Hakainda Hichilema, que termina esta quinta-feira uma visita oficial a Angola, manteve um encontro com o seu homólogo angolano, João Lourenço, e falou à imprensa no final da reunião de trabalho das delegações dos dois países, que assinaram seis instrumentos jurídicos para o reforço da cooperação entre os dois Estados.
O chefe de Estado zambiano salientou que o petróleo é um dos principais produtos de consumo, sublinhando a importância dos combustíveis para a economia da Zâmbia.
"Não sei como é que nós conseguimos manter esta situação de comprar combustíveis da Arábia Saudita e de outras partes do mundo e não a nível do nosso vizinho. Acredito que todos estão chateados com isto, porque o mercado está aqui próximo, e a Zâmbia também se devia sentir mal, que não estejamos a comprar ao nosso familiar que está na próxima esquina, na mesma casa, isto é inaceitável", frisou.
De acordo com o programa de visita, Hakainda Hichilema estará esta quinta-feira em Benguela, onde deverá visitar o Corredor do Lobito e as obras de construção da refinaria do Lobito.
Por sua vez, João Lourenço disse que as obras de construção da refinaria do Lobito deverão estar concluídas em 2026, destacando a importância da execução de outros projetos para melhor servir o país vizinho em termos de combustíveis.
"Os combustíveis são importantes para o desenvolvimento de qualquer economia, os combustíveis é energia. É muito natural que a Zâmbia, sendo nossa vizinha, tenha bastante interesse em adquirir esses combustíveis em Angola, no país vizinho, sobretudo quando Angola tiver capacidade maior de refinação do petróleo bruto que extrai", referiu o Presidente angolano.
João Lourenço informou que foram retomados os trabalhos para a conclusão da refinaria do Lobito, e neste intervalo, outros projectos que devem ser executados, nomeadamente a construção do canal ferroviário Luacano/Jimbe, para fazer chegar os combustíveis da refinaria do Lobito à Zâmbia por via-férrea, em cisternas sobre carris.
"Mas uma solução melhor do que essa de transportar os combustíveis por via-férrea é sem sombra de dúvidas a construção de uma "pipeline" entre a cidade do Lobito e a Zâmbia", afirmou.
Segundo João Lourenço, este projecto, que tem vindo a ser pensado há algum tempo, mantém-se de pé, e a sua construção está sob responsabilidade da parte zambiana, "que inicialmente tinha indicado uma empresa, mas que por qualquer razão essa empresa acabou por ser substituída por uma outra".
"Acredito que este passo de substituição da primeira empresa terá a ver com certeza com a necessidade de se imprimir uma maior velocidade no projecto de construção do "pipeline'", frisou.
Da parte angolana, garantiu João Lourenço, serão dadas todas as facilidades no sentido de se construir a ligação em tempo útil, ou seja, antes da conclusão da refinaria do Lobito.
Na conferência de imprensa, o Presidente angolano manifestou-se confiante que as economias dos dois países vão evoluir se "houver trocas comerciais fáceis, se houver investimento angolano na Zâmbia e se houver investimento zambiano em Angola".
"É para isto que estamos a trabalhar e acreditamos que desta vez não estamos aqui para apenas nos limitarmos a assinar acordos de cooperação, apenas a manifestar intenções de interesse, mas estamos aqui para fazer as coisas acontecerem", salientou.
João Lourenço disse também que Angola conta com o país vizinho, com o qual partilha uma fronteira comum de 1.110 quilómetros, para o repovoamento de gado, matéria em que a Zâmbia é "muito forte".
"Nós queremos ir beber a sua experiência, Angola tem a necessidade de repovoar o país em gado, particularmente gado bovino, para além da possibilidade de comprarmos carne da Zâmbia como produto acabado para consumo imediato do nosso mercado", destacou.
PR zambiano pede a Angola leis inclusivas e de apoio ao investimento conjunto
O Presidente zambiano apelou aos deputados angolanos para que façam leis inclusivas que garantam os direitos dos cidadãos e legislação que apoie o desejo de investimento conjunto entre Angola e a Zâmbia
"Eu apelo a este parlamento para fazerem leis que apoiem a consolidação da paz, estabilidade e segurança do vosso país, para que possam apoiar a paz e estabilidade da Zâmbia, da SADC [Comunidade de Desenvolvimento da África Austral] e do mundo", disse Hakainda Hichilema.
Com um discurso essencialmente virado para a cooperação económica, que abordou também questões de estabilidade e paz na região, o Presidente da Zâmbia, Hakainda Hichilema, discursou numa sessão plenária solene na Assembleia Nacional, agendada no âmbito da visita oficial, de 72 horas, que termina esta quinta-feira.
Segundo o Presidente zambiano, a responsabilidade dos deputados é grande, pelo que devem exercitar esta responsabilidade de forma pública.
"Façam leis que possam apoiar a existência colectiva, façam leis, emendem leis, como têm visto no nosso país, nós estamos a emendar leis. Este ano de 2023 nós chamamos de abertura de todas as leis que afectam o desenvolvimento do nosso país", salientou.
Hakainda Hichilema sublinhou que esteve na oposição antes de assumir a Presidência da Zâmbia e sabe a importância de se trabalhar em conjunto depois das eleições para a prestação de serviço para bem da população.
"As eleições surgem e depois disso as pessoas vão fazer a escolha e os escolhidos devem trabalhar para servirem as populações. Eu sei porque fiquei na oposição durante muito tempo e consigo reconhecer a obrigação que vocês têm para o povo de Angola e da nossa região em África", disse.
"Por favor, façam leis que possam apoiar o desejo de podermos investir em conjunto, vezes há em que os parlamentos podem criar bloqueios sobre as visões dos nossos povos, mas nós confiamos em vocês e nós confiamos no parlamento da Zâmbia, vamos trabalhar em conjunto, conversem, construam relações, laços, aprendam uns dos outros, corrijam-se, acho que esta é a forma que devíamos seguir", acrescentou.
Por sua vez, a presidente da Assembleia Nacional de Angola, Carolina Cerqueira, manifestou o desejo de fortalecimento das relações de cooperação entre os parlamentos angolano e zambiano com vista à troca de experiências e boas práticas na busca das melhores soluções para resolver os problemas dos povos e países.
"O parlamento angolano está disponível para trabalhar na definição de uma nova estratégia de reforço da cooperação interparlamentar com o parlamento da Zâmbia, no quadro da diplomacia parlamentar, comprometendo-se em proporcionar todas as condições para ainda no decorrer do presente ano criarmos o grupo de amizade Angola-Zâmbia a nível dos nossos parlamentos", referiu Carolina Cerqueira.