Tendo já 18 anos quando se deu a Independência, o que perspectivava para Angola no sector da Saúde?
Exceptuando a insegurança determinada pela disputa entre si dos poderes em competição, esperava-se que a Independência não fosse apenas portadora de uma liberdade abstracta, mas de uma evolução qualitativa da vida particular dos cidadãos e em sociedade. Contrariando os nostálgicos, e para o início da entrevista, permitimo-nos apresentar as estatísticas relevantes dos capitais fixo, humano e financeiro dos Serviços de Saúde de Angola, em vésperas de expirar o domínio colonial. No final de 1972, exerciam, no território, apenas 230 médicos afectos aos Serviços de Saúde Civis e 239 aos Serviços de Saúde Militares (os números respectivos em 1970 haviam sido 248 e 96); existiam 1301 instituições sanitárias, estruturadas nos diferentes níveis de cobertura geográfica e complexidade assistencial, das quais quatro eram hospitais centrais, 12 regionais, três sub-regionais, 87 rurais, 157 delegacias de saúde, 340 postos sanitários, 12 maternidades, 618 dispensários rurais e 68 de outra tipologia. Em 1960, o Orçamento dos Serviços de saúde e Assistência foi de 109.275.854.00 e em 1973 de 665.075.319.00, correspondendo respectivamente a 3,7% e 5,6% dos Orçamentos Globais do Território nesses anos. Os medicamentos consumiram em 1962 e em 1973, respectivamente, 18,9% e 17,0% dos orçamentos de funcionamento dos Serviços de Saúde Civis. A população de Angola nos anos 1962, 1973, 1975, 2014 e a estimada em 2021 foi, respectivamente, de 5,61 milhões, 6,50 milhões, 7,02 milhões, 26,94 milhões e 33,93 milhões.
Estando o País em paz há 20 anos, ainda faz sentido associar as actuais debilidades da Saúde à guerra?
Os efeitos do conflito fratricida que tivemos continuarão a ser sistémicos e protraídos, mas constituem desafios que a acção dos Poderes Públicos e da Cidadania deve ir alijando de forma expedita; mas, de forma alguma, devem ser responsabilizados como sendo os únicos factores determinantes das adversidades a que a sociedade está exposta no domínio do funcionamento dos Serviços de Saúde.
Porquê?
Ainda existem desafios inerentes ao modelo organizacional do Estado, determinantes sociais de saúde desfavoráveis, bem como suprimento diversificado de recursos e modelo gestionário do Sistema de Saúde requerentes de adaptações condicentes com a realidade social, cultural e económica nacional.
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