Num período de mais de sete horas, os profissionais de saúde, que enfrentaram o sol e o frio seco com poeiras do tempo de cacimbo, só pararam as consultas quando a noite engolia os poucos raios de sol que restavam.

Na jornada de campo foram atendidos centenas de pacientes, dos quais 97 em medicina, 93 de pediatria, sete de psicologia e 500 que tomaram as vacinas inscritas no Programa Alargado de Vacinação.

A chefe do depósito e logística da DMSM, Luísa Nicolau, garante que a malária, com 84 casos, liderou o gráfico de atendimento, seguindo-se a febre tifoide, com 15 positivos, para além de casos de infecção respiratória, conjuntivite, infecção urinária, entre outros.

A responsável pelo controlo e armazenamento de fármacos afirma que "a saúde é escassa, não existe nenhum posto ou centro médico próximo, e os que existem estão muito distantes da localidade,", deixando no ar a ideia de que não será para breve o regresso de uma equipa ao local, conhecendo as necessidades das demais aldeias e bairros que circundam o município sede (Malanje) e padecem de instituições sanitárias.

O valor médio que os moradores de Matamba gastam para uma viagem ida e volta ronda os 5.000 kwanzas, de carro ou motorizada, até à cidade de Malanje, ou Quéssua, num percurso superior a uma hora para serem assistidos por um médico ou enfermeiro e comprar medicamentos caso haja falência no centro de saúde ou hospital.

As crianças, idosos e mulheres grávidas estão diariamente sujeitas ao risco de contrair várias doenças provocadas pelo excesso de calor ou humidade, qualidade da água consumida, défice de alimentos e da segurança por parte das residências.

Os técnicos da DMSM, com apoio em transporte [autocarro] da Universidade Rainha Nginga A Mbande, munidos com medicamentos para atender 4.000 pessoas, testes rápidos de malária e vacinas desde a BCG, pólio, sarampo, febre amarela, tétano e hepatite, imunizaram crianças e adultos incritas no PAV, confirma à chegada o coordenador da equipa, Sales Inglês.

Uma progenitora, Luzia Figueira, 33 anos, desprovida de dinheiro para o táxi e assim cumprir o calendário de vacinação num centro médico na capital provincial, abriru, com a filha, o programa da brigada e do PAV ao vacinar pela primeira vez a sua recém-nascida de duas semanas.

O supervisor municipal do PAV, Santos Miguel, ministrou à bebé as gotas de vitamina A que seriam tomadas logo após o nascimento, e também a pólio oral, assim como a mãe, que tomou igualmente a vitamina A e o tétano.

"Não temos cá hospital" lembra António Florentino, 37 anos, que vive com quatro filhos e a esposa que aderiu com a família à campanha de vacinação, numa localidade em que as necessidades fisiológicas são realizadas ao ar livre.

"Nós fazemos nas matas, às vezes cavamos latrinas, mas não é suficiente", afirmam.

Grávida de seis meses, Isabel Fernandes, 35 anos, mãe de cinco filhos, que efectuava as consultas pré-natal no Centro de Saúde da Cahala, "Ngolo", recebeu pela primeira vez o cartão de grávida em Matamba, resultante das limitações àquele centro que atende os internados da cólera no município de Malanje.

"Não estão a atender, vou apanhar aqui as vacinas, com as minhas outras crianças", explica.

"As condições de vida são difíceis na região, e temos de aguentar por ser consequência da actual conjuntura do País", justifica o interlocutor, que pede água potável, saneamento básico.

A saúde é precária porque o valor da venda da mandioca está aquém para satisfazer a falta de alimentos, por ausência de tractores e outros equipamentos para garantir a auto-suficiência alimentar, explica.

Para imunizar os residentes de Matamba, Combo e os Tomeus a supervisão municipal do PAV preparou 500 doses de sarampo, 400 doses de pentavalente, pneumo a mesma quantidade, 300 de hepatite para adultos, 200 de BCG e iguais porções da pólio oral e febre amarela, garante o supervisor, Santos Miguel.

Os resultados foram satisfatórios com a vacinação de seis crianças recém-nascidas, 45 menores de um ano, com nove meses estão imunizadas 25 com febre amarela e sarampo, 17 mulheres grávidas tomaram a 1ª dose e 101 mulheres em idade fértil dos 14 aos 45 anos também receberam os antígenos do PAV.