João Lourenço, na conferência de imprensa realizada hoje no Palácio Presidencial, em Luanda, a primeira de 2022, explicou que considera ser uma vergonha essa situação porque apenas um grupo nacional, o Grupo Leonor Carrinho, reuniu as garantias suficientes para que o credor, o alemão Deutshe Bank, concedesse esse crédito, de 200 milhões de euros, assim como a garantia soberana do Executivo angolano.

"Qual a imagem que estamos a passar lá para fora?!", questionou o Chefe de Estado, em resposta a uma questão do jornal Expansão, em tom crítico, e claramente a lamentar a escassa capacidade demonstrada pelos empresários angolanos para investir no País, mesmo com uma linha de crédito no valor de mil milhões de euros disponível há três anos.

Acrescentando, João Lourenço, disse que ainda estão disponíveis 800 milhões de euros, aproveitando para lançar o desafio às empresas angolanas para se organizarem de forma a poderem aceder a esta verba para investir na economia nacional, que disse ser a sua grande prioridade na forma da sua diversificação.

Neste encontro, onde apenas estiveram presentes cinco órgãos de comunicação social - Expansão, Zimbo, O País, Lusa e Jornal de Angola -, João Lourenço deixou claro que Angola vai ter eleições gerais em 2022, diluindo as dúvidas que foram sendo levantadas sobre o processo eleitoral, nomeadamente pelos partidos da oposição.

O Chefe de Estado disse ainda que a diversificação da economia e criação de um bom ambiente de negócios são os eixos da sua governação e não o combate à corrupção, sendo este uma exigência quando se pretende criar um bom ambiente de negócios no País.

O primeiro órgão a colocar questões foi o Expansão, que perguntou ao Presidente da República se o facto de quatro grupos económicos (Gemcorp, Carrinho, Omatapalo e Mitrelli) terem ganhado a maioria das obras, contratos de fornecimento e gestão do Estado e titularidade de outros bens económicos, na maioria dos casos por adjudicação directa ou contratação simplificada não afecta a imagem de transparência que tem sido uma das bandeiras da governação?, questionando ainda sobre qual o tipo de relação têm estes grupos com a Presidência...

João Lourenço afirmou que nenhuma dessas quatro empresas detém a maioria das empreitadas, que essa maioria é detida pelas construtoras chinesas.

Sobre a GemCorp, João Lourenço afirmou que a empresa financia os seus próprios projectos e que a Sonangol ganhou 10% no negócio da construção da refinaria de Cabinda, que não terá qualquer custo para o Estado, nem implicou dívida pública.

"As empresas chinesas detêm a maioria das obras públicas no País, não apenas pela quantidade de obras públicas que executam como pelo valores avultadíssimos que essas obras representam. Não é nenhuma dessas empresas que está a construir a barragem do Caculo-Cabaça ou o aeroporto de Luanda. Não é nenhuma dessas empresas que está a construir o Porto do Caio", exemplificou João Lourenço.

"A GemCorp financiou, desde 2016, e em 2016 eu ainda não era Presidente, 2.4 mil milhões de dólares, sobretudo para projectos de defesa e segurança, saúde, energia e águas", acrescentou.

De seguida, o Presidente falou sobre o Grupo Leonor Carrinho, que, lembrou, "começou do nada e foi crescendo e consolidando-se nos últimos anos".

"Fui eu que inaugurei em Benguela a indústria de transformação de produtos alimentares que creio ser a maior do País. Que eu saiba, o Estado não pôs um tostão nesse projecto do grupo Carrinho. Eles recorreram aos capitais privados que foram juntando ao longo dos anos e obviamente que não eram suficientes para erguer um gigante como aquele, por isso recorreram à banca comercial. E se a banca comercial confiou significa dizer que tem credibilidade, senão, a banca comercial não arriscaria", disse João Lourenço.

Sobre o grupo Mitrelli, o Presidente recordou que este está a financiar uma linha de crédito de 1.7 mil milhões de dólares, que está a cobrir as despesas de construção da CNE, a construção e apetrechamento de unidades hospitalares - "todos hospitais de 200 camas", enfatizou João Lourenço -, centralidades em Cabinda, Bengo, Cunene, dois estádios de futebol, nomeadamente no Huambo e no Uíge, a conclusão das obras do Centro de Ciência e Tecnologia de Luanda, e a linha de transportação de energia Sumbe-Gabela.

Já sobre a Omatapalo, o Presidente da República afirmou que, para além de ser a maior construtora privada nacional, "à altura de executar grandes empreitadas de obras públicas", e que "tem de ser acarinhada".

"A Omatapalo de alguma forma também tem financiado o Estado", disse João Lourenço.

Como? "Avançando com as obras sem receber um tostão do Estado", explicou o Chefe de Estado.

Segundo o Chefe de Estado, os financiamentos da GemCorp e do grupo Mitrelli "não são gravosos para o Estado", ao contrário de outros que têm sido propostos ao longo dos últimos anos.

Sobre a UNITA

Sobre a disputa eleitoral que se avizinha, e depois de garantir que as eleições vão, sem dúvida, ter lugar este ano, como está previsto, o Presidente João Lourenço acusou a UNITA de estar a formar uma coligação porque não está preparada para vencer sozinha.

Citado pela Lusa, um dos cinco media convidados pela Presidência angolana para esta conferência de imprensa, sublinhou que desde 1992, ano das primeiras eleições multipartidárias no País, a oposição tem avaliado mal a realidade angolana

"Já nas eleições de 92 diziam que o MPLA não tinha hipótese, pelo simples facto de, até àquela altura, ter sido partido único", afirmou, destacando a seguir não foi isso que sucedeu, nem nas eleições seguintes.

O também presidente do MPLA disse estar convicto de que também para as eleições de 2022 a oposição está a avaliar mal a situação, porque "continua a haver essa má avaliação do teatro das operações".

E notou que, no seu entender, a UNITA demonstra estar "pior que anos atrás" porque o "principal adversário" do seu partido está a chamar Frente Patriótica Unida, a plataforma criada entre a UNITA, o projecto político PRA JA Servir Angola, de Abel Chivukuvuku, e o Bloco Democrático, "para enfrentar o MPLA, isso só significa dizer que, se calhar, estão pior do que estavam uns anos atrás, nas eleições anteriores".