O MPLA tem agendado, para a próxima semana, a realização do VIII Congresso Extraordinário. O que espera desse evento?

Com toda a sinceridade, não espero nada, porque os congressos extraordinários estatutariamente não podem aprovar documentos. Os congressos extraordinários são para submeter ao congresso ordinário, por exemplo, as teses sobre isso e aquilo, que serão aprovadas em congresso ordinário.

O congresso ordinário, vamos lá dizer, é o órgão de soberania do partido. Lá é que se aprovam os documentos que forem submetidos à aprovação.

Um congresso extraordinário é convocado para analisar documentos, analisar se os estatutos precisam de ser modificados e em que alíneas e artigos para submeter isso tudo a um congresso ordinário.

Portanto, se nós não violarmos os estatutos do partido - espero bem que não se violem os estatutos do partido - eu, pessoalmente, não posso esperar nada em relação a isso, a não ser para estes assuntos que eu mencionei. O congresso extraordinário não tem, estatutariamente, a possibilidade de mudar, seja o que for, em relação aos estatutos do partido.

António Venâncio impugnou as deliberações do Comité Central para a realização do Congresso Extraordinário. Que comentários tem a fazer?

Dou razão a António Venâncio, porque um congresso extraordinário não tem, estatutariamente, essa possibilidade. Se ele achar que deve impugnar, ele certamente sabe como se movimentar. Não era preciso chegar a esse extremo. Temos de levar em consideração a sociedade em que vivemos e as transformações que ocorrem. A geração dos novos militantes do MPLA já não é a minha geração: "comeram-me a carne, chupem-me os ossos". É uma geração nova, que já não conheceu a guerra.

São pessoas que, efectivamente, têm dificuldades enormes ao nível da saúde, emprego e habitação. Nós devemos analisar isso e temos aqui um bom exemplo que devemos copiar, que são os vizinhos do Índico.

Se não houver cabeças pensantes no seio da FRELIMO, Moçambique poderá ir para uma guerra civil, sobretudo se virmos os problemas que existem no Norte, onde o Estado islâmico está instalado. Em Moçambique, mais de 50% da população são islâmicas, não é como em Angola, onde a maioria é católica. O Islão é uma religião que se está a instalar agora em Angola e para a qual também devemos estar em alerta. Devemos ter cuidado com a penetração do Islão aqui. Não estou a dizer que o Islão não possa existir, nós somos um Estado laico, mas devemos proteger-nos, logicamente.

Mas, para a situação não se resvalar no que se passa em Moçambique, em Angola o que deve ser acautelado?

Não creio que haja possibilidade de acontecer o que se passa em Moçambique. Nós conhecemos muitas guerras, foi muito sangue que verteu nesta terra, para que nós estejamos aqui em paz a tentar desenvolver o nosso País da melhor maneira possível.

Portanto, eu não vejo isso. Agora, temos de olhar para todo um voto eleitoral. E aqui não estou a dizer partidário, estou a dizer eleitoral, que existem de duas, três gerações que, se não nos acautelarmos, poderemos ter um problema sério. São gerações que passam fome, que não têm emprego nem assistência médica. Essa gente, logicamente, nem que seja por "raiva", irá votar não no MPLA.

Em Angola, o Islamismo já começa a ser um problema?

Não, ainda não. Mas eu não sei se a gente poderá lutar contra isso, porque o Islão vai ser a religião do mundo, só para não dizer que já é. Você olha para a África a partir do Gabão para cima é tudo islâmico. Até a Argélia, tudo islâmico. Tirando parte da Nigéria, por isso também tem um grande problema, o resto do Senegal também, o resto é tudo islâmico.

Você olha para o Índico, é tudo islâmico até o Egipto. Então, o que dizer? Aqui ainda não está preocupante, mas nós devemos olhar para essa situação.

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