Citado pela Radio Okapi, a emissora das Nações Unidas no Congo-KInshasa, o chefe do escritório da Comissão Nacional para os Refugiados (CNR) da República Democrática do Congo (RDC), Matthieu Mboma, descreve um cenário de saturação dos serviços locais devido ao enorme fluxo de pessoas, notado ainda que tem recebido notícias de grande sofrimento entre os "expulsos" de Angola no trajecto e na forma como estão a regressar ao seu país.

Sobre esta situação, segundo o site media congo.net, já se pronunciou o ministro dos Congoleses no Estrangeiro, Emmanuel Ilunga, que fez saber que o Governo da RDC já está em contacto com o Governo de Luanda para esclarecer a situação.

O governante garantiu ainda que vão ser tomadas medidas em breve mas deixou claro que para a RDC a prioridade são as soluções diplomáticas.

Este cenário resulta de uma larga operação levada a cabo pelas forças policiais angolanas, denominada "Operação Transparência", com especial incidência nas Lundas, Sul e Norte, e nos milhares de congoleses que ali se dedicam ao garimpo ilegal de diamantes e aos negócios adjacentes e em situação migratória irregular, abrangendo ainda o Kwanza Sul, Malanje, Uíge, Bié e Kuando Kubango, que já levou à saída de mais de 180 mil do território nacional.

A província congolesa do Kasai é aquela que está a receber a maior parte destas pessoas porque tem a sua extensa fronteira com a Lunda Norte e é por lá que o regresso, que as autoridades anglolanas garantem que decorre de forma voluntárias mas que a parte congolesa apelida de "expulsões", está a acontecer.

Para além da falta de capacidade para acolher os, segundo o Alto-Comissariado para os Refugiados da ONU (ACNUR), mais de 50 mil cidadãos que deixaram Angola, os serviços sanitários estão também a deparar-se com problemas de saúde, especialmente com origem no consumo de água imprópria.

Matthieu Mboma, do CNR de Kamako, localidade fronteiriça, diz mesmo que ali a vida ficou "verdadeiramente insuportável" devido a sobrepopulação criada pela chegada abrupta de dezenas de milhar de pessoas "expulsas" de Angola, receando-se que em breve vão surgir múltiplas doenças, como a cólera, porque, sublinha, citado pela imprensa congolesa, "as pessoas vivem amontoadas e começa a faltar tudo".

Saídas voluntárias, dizem as autoridades angolanas

Por detrás desta pequena crise humanitária nesta província congolesa, que as autoridades locais temem que possa vir a adquirir dimensões mais complexas, está a "Operação Transparência", a decorrer há semanas e que vai continuar activa ao longo dos próximos meses.

De acordo com o comissário António Bernardo, porta-voz da "Operação Transparência", a maioria dos cidadãos estava envolvida na prática de garimpo de diamantes na Lunda Norte.

"Do saldo final, ou seja, até hoje, temos um número de 180.802 cidadãos, todos da República Democrática do Congo, que abandonaram livremente o nosso país e que se encontravam nos vários pontos, quer na Lunda Norte, quer nas demais localidades do país", transmitiu.

António Bernardo afirmou que "ficou comprovado" que é na Lunda Norte que "existe o maior fluxo de actividade ilícita de exploração e tráfico de diamantes e, concomitantemente, o maior número de estrangeiros ilegais".

A "Operação Transparência", que decorre há 15 dias e visa pôr fim ao garimpo ilegal de diamantes nas províncias de Malanje, Lunda- Norte, Lunda-Sul, Bié, Moxico e Uíge, está a ser desenvolvida por efectivos da Polícia Nacional (PN) e das Forças Armadas Angolanas (FAA).

A operação tem ainda como objectivo o combate à imigração ilegal e está programada para se concretizar, de forma faseada, até 2020.