestade perfeita para gerar caos económico global.
Mais uma razão para Angola não perder os mercados de vista
O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido aos por demais conhecidos imponderáveis.
Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, uma das razões por que abandonou a OPEP em 2023, actualmente abaixo de 1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.