O Novo Jornal teve acesso ao primeiro despacho de Samakuva, datado de 21 de Outubro, onde o nome do deputado Nelito Ekuikui consta na lista dos secretários províncias do partido em oito províncias onde este é reconduzido pelo actual presidente da UNITA Isaías Samakuva.

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Apesar deste documento estar carimbado e assinado pelo presidente Samakuva, que reassumiu o partido após a anulação do congresso de 2019, pelo Tribunal Constitucional (TC), e onde Adalberto Costa Júnior tinha sido eleito, não chegou a ser validado.

O que foi revelado como oficial, e onde Nelito Ekuikui é exonerado, tem data de 01 de Novembro, o que demonstra que entre uma data e outra, menos de duas semanas, o líder do partido do "Galo Negro" mudou de ideias.

Segundo um dirigente da UNITA, que pediu para não ser identificado, a exoneração do ex-secretário provincial de Luanda surpreendeu vários membros da comissão politica.

"Como podem ver, no primeiro despacho o Nelito constava, no segundo já não. Por que razão não sabemos, somente o presidente sabe", disse a fonte.

Esta fonte sublinha que este episódio não vai importunar o partido neste momento porque existe uma convicção generalizada de que o XIII Congresso Ordinário, marcado para 2 a 4 de Dezembro, vai garantir a reposição da "normalidade" alterada pelo acórdão do TC.

"Foi de facto um golpe duro (a exoneração de Ekuikui), mas temos confiança no futuro e sabemos que as coisas irão voltar à normalidade como estava antes do acórdão do Tribunal Constitucional. O tempo o confirmará", salientou.

O deputado Nelito Ekuikui é um dos militantes em clara ascensão na UNITA liderada por Adalberto Costa Júnior nos dois anos anteriores ao acórdão do TC, devido à sua presença continuada nos media e porque, nas eleições gerais de 2017, conseguiu dois deputados na província de Luanda, o que nunca aconteceu nas últimas três eleições do pós-guerra.

Contactado pelo Novo Jornal, o deputado Nelito Ekuikui não aceitou falar sobre este assunto, afirmando estar remetido ao silêncio.

Porém, nas redes sociais, escreveu que está disponível para todos os desafios: "Eu continuarei servindo o país e o partido de várias maneiras, em várias frentes, os cargos não devem nunca ser eternos, pelo contrário, devem existir dinâmica e rotatividade. Agradecemos profundamente ao presidente Samakuva pela sábia escolha, de nos ter indicado a este cargo, e também agradecemos ao presidente por ter notado que, para o momento, outra pessoa deve servir. E nós estaremos aqui sempre disponíveis para qualquer missão que nos for incumbida pelo partido. Estamos também ávidos do compromisso que temos, em servir com muitas energias porque o congresso está à porta. Assim como para esta direcção, para a próxima direcção do partido, nós estaremos também inteiramente à disposição".

O analista político Olívio Kilumbo, membro da sociedade civil, disse ao Novo Jornal que o acórdão do Tribunal Constitucional (TC) veio criar problemas no seio da UNITA onde havia uma forte coesão.

"A UNITA terá um congresso daqui a um mês, exonerar um secretário provincial, sobretudo aqui na capital, que é um praça eleitoral muito disputada, é um risco", referiu.

Para Olívio Kilumbo, Nelito Ekuikui apresenta-se como "dono desta praça eleitoral", visto que é "um forte cabo eleitoral".

"Não vejo razões substanciais que levassem à sua exoneração, embora as figuras da UNITA entendam ser normal", sublinhou.

Também ouvido pelo Novo Jornal, Ernesto Mulato, deputado da UNITA, disse que o regime do MPLA pretende dividir o partido.

"Mas isso não vai acontecer, pelo contrário. Estamos cada vez fortes com estas manobras criadas pelo MPLA", disse.