Por causa das exigentes condições de armazenamento, a mais de 70º negativos, esta vacina da Pfizer/BioNTech está "condenada" a ser de utilização exclusiva dos países mais ricos, onde existem linhas de frio avançadas, o que significa que apenas uma parcela da humanidade está no caminho da vacinação, estando os menos abastados, como o continente africano, larga parte da Ásia e da América do Sul e Central condenados a aguardar que vacinas de menor complexidade técnica possam estar disponíveis.
Para já, das vacinas produzidas no Ocidente, apenas a da AstraZeneca/Oxford está em fase final de aprovação e poderá surgir como uma solução global e não apenas para um grupo restrito de países privilegiados.
Mas existem outras, como a russa Sputnik V ou duas produzidas em laboratórios chineses, como a CoronaVac, cujas exigências técnicas são muito menores que as da Pfizer ou ainda da Moderna, devido à utilização de métodos de produção conhecidos e testados noutras drogas, que já estão a chegar a países em desenvolvimento, como a Indonésia, que acaba de receber mais de um milhão de doses enviadas por Pequim.
O que distingue a da Pfizer e a da Moderna das restantes é que estas utilizaram uma tecnologia inovadora denominada RNAm (Mensageiro), cuja função é levar informação ao sistema imunitário humano para este estar alerta contra o novo coronavírus quando e se este chegar, enquanto as demais estão a ser produzidas a partir do uso de outros vírus, como o adenovírus, que gera as constipações, ou ainda o próprio coronavírus atenuado, que são ambas técnicas sobejamente provadas na criação de vacinas para a generalidade das infecções existentes.
Um dia histórico
Desde que a Covid-19 surgiu, oficialmente em finais de 2019, na China, embora existam algumas evidências de que o vírus já estava a circular meses antes, que o mundo, desde logo em Pequim, iniciou uma corrida frenética para encontrar uma vacina que pudesse anular esta infecção, tendo esse esforço conduzido à produção de não uma mas pelo menos cinco vacinas em tempo recorde - menos de um ano quando o normal é levar 10 anos a produzir uma vacina.
E foi hoje que a meta foi cortada quando, manhã cedo, Margaret Keenan (na foto), uma cidadã britânica de 90 anos, recebeu a primeiro dose da vacina da Pfizer/BioNTech, marcando aquilo que o mundo espera ansiosamente que seja o fim desta infecção que virou o planeta do avesso, que gerou a mais grave crise sanitária em quase um século e conduziu a economia mundial a uma crise que já não se via desde o crash bolsista de 1929, nos EUA.
Angola está entre os países que mais sofreram o impacto da pandemia da Covid-19, acumulando com a crise sanitária a crise económica gravada a ferro no tecido social porque o petróleo foi a matéria-prima mais fustigada nestes 11 meses de domínio global do novo coronavírus e o País tem uma sólida dependência das suas exportações de crude, que ainda é responsável por mais de 94% das suas exportações e mais de 50% do seu Produto Interno Bruto (PIB).
Mas o primeiro passo para libertar o mundo desta castradora doença foi dado agora no Reino Unido, com o lançamento oficial do primeiro programa oficial de vacinação em todo o planeta, aprovado por um dos organismos reguladores mais exigentes e respeitados globalmente, embora seja de sublinhar que a Rússia e a China já estão a usar as suas vacinas de forma alargada, nomeadamente no pessoal hospitalar, mais exposto à infecção, em Moscovo, ou nas Forças Armadas, em Pequim.
Para já, os britânicos vão contar com 40 milhões de doses - custa cerca de 17 USD por dose, enquanto a da Moderna custa perto de 23 e a da AstraZeneca, a mais barata, cerca de 4 - da vacina americana-alemã, o que chega para imunizar 20 milhões - são cerca de 67 milhões de habitantes -, embora Londres tenha feito igualmente encomendas de milhões de doses à Moderna e à AstraZeneca/Oxford, tal como os restantes países europeus.
"Sinto-me uma privilegiada por estar a receber esta vacina, por ser a primeira pessoa a ser vacina contra a Covid-19", disse Margaret Keenan após ter sido inoculada, tendo aconselhado todos os que puderem a fazê-lo, sem medo e sem receio, porque é fundamental livrar o mundo desta opressão.
Nos primeiros dias do programa de vacinação, o Reino Unido conta imunizar perto de 900 mil pessoas, tendo dado prioridade aos mais idosos e em lares ou com outras doenças associadas, ao pessoal médico...
Angola...
Para Angola, de acordo com as informações oficiais, as primeiras vacinas podem começar a ser administradas a partir do fim do primeiro trimestre de 2021 (final de Março), através de um programa que está a ser desenhado com o apoio da Organização Mundial de Saúde.
Para a vacinação dos angolanos, Luanda conta com a integração do país no esforço global que está a ser feito através das agências da ONU - o UNICEF tem em preparação uma das maiores operações de logística de sempre, como o Novo Jornal conta aqui - e do mecanismo COVAX, que agrega um esforço global de facilitação da vacinação planetária, onde estão, entre outros, a GAVI, a Aliança Global de Vacinas, que conta com a participação da OMS, da Fundação Bill & Melinda Gates, do Unicef e de um conjunto alargado de entidades privadas...
De acordo com informações prestadas pela OMS, através do COVAX serão adquiridas 2 mil milhões de doses para abranger 92 países, incluindo Angola, sendo o objectivo final cobrir pelo menos 20 por cento da população africana - cerca de 220 milhões entre os 1,2 mil milhões de pessoas que habitam o continente -, numa primeira fase, sendo urgente conseguir os fundos para essa operação de larga escala.
Um dos passos que ainda está por dar é a definição das linhas prioritárias de vacinação, embora em cima da mesa, com maior probabilidade de aprovação, seja colocar em posição prioritária as populações em maior risco, desde logo o pessoal hospitalar, os mais velhos e com doenças associadas, forças de segurança, etc.
Para a vacinação de pelo menos 70% da população mundial - considerado o mínimo que garante a imunidade de grupo nas comunidades e isso pode ser extrapolado para o global -, está a ser considerada a maior operação logística desde a 2ª Guerra Mundial, envolvendo milhares de aviões, navios, camiões e outros veículos todo-o-terreno, de forma a fazer chegar aos quatro cantos do planeta as vacinas, mas também todo o material de protecção, as linhas de frio para armazenar as vacinas, e, nalguns locais, inclusive tendas para albergar as equipas responsáveis pela inoculação.