A cerimónia estava agendada para o dia 06, mas à última da hora a organização da 18.ª Reunião do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da Humanidade decidiu antecipar para esta terça-feira, 5, a elevação desta arte milenar de Angola a Património Cultural Imaterial da Humanidade.

A candidatura desta importante riqueza do conhecimento ancestral, transmitida de geração em geração, a património cultural imaterial mundial, foi apresentada por Angola em Abril último e aceite pelo UNESCO no mês de Julho.

"A organização alterou a agenda. O anúncio oficial da inscrição dos Sona, desenhos e figuras geométricas na areia, como património cultural imaterial da humanidade será feito hoje à noite, entre as 19:00 e as 21:00", contou ao Novo Jornal uma fonte da delegação angolana, do Ministério da Cultura, que está no Botswana.

Os "Sona" será o primeiro património cultural imaterial da humanidade inscrito por Angola e o segundo património cultural do mundo relacionado com matemática, visto que o primeiro e único até hoje foi inscrito pela China.

O coordenador científico e gestor do projecto, Jorge Veloso, professor da Universidade Lueji A"NKonde (ULAN), reconheceu ao Novo Jornal que o mérito angolano é da ULAN.

Jorge Dias Veloso realçou à imprensa, em Luanda, que o período de consulta decorreu até Novembro, altura em que o Comité da Salvaguarda do Património Imaterial deliberou sobre as 45 candidaturas aceites, entre elas a de Angola.

Os Sona são escritos matemáticos que estão na base de várias publicações em livros e artigos científicos de investigadores de todo o mundo. O Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente, após acolher as recomendações dos membros participantes na primeira Conferência Internacional Sobre Educação Matemática em Angola, realizada em 2019 na província da Lunda-Norte, elevou-a a património, em 2021.

Carlos Yoba, o então reitor da Universidade Lueji A' Nkonde, disse ao Novo Jornal que a universidade, num esforço conjunto com o governo da Lunda-Norte, conseguiu junto do Ministério da Cultura elevar o Sona a património cultural.

"Os Sona são conjuntos de figuras geométricas que as populações, fundamentalmente da zona do leste de Angola, fazem recurso para as suas comunicações no âmbito cultural e social. Serve, no campo da matemática, para ajudar os estudantes a fazer cálculos a todos os níveis. No processo de aprendizagem são jogos matemáticos que os mais velhos utilizam na região para transmitir conhecimentos e experiência. Daí o seu impacto no processo da aprendizagem", explicou o académico.

O estudo dos Sona, segundo vários investigadores científicos, transcende as fronteiras nacionais e esta escrita é investigada por especialistas africanos, europeus e americanos que entram directamente em contacto com os povos tchokwe.

Os Sona eram usados para comunicação dos ancestrais da Lunda-Norte, em forma de gravuras em paredes de casas, árvores e na areia das aldeias para serem decifrados pelos demais membros da comunidade.

De difícil decifração, as gravuras encontram-se actualmente no Museu do Dundo e em livros que retratam a culturas bantu, mas já foram retratadas na longa-metragem "Os deuses da água", numa co-produção entre a Argentina e Angola, em 2013.

Sona (plural de lusona), termo que serve para designar a escrita em geral (letras, figuras e desenhos), são a combinação de pontos e traços feitos na areia. Trata-se de uma cultura dos Cokwe e de povos relacionados como os Luchazi e Ngangela, que vivem no leste de Angola e em zonas vizinhas, na Zâmbia e na República Democrática do Congo. Os sona são uma forma de manifestação cultural com grande valor para a Matemática.

Jorge Dias Veloso, o promotor da primeira Conferência Internacional Sobre Educação Matemática em Angola, disse ao Novo Jornal, em 2021, que o conhecimento dos Sona tem passado de geração em geração pela via oral, o que tem contribuído para a redução significativa dos conhecedores desta arte.