Onde situa a Educação em Angola, 46 anos depois da Independência?

O País veio de um período em que o direito à Educação era negado a uma grande parte da população. Em 1975, a taxa de escolarização era de 33%. A taxa de alfabetização era de 15%. A maior parte dos angolanos era analfabeta. Nestes 46 anos de Independência, o grande avanço é esta disponibilidade e vontade política de se proporcionar este direito à maior parte da população. A rede expandiu-se e a cobertura educativa aumentou bastante, pois, quando proclamámos a Independência, Angola tinha pouco menos de 600 mil alunos nos diferentes níveis de ensino. Hoje, já se fala de mais de 10 milhões. Portanto, o ganho para o sistema educativo é que se tenha conseguido proporcionar este direito a uma grande parte da população, com níveis de sucesso escolar muito altos a cada ano que passa.

Em resumo, é um balanço positivo...

Considerando o ponto de partida, sim.

De 0 a 10, que nota daria?

Estaríamos a 70%, já que há um grande esforço que deve ainda ser feito em termos de qualidade, o ponto em que ainda há um longo caminho a percorrer.

Como se pode dizer que estamos a 70% se, em termos de qualidade, que é um dos aspectos fundamentais na Educação, há ainda há um longo caminho a percorrer?

Não gostaria de fazer a avaliação desta forma. Gostaria de dizer que há um grande avanço em termos de assegurar o direito à escolarização e para que haja maior e melhor qualidade no sistema, com um percurso ainda por realizar. Por exemplo, a Reforma Educativa desenvolvida teve como foco quatro objectivos: expansão, equidade [de género], qualidade e pertinência das aprendizagens. Quando se fez o diagnóstico do Sistema Educativo, em 1985, de mil alunos que entravam na 1.ª classe, só saíam 143 na 8.ª classe. Hoje, de 1.500 alunos, mais de 500 terminam o ciclo de educação básica.

Que quer isso dizer?

Que a eficácia melhorou.

Não se deveria ter estabelecido hierarquia entre os quatro elementos que estiveram na base da Reforma Educativa, colocando, por exemplo, a qualidade no topo?

Não, não. A qualidade só existe porque há serviço educativo. Se não houvesse escolas e trabalho no domínio da paridade em termos de sexo, não iríamos falar da qualidade nem da pertinência.

Ainda no âmbito da Reforma Educativa, das debilidades identificadas, o que ainda não foi corrigido até agora?

Eu diria que a Reforma tocou em todos os aspectos, introduziu correcções. Se analisar o Relatório de Avaliação, verá que nos objectivos a alcançar houve melhorias.

A Reforma, portanto, cumpriu o seu papel....

Cumpriu, sim, naquilo que estava definido. Nas metas que deveriam ser alcançadas, considerando, por exemplo, uma qualidade plena durante o período da sua implementação (2004 a 2012), ainda há alguma debilidade que não podemos negar. Aliás, o relatório faz referência a isso, daí que, depois da avaliação, saiu um relatório sobre a medidas a tomar para corrigir as debilidades identificadas.

Admite que, na implementação da Reforma Educativo, o País tenha dado passos em falso?

Não diria isso. A Reforma foi implementada num contexto difícil do País...

Que se fizesse antes um estudo do contexto para se não estar hoje a culpá-lo, não?

Não estamos a culpar o contexto. Para a implementar uma reforma, é preciso que haja um conjunto de predisposições, mas nem todos estavam reunidos para o desenvolvimento do trabalho que estava previsto.

Em que estudo se baseou Angola para, por exemplo, no âmbito da Reforma Educativa, esticar o ensino primário para mais dois anos?

Não esticámos para mais dois anos.

Esticou-se. Saiu da 4.ª para 6.ª classe...

Sim, mas a estrutura do Sistema Educativo alterou-se. O Sistema Educativo tem objectivos a alcançar nos diferentes níveis de ensino. Quando fizemos o diagnóstico, em 1985, a conclusão a que chegámos é que o ensino era muito ambicioso.

O que quer dizer com isso?

Que estávamos a assegurar conteúdos num espaço de tempo muito reduzido. Também quer dizer que havia pressão em termos de injecção de conhecimentos junto dos alunos e não havia capacidade de podermos consolidar os conhecimentos.

"Isto não se pode ensinar em quatro anos. Vamos precisar de mais dois". Foi assim que se pensou?

É isso! Portanto, a estrutura do Sistema Educativo mudou. A escola primária que era de quatro classes passou a ser de seis.

Ainda só estamos a olhar para a lógica dos alunos. Se chamarmos os docentes à conversa, e eles próprios costumam dizê-lo publicamente, veremos que os professores não passaram por uma formação que os habilitasse a assegurar a mudança no sistema...

O que se tinha previsto é que os professores que estavam no sistema, com a nova estrutura do Sistema Educativo, deveriam ser informados e preparados para tal. Portanto, conhecimentos complementares, não conhecimentos de base, porque já os tinham.

(Leia este artigo na íntegra na edição semanal do Novo Jornal, nas bancas, ou através de assinatura digital, disponível aqui https://leitor.novavaga.co.ao e pagável no Multicaixa)