Qual é o ponto de situação da malária, sendo que a OMS diz que em Angola o fardo da doença ainda é muito elevado?

Angola, no cômputo mundial, tem contribuído com 4% daquilo que são os casos de acordo com o Relatório Mundial da OMS. Há ganhos no contexto regional, mas 95% dos casos de malária no mundo provêm da região africana. E em Angola, comparando os dados anuais de 2021 e 2022, houve um aumento na ordem de 41.886 casos, quando comparados os dois anos. Relativamente aos óbitos, o comportamento é diferente: em 2021, tivemos mais óbitos em relação a 2022, houve uma redução de 1.191 óbitos, comparando os dois anos.

As estatísticas indicam que, todos os anos, o País regista aumento de casos de malária, apesar do compromisso de erradicar a doença até 2030. Com essas cifras, é possível atingir a meta?

As estratégias estão a ser implementadas, o aumento do número de casos não está associado ao todo ao fracasso ou as limitações das componentes de prevenção. Há expansão de unidades sanitárias, e isso tem feito que a oferta ou o acesso da população a cuidados aumente. Havendo melhor cobertura, evidentemente que mais casos são captados. Há outra estratégia comunitária, através dos agentes comunitários, em que a malária é diagnosticada e testada na comunidade. Anteriormente, era uma estratégia que não existia, e muitos casos eram perdidos na comunidade e outros culminavam em óbito, mas, entretanto, já desde 2019, a informação proveniente da comunidade tem feito parte do nosso sistema de informação, logo a melhoria do próprio sistema de informação também nos permite ter informações com completude e prontitude.

Volto a reforçar a questão: é possível erradicar a doença até 2030?

Não na sua totalidade. Podemos falar de zonas livres de malária, porque, de acordo com a nossa taxa de positividade, temos províncias que têm prevalência de 0,1, estamos a falar da província do Cunene. Temos algumas províncias como o Namibe, particularmente no Tombwa, que, em função da localização geomorfológica, também tem uma taxa de positividade muito baixa, ou seja, a incidência da doença é muito baixa. Garantindo sustentabilidade das intervenções, sobretudo do ponto de vista de prevenção, podemos começar a falar de zonas livres de malária, começando por essa parcela do território.

Mas por que razão a não-erradicação? O que falta?

No meu entendimento, não falta nada, pois, mesmo os países que conseguiram erradicar, não o fizeram de uma forma homogénea por todo o País, porque o nível de transmissão é heterogénea, por isso é que existe a estratificação da doença, em função da sua transmissão. No País, temos zonas de alta e de baixa transmissão, evidentemente que, com a implementação das estratégias para falarmos da eliminação em todo o território, não pode ser homogénea, em virtude dos diferentes níveis de estratificação.

Há esforços para isso?

Estamos a trabalhar. As componentes operacionais estão a ser implementadas e as actividades estão a ser monitoradas. Neste momento, estamos a desenvolver a avaliação a meio percurso do nosso plano estratégico, para podermos ter evidências se, efectivamente, estamos a implementar bem ou mal e, caso estejamos a implementar mal, tomar medidas para que estejamos no caminho certo.

Neste momento, que avaliação fazem do Plano Estratégico Nacional de Controlo da Malária 2021-2025?

Ainda não temos o resultado. O grupo técnico está a trabalhar e, tão logo tenhamos o resultado, poderemos partilhá-lo.

Mas advinham-se resultados positivos?

Penso que sim. Há bem pouco tempo terminámos a primeira fase da campanha de distribuição de redes mosquiteiras, na qual conseguimos cobrir oito províncias. Essa é uma estratégia extremamente recomendada pela OMS e, quando garantirmos uma cobertura de 90%, vai impactar directamente sobre a redução de casos.

Dados atestam que, no País, crianças menores de 5 anos e mulheres grávidas são as mais afectadas pela malária. Que estratégias para a reversão do quadro?

Focalizada para as mulheres grávidas, temos duas estratégias do ponto de vista da prevenção. Uma que é a distribuição de redes mosquiteiras na consulta pré-natal e a outra é a administração de um médico para o tratamento intermitente preventivo todos os meses, a partir da 13.ª semana de gestação. Para crianças menores de cinco anos, recebem uma rede mosquiteira quando acorrem à vacinação.

Mas, esta realidade de que fala, da distribuição de redes mosquiteiras nas unidades sanitárias, não tem acontecido. Há alguma fiscalização?

Sim. Nós elaboramos ou fazemos exercícios de quantificação, em que se prevê qual será a necessidade para a distribuição de rotina e a distribuição em massa. Claro que, dentro desse processo de quantificação, existem alguns pressupostos que propiciam para que haja algumas rupturas pontuais.

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