O Presidente da República disse, no segundo e último dia da sua visita de 48 horas ao Kwanza Norte, na quarta-feira, 15, que não está em campanha eleitoral mas sim a exercer a sua Presidência de proximidade como prometera antes de ser eleito, mas a UNITA viu excesso de proximidade nos outdoors do MPLA na cidade de Luanda onde o partido de João Lourenço não só apela ao voto como já dá o seu candidato natural como "reeleito em 2022".

O Presidente João Lourenço não disse em Ndalatando que estava a responder à UNITA, mas a coincidência temporal é factual, porque o presidente do maior partido da oposição tinha acabado de divulgar que enviara uma carta à governadora da província de Luanda a pedir a "remoção imediata" da propaganda eleitoral fora de tempo colocada na capital.

E deu como exemplo, na exposição endereçada a Ana Paula de Carvalho, um cartaz colocado no coração da cidade onde se pode ler: João Manuel Gonçalves Lourenço, Presidente do MPLA 2022 Reeleito".

Adalberto Costa Júnior sublinhou o facto que contraria a Lei dos Partidos Políticos e a Constituição da República onde se explicita que o Estado se "subordina à Constituição e funda-se na legalidade, devendo respeitar e fazer respeitar as leis".

Nesse mesmo dia, foi ainda desmarcado um encontro, que estava previsto para as 15:00, no GPL, entre Adalberto Costa Júnior e a governadora provincial, onde o assunto, embora não tenha sido divulgado, dificilmente passaria à margem desta polémica.

Polémica que se acumula a outra, de maior dimensão, e que é a decisão das administrações da TPA e da TV Zimbo, ambos os canais sob a alçada do Estado, de boicotarem as actividades do partido do "Galo Negro" depois dos episódios de intolerância política ocorridos entre jornalistas e manifestantes da UNITA, no Sábado, 11, convocada para exigir eleições justas e transparentes.

Isto, apesar de o Presidente da República ter feito voltar ao Parlamento a Lei das Eleições Gerais que tinha sido aprovada pela maioria qualificada do seu partido, justificando a não promulgação imediata com a necessidade de melhorar aspectos como a sã concorrência, verdade eleitoral e igualdade entre concorrentes, tudo pontos que tinham sido enfatizados na torrente de críticas da oposição a essa mesma lei.

E, nesse caminho, João Lourenço veio, ainda em Ndalatando, procurar colocar água na fervura do diferendo da cobertura televisiva ao apelar a que as partes, UNITA e televisões sob tutela do Estado, para que conversem, sugerindo que o partido peça desculpa aos "ofendidos" porque, com isso, tudo "voltará ao normal".

Foram as tv"s que "sentiram na pele a intolerância por parte de um determinado partido político, sentiram a vida dos seus jornalistas, dos seus profissionais em perigo e reagiram da forma que todos vimos", disse ainda o Presidente Lourenço.

O País já passou por dificuldades maiores que foram ultrapassadas com um pedido de desculpa, destacou.

Na primeira resposta da UNITA, o seu porta-voz, Marcial Ndashala, disse que a atitude da TPA e da TV Zimbo é "ridícula e inaceitável".

"Para além dos comunicados destas estações televisivas, veio depois outro comunicado do Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, (MINTTICS) e outro do Bureau Político do MPLA. Nós não somos ingénuos e a UNITA nunca vai pedir desculpas a esses órgãos, como é pretensão, da TPA e da TV Zimbo pagas com dinheiro de todos nós", assegurou o porta-voz da UNITA.

Mas já hoje, quinta-feira, 16, foi marcado outro encontro entre dirigentes da UNITA e o MINTTICS, que o maior partido da oposição acusou de ter tomado partido quando no passado ignorou circunstâncias semelhantes, na sede do Ministério, em Talatona, Luanda, para analisar este assunto.

A UNITA, recorde-se, tinha lembrado esta semana que este boicote das TV"s pagas com dinheiro dos angolanos veio "oficializar a censura em Angola" porque antes deste problema, o "normal" era as suas actividades serem simplesmente ignoradas nos alinhamentos dos seus noticiários.

Um dos exemplos dados foi o facto de o Congresso onde Adalberto foi eleito líder da UNITA, em disputa com outros quatro dirigentes históricos, ter merecido muito menos tempo e atenção da TPA e da Zimbo que o congresso da OMA, onde a sua candidata única, sem oposição interna, foi "honrada" com longas transmissões em directo e em diferido.

Mas não é o caso de João Lourenço, que insistiu na capital do Kwanza Norte ser ele próprio protagonista de qualquer campanha eleitoral, apesar de acumular os cargos de Chege de Estado e o de presidente do MPLA, colocando as coisas no que considera ser o seu devido lugar: "Esta é uma visita que foi adiada algumas vezes e, agora, finalmente, aconteceu. A intenção é fazer o mesmo em todo o País, ir a todas as províncias, o que nada tem a ver com campanha ou pré-campanha", especialmente a um ano de distância das eleições.

Para já, as televisões já mostraram estar receptivas a aceitar a sugestão do Presidente, porque, se não fizeram qualquer referência às iniciativas da UNITA, deram largo destaque ao apelo ao diálogo entre as duas partes lançado a partir de Ndalatando pelo Chefe de Estado.

E, se, como a UNITA afirma repetidamente há anos, as televisões continuarem a "boicotar" a sua actividade política, de facto, nada mudará, mas se o apelo de João Lourenço for aproveitado para criar um novo plano na relação entre o maior partido da oposição e a TPA e TV Zimbo, ambas sob tutela estatal, então este é um momento de oportunidade, porque a partir daí será difícil às direcções editoriais assobiarem para o lado quando a UNITA as "convidar" para a cobertura de uma qualquer actividade em circunstâncias semelhantes às que merecem as iniciativas do MPLA.

Já para João Lourenço, podendo ser meras coincidências, o que parece é que está a aproveitar estas pequenas querelas político-partidárias para se colocar acima delas, surgindo mais como o Chefe de Estado que o País precisa que o presidente que o MPLA tem, de facto.

Isso, quando devolve a Lei das Eleições Gerais que o seu partido aprovou ao Parlamento, ou quando apela a que a UNITA e as TVs, que são tuteladas pelo Governo que dirige, conversem e se entendam, ou ainda a mandar um claro recado, desde Ndalatando, de que não se mete em campanha eleitoral porque isso é uma coisa para a qual olha de cima a partir da sua condição de Chefe de Estado e que só desce à condição de líder partidário daqui a um ano, quando se aproximar o dia do veredicto definitivo, o dia das eleições.