Segundo estes partidos, quando foi aprovada a Lei dos Feriados Nacionais, o partido maioritário não deu importância ao 04 de Janeiro, que é uma data histórica para o povo angolano.

"Hoje deveria ser um feriado nacional, porque o 04 de Janeiro foi um acontecimento histórico que deu início à luta armada contra o colonialismo português", disse ao Novo Jornal o porta-voz da UNITA, Marcial Dachala.

De acordo com o político, "quando houver em Angola a verdadeira reconciliação nacional, 04 de Janeiro passará a ser feriado nacional".

"A Assembleia Nacional tem de rever esta situação. É uma data de muito sacrifício para o povo angolano que foi oprimido pela administração portuguesa", referiu o político.

O presidente da CASA-CE, Manuel Fernandes, disse que quando foi aprovado no Parlamento a Lei dos feriados nacionais, o partido no poder ignorou uma data histórica que deveria ser um feriado nacional.

"Vamos continuar a lutar para que o 04 de Janeiro passe a ser um feriado e não apenas uma data de celebração nacional", defendeu Manuel Fernandes.

"Milhares de angolanos perderam a vida neste acontecimento. A data não pode ser minimizada", acrescentou o líder da CASA-CE.

A província de Cabinda acolhe a realização do acto central do Dia dos Mártires da Repressão Colonial. As jornadas decorrem sob o lema "04 Janeiro de 1961 a 04 de Janeiro de 2022 - 61 anos de Honra e Glória aos Bravos Heróis da Baixa de Cassanje".

Ainda para o mês de Janeiro, o Ministério da Defesa Nacional anunciou a realização do acto central do Dia do Antigo Combatente e do Veterano da Pátria, que se comemora no dia 15.

Segundo o comunicado, o acto central do 15 de Janeiro, terá lugar na província do Huambo, sob o lema "Antigo Combatente e Veterano da Pátria - Símbolos da Liberdade, Paz e Reconciliação Nacional".

Para assinalar a data, o Bureau Político do Comité Central do MPLA emitiu um comunicado em que "rende profunda homenagem aos compatriotas assassinados, expressando o firme compromisso de preservação do seu legado histórico".

Para o Bureau Político dos "camaradas", "a contestação dos camponeses da Baixa de Cassanje, mais do que um acto de justa reivindicação de direitos, representou uma postura heroica prenhe de bravura e determinação do Povo Angolano pela liberdade, e marcou o início do processo de Luta Armada, que culminou com a proclamação da independência nacional em Novembro de 1975".+

Pela sua dimensão histórica, o MPLA defende "a permanente valorização da data, enquanto tributo aos seus mentores".

"As celebrações do 61º aniversário dos acontecimentos da Baixa de Cassanje decorrem num ano que ficará marcado pela realização de mais um pleito eleitoral, evidente premissa de consolidação e reforço do Estado democrático de direito, pelo que o MPLA exorta a população angolana a participar patrioticamente nas acções que concorrem para o êxito do Registo Eleitoral Oficioso, reforçando assim os pilares da construção de uma sociedade assente em elevadas expressões de justiça, solidariedade, paz, igualdade e progresso social", lê-se ainda no comunicado.

Massacre de Casssange

A 4 de Janeiro de 1961 teve início uma revolta dos trabalhadores da antiga Cotonang, a multinacional com participação belga que explorava os campos de algodão da Baixa de Cassanje, em Malanje, sendo considerado o primeiro movimento de contestação ao domínio colonial português.

Nesta sublevação terão morrido centenas de trabalhadores, milhares segundo algumas fontes históricas, em confronto com os guardas da empresa, primeiro, e depois com o Exército colonial português, tendo mesmo sido o primeiro momento em que a antiga metrópole recorreu à aviação para atacar o "inimigo" em solo africano.

Esta revolta está, no entanto, envolvida em vários mistérios, sendo um dos mais conhecidos a influência de forças do antigo Congo belga, acabado de chegar à independência, e de forças com ligações ao chamado "culto de Maria", uma organização esotérica que procurou, e chegou a convencer, como relatam algumas investigações académicas, as populações residentes na área gerida pela Cotonang que balas disparadas pelos colonos brancos não matavam os à época chamados "nativos".

Apesar desta envolvência, o 4 de Janeiro marca o primeiro confronto de índole contestatária ao regime colonial, sendo mesmo considerada por alguns historiadores como o rastilho que um mês depois permitiu a "explosão" do 4 de Fevereiro, quando foram lançados ataques às cadeias de Luanda, facto considerado pelo MPLA, que chama a si esta iniciativa histórica, como o início da luta que acabaria por levar à guerra pela independência que chegaria a 11 de Novembro de 1975.