Cinco anos depois com o novo Presidente da República, que avaliação faz do estágio em que se encontra o País?

(Silêncio). O País, sendo realista e, sobretudo, positivo, tem vindo a crescer nos vários segmentos, fundamentalmente no segmento social, onde tem dado resposta ao sector da Energia e Águas, estradas e infra-estruturas, em geral, mas o que ressalta à vista é o factor humano. Isso significa que houve um crescimento na perspectiva da harmonização dos angolanos. Creio serem estes elementos fundamentais que nos conduzirão ao progresso, ao desenvolvimento e, sobretudo, à consolidação da paz e daquilo que queremos para uma Angola boa para se viver.

Pode ser mais claro na explicação ligada à harmonização dos angolanos?

A harmonização passa pelo factor espiritual ou de natureza psicológica. A aceitação que os angolanos têm na convivência na diferença, de perceberem os outros diferentes de si próprio, através de filiação de partidos políticos, associações da sociedade civil, credo religioso e outros, é neste campo que penso que houve um crescimento positivo por parte dos angolanos.

Continuamos a ter uma sociedade muito desnivelada naquilo que é a distribuição da riqueza nacional...

A questão da pobreza não se pode circunscrever apenas em Angola, porque isso é reflexo das políticas globais que o mundo vai desenvolvendo e que não tem dado resposta cabal às necessidades das pessoas, por um lado, e porque, por outro, não há um equilíbrio na justa distribuição da renda dos países, em particular de Angola, mas é um problema que penso que se vai debelar com o próprio tempo, com a intervenção de outros factores, fundamentalmente o sector produtivo. Enquanto não fizermos da agricultura o factor de desenvolvimento de Angola e da indústria o factor de transformação, vamos tendo sempre muita gente no desemprego e, havendo muita gente no desemprego, obviamente se registaria mais pobreza, mais fome, entre outras coisas. O esforço que está a ser feito é para contrariar esse elemento negativo que ainda temos na sociedade.

Há anos em que o seu MPLA promete combater a fome e a pobreza, mas, até agora, os resultados não são visíveis...

Depende muito de como é que queremos perceber este fenómeno. Se quisermos perceber na perspectiva da satisfação da barriga, penso que há fome, temos de aumentar a produção, temos de melhorar a distribuição, etc. Mas, os angolanos não podem perder de vista um elemento que é extremamente importante juntarmos sempre à nossa análise, é que o crescimento da nata intelectual, quer a camada média, quer a nível superior, aumentou significativamente, e os números estão aí. Portanto, a gente não pode negar o que é factível. O número de técnicos superiores que temos hoje, o número de técnicos médios que temos hoje é bastante alto. Isso reflecte-se na posição das pessoas. Portanto, não é só o alimento na tradição comer, não, é o conjunto, o homem, como é que se está a transformar. É aí que nós devemos fazer incidir a nossa análise.

No seio do MPLA, têm ocorrido discussões sobre o impacto do nível de escolaridade da população na economia? Que é necessário também pensar nos programas, não só na comida para matar a fome...

O MPLA não tem discutido porque é a base de acção do próprio MPLA. Só para ter em atenção que já o saudoso Presidente Neto nos deixou o legado de que "o mais importante é resolver os problemas do povo", e, quando fez essa citação, fê-lo de modo global. Então, os programas que o MPLA tem vindo a materializar essa componente, uma componente que precisa de se materializar no tempo, e que, estamos a fazer todos um esforço para atingir esse objectivo.

Enquanto isso, os indicadores apontam que os problemas do povo crescem de forma galopante...

Não é bom voltarmos ao passado, mas não podemos esquecer que tivemos um passado bastante difícil do ponto de vista da destruição de infra-estruturas, do ponto de vista da destruição do tecido psicossocial dos angolanos, do ponto de vista de campos minados, etc. Estamos agora a sair desta situação. O que tem de haver, acredito, é esperança, acreditar que somos nós os angolanos que temos de fazer mudanças, não podem ser os outros. O MPLA tem essa responsabilidade por ser poder, mas esta transformação de Angola não pode incidir apenas sob a vontade do MPLA, tem de incidir sob a sociedade. Todos nós temos de fazer a nossa parte, Angola é de todos nós e temos de construí-la com sacrifício e com muita dedicação vamos lá chegar.

O facto de o MPLA ser poder desde 1975 é natural que haja maior pressão social ao seu partido...

É normal que a sociedade assim se comporte, portanto o MPLA não pode fugir a essa realidade. Quanto mais pressão houver, é sinal evidente de que o MPLA está presente. O MPLA é uma referência sobre o qual o povo não pode subestimar. Queremos mais, essa é uma vontade expressa por todos nós. Queremos melhorar a qualidade de vida dos angolanos, queremos melhorar as condições básicas sociais, as condições económicas. Este é um caminho que pretendemos seguir.

O discurso do interesse de melhorar quase tudo é manifestado, quase sempre, nos períodos eleitorais... Já parece meramente político, não é?

Se estabelecermos uma analogia com outras realidades geográficas e políticas, vamos ver que se levou muitos anos para chegarem ao estágio de desenvolvimento em que se encontram. Então, é isso que estamos a fazer. Vai ver América quantos anos levou para atingir o estágio em que se encontra, vão ver o Brasil, quantos anos levou, vão ver Portugal, quantos anos levou para se estabilizar, mesmo assim Portugal tem os problemas que tem, não foram supridos os problemas de emprego e justiça social. A construção de um País faz-se no tempo, e é aí que deve residir a nossa preocupação enquanto angolanos. Vamos construir com paz, com harmonia, com espírito de bem-fazer. Creio e acredito na liderança do País, acredito na direcção do nosso partido e estamos aí para trabalhar neste sentido.

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